Famílias com menos filhos e cidadãos com mais expectativa de vida. Dois aspectos centrais que ajudam a entender o fim do bônus demográfico. De 1960 até os anos 2000, houve um crescimento populacional em toda a nação.
Em 1950, o país tinha pouco mais de 50 milhões de habitantes. Em 2022 pulou para 215 milhões. O pico, conforme o Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE), será em 2047, quando atingirá 231 milhões. Depois disso, tende a decrescer. Pelos dados preliminares do Censo 2022/23, há uma tendência de que esse movimento será antecipado em no mínimo cinco anos. Para o Rio Grande do Sul, a expectativa é que a população máxima seja alcançada em 2035, com 11,7 milhões de habitantes. Depois disso, começará a cair.
O Vale do Taquari acompanhará esse movimento, acredita o doutor em Administração, especialista em estatística, Samuel Martim de Conto. “Já verificamos queda populacional nas cidades de menor porte. Daqui a uns dez anos, municípios maiores, como Lajeado, Arroio do Meio, Teutônia, também vão passar por isso.”
O coordenador do Censo na região, Paulo Ricardo Hamester, reforça essa análise. “No Vale do Taquari verificamos um envelhecimento acelerado da população, com decréscimo populacional nas cidades de perfil agrícola”, diz. De acordo com ele, a atualização da pesquisa demográfica tende a confirmar algo projetado faz mais tempo. “O Censo vai mostrar que a média de filhos nascidos nas famílias está chegando em um ponto de estagnação”. O relatório final do estudo está previsto para ser apresentado entre abril e maio.
Desafio no trabalho e na formação
Em um futuro com menos pessoas em idade ativa e mais aposentados, tanto os segmentos produtivos quanto as gestões públicas enfrentam cenários complexos. “Teremos uma exigência para sermos mais produtivos. Ao mesmo tempo, as empresas terão uma necessidade de investir em tecnologia para manter as linhas em operação”, avalia Samuel de Conto.
Doutor em Ciências, Ambiente e Desenvolvimento e também presidente da Câmara da Indústria e Comércio do Vale (CIC-VT), Ivandro Rosa, reforça a importância de se começar agora a traçar estratégias para esse futuro. Na avaliação dele, o essencial está na preparação dos trabalhadores. “Aquela lógica de que as novas gerações chegam e substituem as outras não existe mais. Fica claro que no futuro, mesmo aquele trabalhador com seus 30, 40 ou 50 anos, precisará ser requalificado, pois ele tera um ciclo laboral maior.”
Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que de 1980 em diante, o Produto Interno Bruto (PIB) do país crescia cerca de 0,4% só com a entrada dos jovens no mercado de trabalho. Esse bônus demográfico encerrou entre 2018 e 2021. “Até aqui falávamos do país jovem, do Brasil do futuro. Em função desses indicativos, não podemos mais contar só com a nova geração para dar sequência ao desenvolvimento econômico”, resume Rosa.
Escola para jovens e adultos
O superintendente do Serviço Social da Indústria no Estado (Sesi-RS), Juliano Colombo, defende mais proximidade entre educação e o mundo do trabalho. A unidade gaúcha iniciou os estudos para criação de um novo método de ensino para aliar teoria e prática em 2013.
A experiência começou no ano seguinte, em Pelotas. De acordo com Colombo, o intuito é transferir esse formato como alternativa também à rede pública. “Queremos tornar a educação atrativa para o aluno ver que é bom aprender. Não quer dizer que seja a correta, a melhor, mas é um jeito diferente.”
As escolas do Sesi oferecem aulas em turno integral para o Ensino Médio. Uma delas será construída em Lajeado neste ano. Para além dessa oferta, Colombo aponta para a necessidade de um esforço para também requalificar os adultos. “Temos de reeducar quem já está trabalhando. Pois são gerações analógicas em um mundo cada vez mais digital”.
Pelo acompanhamento estatístico do Sesi na indústria, 40% da mão de obra nas fábricas hoje não concluíram nem mesmo o Ensino Médio. Esse total representa 300 mil adultos trabalhadores. Pelas previsões populacionais do Departamento de Economia e Estatística (DEE), do governo do Estado, até 2040, serão em torno de 700 mil jovens de 15 a 19 anos e mais de 3 milhões acima dos 60 anos. “A geração que vai chegar não será suficiente para substituir trabalhadores em vias de se aposentar.”
População cresce 10,8% em 12 anos
Na prévia do Censo, o Vale do Taquari teve um acréscimo populacional de 10,8% em mais de uma década. Lajeado teve o avanço mais expressivo, com 36% de novos habitantes. Alto grau de empregabilidade, força dos serviços, da indústria e do comércio, associado às possibilidades de formação, atraíram mais de 26 mil pessoas. Uma média acima das 2,1 mil novos moradores a cada 12 meses. Conforme os dados, Lajeado está perto de alcançar 100 mil de população.
Quando se avalia as 38 cidades da região, o avanço populacional mostra desaceleração. Deste total, 18 registraram crescimento. As 20 demais perderam habitantes. Conforme a economista Cintia Agostini, é preciso avaliar que os municípios com bônus demográficos necessariamente não tiveram mais nascimentos. “Muito desse resultado é devido a migração interna, tanto entre cidades locais, quanto de outras regiões. Junto com isso, cidades como Lajeado e Teutônia, por exemplo, também viraram destino para pessoas de outros países.”
De acordo com ela, esses movimentos inclusive representam um avanço regional acima da média do RS. O crescimento populacional gaúcho entre 2015 e 2021 foi de 1,4%. “O Vale do Taquari mais do que triplicou neste mesmo período. Tudo devido a dinâmica de atrair novos moradores.”