Quando o casal Alexio Angelo Martelli e Elisabetta Da Ré construiu sua casa em Linha Viena, em 1910, não imaginava que mais de cem anos depois o local se tornaria sinônimo de preservação histórica e arquitetônica.
A “Casa Martelli” é uma construção de característica italiana que, por sua contribuição à história da imigração local e pelas possibilidades que ainda poderia oferecer, passa pelo restauro iniciado em julho de 2022, que promete devolver funcionalidade ao espaço, sem perder as características iniciais.
Depois de meio ano de obra, grande parte do cronograma de restauração já foi atendido. A primeira etapa, que consistiu na limpeza do imóvel, lixamento e escovação das madeiras, das antigas aberturas, do alinhamento da estrutura e do piso e na substituição de algumas tábuas e de parte do telhado, está finalizada. “Removemos a madeira danificada nas paredes e substituímos por tábuas do mesmo tipo e espessura, assim como o telhado em aluzinco”, explica Ismael Rosset, arquiteto responsável pelo acompanhamento técnico local da obra.
Mais recentemente foram feitos testes de cor para que o corpo da casa volte a ter a tonalidade rosada original e suas aberturas em vermelho. Marcello Carvalho Ferraz, arquiteto da Brasil Arquitetura, escritório de São Paulo responsável pelo projeto de restauro, esteve em visita técnica durante o mês de janeiro e falou sobre a pintura. “O projeto visa o que será a casa, não o que já foi. É a liberdade das novas propostas. Mas como o tom rosado é algo que se quer respeitar, será mantido. O contraste da cor rosa com o verde da natureza é uma decisão de projeto que dialoga com o passado”, analisa.
Na rota do turismo
Melhorias no porão serão executadas para permitir a instalação de um restaurante com capacidade para 50 pessoas. Os oito quartos disponíveis na casa abrem oportunidade para criação de hospedagens, o que deve ser compartilhado com o público como uma “experiência no passado”. A primeira etapa tem previsão de conclusão prevista ainda esse ano. O local prevê ainda um novo espaço expositivo e de aprendizagem, que abrigará o “Memorial do Leite”, em referência a uma das principais atividades econômicas de Anta Gorda.
Antes mesmo de ser aberto ao público, Casa Martelli e Memorial do Leite já integram o “Caminho dos Moinhos”, rota turística, cultural, histórica, rural e gastronômica que também contempla os municípios de Arvorezinha, Doutor Ricardo, Ilópolis, Itapuca e Putinga. Todo o processo é coordenado pela Associação Amigos dos Moinhos, entidade que promove a preservação da memória da Região Alto Taquari, e que também é proponente do projeto de preservação do patrimônio cultural.
Início da história em 1910
O casal Martelli saiu de Faria Lemos, em Bento Gonçalves, per- correndo quilômetros ao longo de dias até chegar a Anta Gorda, onde construiu a primeira moradia em meio à mata antes de edificar o casarão. Isso é o que mostra o levantamento técnico feito pelo Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (Emau) da Univates, desenvolvido em parceria com a Administração Municipal de Anta Gorda e AAMoinhos.
A casa foi construída com materiais de alta resistência, como madeira de canjerana e tijolos de barro. Alicerçada por pedras talhadas cuidadosamente sobrepostas, a construção tem 9,74 metros de altura e 334 metros quadrados de área. O restauro da construção é viabilizado pelo patrocínio de Diamaju Agrícola, Agraz Refrigeração e Agrodalla, e tem o financiamento do Pró-Cultura, programa de incentivo à cultura.