Depois de dois meses de férias em casa com os pais, na segunda-feira, 13, as irmãs Gabriela Taís Schneider, 12, e Natália Luísa Schneider, 8, voltam à escola. Estudantes do 7º e 3º ano do Ensino Fundamental, as moradoras de Cruzeiro do Sul aguardam ansiosas pelo início do ano letivo.
Mas, por outro lado, assim como grande parte das crianças que retornam à escola nesta semana, enfrentam uma mudança. Os momentos acordadas até tarde da noite deram espaço a uma rotina de sono mais regrada, com horário para dormir e acordar. Durante a tarde, as duas passam a ficar sozinhas e os banhos de piscina são intercalados com o dever de casa.
Além disso, Gabriela e Natália também fazem aulas de desenho no sábado de manhã. “No início elas ficam mais cansadas e leva um tempo para se acostumarem com a rotina. Mas elas gostam”, conta a mãe, Janice Andreia Fischer, 46.
A contadora começa em um novo emprego também na segunda-feira, e diz ser a primeira vez que as filhas ficam sozinhas em casa durante a tarde. “Antes tinha pandemia e meu marido trabalhava em casa. Depois eu fiquei em casa. Agora são só as duas. Vamos ver como vai ser a experiência”, destaca Janice.
Período de adaptação
Seja a volta às aulas ou o primeiro dia na escola, o período, em geral, significa uma mudança não só de rotina, mas da convivência familiar, quando as crianças deixam de estar a maior parte do dia em um ciclo de pessoas que transmite aconchego e segurança.
Por isso, o retorno ao colégio pode provocar nos alunos sentimentos como medo, insegurança e receio. Além disso, na Educação Infantil, as crianças também passam pela adaptação do ambiente e convivência com colegas e professores. “Essa adaptação é um processo gradual em que cada uma precisa de um período de tempo diferente. É importante respeitar o ritmo da própria criança”, destaca a psicopedagoga e coordenadora pedagógica, Fabiele Lermen Spohr.
A profissional explica que, com o passar dos dias ou semanas, o aluno começa a se sentir familiarizado e seguro no ambiente escolar. “Na educação básica, os estudantes têm curiosidade em saber quem será sua professora, se haverá colegas novos, como será a sala de aula e os assuntos. Existe uma alegria em retornar às aulas mas, ao mesmo tempo, uma certa ansiedade de como será o novo ano”, ressalta.
Incentivo em casa
A psicóloga destaca que os primeiros dias de aula são importantes na vida de uma criança, por ser os primeiros passos de uma independência em relação aos pais. Por isso, este deve ser um momento feliz. Para que a vontade de estudar permaneça na rotina da criança mesmo depois dos primeiros dias, Fabiele sugere criar, dentro de casa, um espaço próprio para o aluno.
“Coloque os materiais que a criança mais gosta de utilizar, transforme aquele pequeno espaço em algo lúdico e motivador. Assim, além de querer utilizar o espaço, a criança também vai perceber que os pais se preocupam e valorizam o ato de estudar”.
Escolas preparadas
Em todas as idades, é importante explicar que a escola é um lugar legal e seguro, onde a criança irá brincar, aprender e encontrar amigos. Neste momento, a instituição também precisa estar preparada para acolher as crianças.
Professora do 2º ano do Ensino Fundamental do Colégio Cenecista João Batista de Mello (Mellinho), Vanessa Majolo Haas conta que os educadores também ficam nervosos com o retorno e, a cada início de ano letivo, ela sente um “frio na barriga” para conhecer as novas crianças que farão parte da turma.
“É lindo ver a alegria dos reencontros com os amigos e o acolhimento dos novos colegas. A escola ganha vida novamente”, destaca. Para receber os alunos, a professora diz preparar o ambiente com fitas e luzes coloridas, preparar uma história que acolha os alunos e fazer brincadeiras de integração para tornar o momento especial.
Também no colégio, uma atividade é organizada por algumas professoras da Educação Infantil, o Kit de Volta às aulas, com ítens que, de forma lúdica, se tornam importantes aos alunos durante o ano. Entre eles, um elástico-lingueta, representando o círculo de amizade, que pode ser grande ou pequeno conforme a capacidade dos alunos de se relacionarem com os colegas.
Outro objeto é uma fita dourada que simboliza a família e os amigos. O clips é para juntar os ensinamentos e momentos legais. A borracha serve para apagar qualquer mal que surgir. Por fim, o kit também contém um doce, para que o convívio em sala de aula possa começar bem.
Primeiro dia na primeira série
Também professora, Daiane Reis, 39, esteve do outro lado da sala de aula este ano, para levar a filha ao primeiro dia de aula na primeira série. Laura, de seis anos, deixa a caminhada da Educação Infantil para enfrentar o Ensino Fundamental, que iniciou na quinta-feira, 9.
“Ela estava super ansiosa, não dormiu direito, mas sentia alegria ao mesmo tempo”, conta Daiane. Muitas conversas sobre como seria a nova rotina fizeram parte da preparação para que o novo momento fosse encarado com tranquilidade. Ao chegar na escola, Laura correu para abraçar a professora e manusear os novos materiais. A ansiedade deu lugar à felicidade das novas descobertas.
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“Os pais precisam passar confiança para a criança”
Como as emoções dos pais ou responsáveis influenciam nas atitudes das crianças nessa volta às aulas?
Toda emoção dos pais influencia nas emoções das crianças. Não só no retorno às aulas. Mas, geralmente, as crianças se sentem mais ansiosas no retorno nessa época, para voltar a ver os colegas, retomar à rotina. Claro que, dependendo da faixa etária, muda a novidade do período, e às vezes os pais se sentem ansiosos, preocupados em como os filhos se sentem.
Tem alguns pais que têm um pouco mais de insegurança e isso passa para as crianças. É muito comum a ansiedade da separação na volta às aulas. Isso a gente fala de crianças menores, até os sete ou oito anos que não tem uma rotina estabelecida de escola. Então eles também acabam sentindo essa ansiedade, essa preocupação.
Quando a criança demonstra desconforto ou resiste a ir à escola, como os pais ou responsáveis podem resolver esse problema?
Quando o desconforto é maior, tem a questão da ansiedade da separação. Esse tratamento, ou o que tem que abordar nesse caso, é a relação dos dois. Os pais precisam passar confiança para a criança. “Olha, meu filho, o pai vai te deixar na escola. Tal hora eu venho te buscar. Nesse período você fica com os colegas”. Ir estabelecendo a rotina. Às vezes desenhar em um quadro ou papéis cada passo da rotina. Estabelecer e mostrar, às vezes visualmente, ajuda bastante.
Quais os principais aprendizados das crianças no período de adaptação ou readaptação ao ambiente escolar?
Acredito que seja mesmo o estabelecimento de uma nova rotina e novas relações. Porque além da rotina, tem as questões de convivência, a relação com os colegas, professores, o respeito que precisa ter. Toda a organização com os pais e com a escola.