Carnaval no Vale: décadas de história

Opinião

Raica Franz Weiss

Raica Franz Weiss

Carnaval no Vale: décadas de história

Uma das principais comemorações do Brasil também tem festa aqui na região. Os icônicos desfiles de Carnaval começaram no século passado no Vale do Taquari e alguns existem ainda hoje. As mais tradicionais folias iniciaram em Taquari, Lajeado e Bom Retiro do Sul.

Estrela também foi palco de muitas comemorações. A foto mostra um bloco de Carnaval em 1927, em frente à Praça Menna Barreto. Acervo Memorial Theatro São João

Uma antiga rivalidade

No início do século XX, era o antigo Clube Renascença que sediava as festas de Carnaval de Taquari. Eram três noites de baile, em que toda a comunidade participava. Foi no ano de 1927 que um grupo de jovens moças se uniu para elaborar fantasias para as noites de folia. Com trajes em branco e preto, essas jovens adentraram o salão e deram origem ao primeiro bloco de Carnaval de Taquari, o Alvinegro.

Quem conta essa história é dona Flávia Saraiva Dias, de 91 anos. Ela não era nascida na época, mas o relato foi passado a ela pelos pais. Flávia conta que as moças que não haviam sido convidadas para integrar o bloco Alvinegro ficaram chateadas. Assim, no ano seguinte, foi organizado um segundo grupo, o bloco das Margaridas, trajadas de verde, branco e amarelo.

No Carnaval de 1928, quando os dois grupos de moças se encontraram no salão do Renascença, houve briga. A partir dali, a tradicional festa de Taquari foi dividida. O bloco Alvinegro passou a organizar a folia de Carnaval em um hotel da cidade, o que depois deu origem ao Grêmio Recreativo Alvinegro, que existe até hoje, enquanto as Margaridas permaneceram no Clube Renascença.

Nos anos seguintes, a rivalidade entre os blocos continuou. Os arrastões movimentavam as ruas da cidade e findavam nas festas dos clubes. Cada bloco ostentava trajes com suas cores. Naquela época, era escolhida a Rainha do Carnaval, que tinha até mesmo um trono.

As fantasias, conta Flávia, imitavam rainhas e princesas da Europa, celebridades da época. O último ano das Margaridas foi em 1966. A partir da década de 1970, os blocos deram lugar às escolas de samba de Taquari, como os Batutas da Orgia e os Irmãos da Opa.

Integrantes do bloco Alvinegro, trajados com suas tradicionais fantasias em branco e preto. Acervo Memorial Theatro São João

Os tempos áureos

Lajeado chegou a sediar o terceiro Carnaval mais importante do Rio Grande do Sul, atrás somente de Porto Alegre e Uruguaiana. O auge foi durante as décadas de 1970 e 1980. Mas a história do Carnaval da cidade começou em 1957, com a criação da escola de samba Maracangalha.

O tradicional Bloco de Palhaços, que desfila ainda hoje pela região, surgiu em 1971. Outras escolas, como a Cascata e a Soreba, foram criadas em 1976. Naquele tempo, as escolas de samba desfilavam na rua Júlio de Castilhos. Pessoas de todo o Vale vinham acompanhar os desfiles. Os carros alegóricos e as fantasias eram luxuosas, com peças vindas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Alguns desfiles chegaram a movimentar em torno de meio milhão de reais. O último grande Carnaval de Lajeado foi em 1986. Os desfiles foram retomados na década de 1990, mas nunca voltaram à glória de outrora.

A tradição continua

Foi no final de 1982 que um grupo de amigos mudou o Carnaval de Bom Retiro do Sul para sempre. Inspirados pelos desfiles de Taquari e Lajeado, criaram um pequeno bloco de foliões que, algum tempo depois, deu origem à icônica Inhandava, a primeira e única escola de samba da cidade.

Com 40 anos de história, a Inhandava ainda reúne em torno de 200 pessoas para abrilhantar o Carnaval em Bom Retiro do Sul. No auge da escola, por volta da década de 1990, eram mais de 300 pessoas envolvidas.

No início, os trajes eram todos bordados. Hoje, a escola preserva o legado dos Carnavais da região e, conforme a organização, trabalha para retomar os tempos áureos das festas e reunir as antigas escolas.

Do bloco das Margaridas, a Rainha do Clube Renascença, Marlene Alvim, em 1952. Acervo Memorial Theatro São João

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