Na minha cabeça, parecia uma cena de filme. Uma mochila cor de rosa do Bob Esponja. O cabelo dividido em duas trancinhas. O uniforme que eu via há tanto tempo e sonhava em usar também. Caderno, lápis de cor, canetinhas, tudo novinho. De mãos dadas com minha mãe, caminhei até a sala do “pré”, hoje primeiro ano. Lá, a professora Neide e um mundo completamente novo me esperavam.
Esse mundo evoluiu a cada ano e é nele que vivo até hoje. Desde os seis anos, toda minha vida é ordenada pelo calendário dos estudos. Nesta semana, vivo a alegria do primeiro dia de aula mais uma vez. Mas, agora, adicionada a um sentimento inédito. É meu último primeiro dia de aula – pelo menos na graduação, que chegou colada ao fim do Ensino Médio.
Por pensar demais sobre o assunto, acabo percebendo que, no fim das contas, mesmo depois que deixamos a escola, a vida adulta segue com marcas dessa época, tipo quando tiramos um adesivo de um vidro, mas ficam os resquícios de cola. Todos esses primeiros dias, então, podem se repetir sempre, mas são sempre importantes e por isso ficam marcados. Até o último primeiro dia.
Nesses momentos em que as descobertas são volumosas, tudo merece atenção e nada pode passar despercebido. A importância dada às minúcias dos cadernos, dos lápis, das pessoas em volta, nos marcam profundamente, porque cada novidade esconde uma possibilidade. Mesmo na faculdade, quando já temos ideia do que nos espera no próximo semestre, ainda se mantém o mistério que sustenta a graça do aprendizado.
Descortinar um novo mundo há cada ano pode ser uma das grandes alegrias da infância. Todo ano, uma noite de sono atrapalhada pela ansiedade de uma nova primeira vez. O que será necessário para manter a beleza dos descortinamentos? Espero que até o início do ano que vem eu já saiba.