Entre planetas  e paletas

Opinião

Carlos Martini

Carlos Martini

Colunista

Entre planetas e paletas

Como dizia minha avó: quem tá vivo sempre aparece, mais cedo ou mais tarde. Falo isso em função de planetas e paletas atlânticas, onde muitos conterrâneos se reencontram mesmo sem querer.

Belos eventos. E agora volta também a tradicional Cavalgada do Mar, de Torres a Palmares do Sul, mais especificamente do Mampituba até Dunas Altas. E lá se vão, lá se vão os cavaleiros…coisa linda ver.

E não se preocupem com as eventuais “lembrancinhas” que algum cavalo deixar na areia da praia, as respectivas prefeituras recolhem no final da passagem. E o que sobrar é adubo pras plantas e alimento pras tatuíras. Mal não faz.


CHÃO GRILÁ

Pois lá pelas tantas da vida a gente se mete em cada entrevero que dá gosto de ver, até meio que sem querer querendo, como dizia o Chaves.
Dia desses fui consultado pelos tais canais competentes pra dar um parecer sobre um novo plano diretor de um determinado município da costa norte do estado. Foi através de um velho amigo de juventude, um pioneiro daquelas bandas nos idos da década de 70 que até hoje vive por lá e conhece aquele chão como a palma da mão.

Eu tinha dado apenas uns dois ou três pitacos num blog que discutia o assunto, lembrando um pouco da história, da realidade física e geoeconômica local, da demografia fixa e de veranistas, das diferentes ¨visões de futuro¨ de determinados grupos de pressão e de interesses. Só coisinhas miúdas, bem menos importante do que acompanhar um BBB e votar qual o próximo que vai pro paredão.

A história em primeiro lugar. Como e porque se criou o aldeamento inicial, como e porque cresceu (e até retrocedeu temporariamente), qual a configuração territorial original e a atual ocupação territorial, perfil da população fixa e variável, expectativas futuras de cada segmento da sociedade, perspectivas de manter e atrair investimentos internos e eternos, como preservar interesses imobiliários já consolidados…e por aí a fora. Nada de importante.

No caso em questão, os aldeamentos iniciais eram de “índios” Caiçaras, depois virou uma sesmaria concedida pelo então império, BEM mais tarde se criou um balneário meio chique à época, depois se emancipou.

E é a partir dessa realidade que temos de encarar a parada, aí já engatamos a segunda marcha e vamos pra realidade geográfica: o território é de uns 90 km2, dos quais 50% são lagoas, 35% é área urbana ocupada e 15% ainda é área ¨rural¨. São 18 km de litoral, portanto não tem mais do que cinco ou seis km de largura. Uma “tripinha” na real, que ou bate no mar ou em alguma lagoa.

Nos 15% remanescentes de “área rural” já estão projetados vários condomínios fechados e não vai durar cinco anos prá estar totalmente ocupada. Depois disso vai sobrar o que?

Vamos a demografia: a cidade tem uns 15 mil residentes fixos (votantes), que obviamente com seus interesses permanentes querem que a cidade cresça. Mas também tem outros 15 mil (não votantes) que vão pra lá nos veraneios, que obviamente com seus interesses temporários não querem que a cidade cresça e não se “verticalize”.

No aspecto econômico: indústria e produção rural tem pouco, as “âncoras” estão no comércio e serviços, e aí centrados na construção civil, no “turismo” sazonal e no consumo diário de famílias estabelecidas. Na praia em questão, o plano diretor já permite construções de até 7 andares, embora nenhum tenha sido construído até hoje. Agora vai aumentar para 14 andares (55 metros de altura), mas em terrenos grandes e nas chamadas áreas especiais.

No caso específico do momento: dois locais que já sediaram importantes empreendimentos em tempos idos que agora são águas passadas que não movem mais nenhum moinho, um antigo hotel e uma antiga colônia de férias. E em determinados trechos à oeste da principal via comercial e de circulação local.

Quem sou eu prá ensinar padre a rezar missa, ainda mais em “paróquia” alheia, mas na minha modesta avaliação o plano preserva o passado e não ameaça o futuro. E moinhos são feitos pra rodar, quem fica parado é poste.


Entre o ideal e o Indeal

Olhando assim, meio de longe, dá a impressão que se criou uma nova pirâmide financeira por aí. Não vou entrar em detalhes, até pra não complicar a minha vida, mas convenhamos: como alguém pode garantir conceder e outros imaginarem esperar retornos de 7, 10 e até 15% ao mês em aplicações financeiras, sem nenhum risco? Ué, criaram um novo paraíso terrestre e somente esses foram os escolhidos?

Até entendo a fascinação pelo chamado ¨dinheiro fácil¨, geralmente oriundo de algum ¨capital fumaça¨. Quem não sonha em ficar rico da noite para o dia sem esforço nenhum, só fazendo uma ¨fézinha¨ de cinco pilas na loteca? A mega-sena não teria nem um centavo de aposta e nem no jogo do bicho se jogaria ¨na cabeça¨, no máximo um ¨invertido do primeiro ao quinto¨.

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