Os aliens expostos na margem da RS-287, em Tabaí, nunca ficam sem dono. No km 32 da rodovia, os artesãos da Capelas Vedovatto não conseguem deixar um extraterrestre sequer livre para pronta entrega. Às vezes, as curiosas figuras deixam a região e partem para uma longa viagem. Na terça-feira, 7, por exemplo, o grupo de cinco profissionais trabalhava na entrega de 170 unidades que tinham o Uruguai como destino.
Dono do negócio, Gean Cesar Vedovatto conta que nos 10 anos em que trabalha com capelas e vasos, nunca viu uma peça se tornar tão popular quantos os extraterrestres de concreto e ferro. A fábrica não produzia para consumidor final, apenas para as tendas da RS ou da BR-386. De repente, Gean e a esposa Juliane começaram a receber fotos dos extraterrestres com pedidos de fabricação.
Primeiro, o casal resolveu comprar uma única forma para fabricação dos ETs. “Era um teste. Pensamos que não ia dar em nada, então não quis comprar muitos”, lembra. Duas semanas depois, foram compradas mais cinco formas. Em 15 dias, a produção já tinha duplicado e os aliens começaram a ser feitos em tamanhos e cores variadas. “Hoje as capelas estão paradas. Estamos focados nos ETs”, brinca Juliane. Até agora, já foram mais de 2 mil peças vendidas.
A origem da brincadeira
Gean conta que a febre dos ETs começou com os caminhoneiros, que viajavam com os pequenos seres expostos nos parabrisas. Quem confirma a tese é o primo de Frederico Westphalen, Bruno Hoffmeister, caminhoneiro e proprietário da empresa Solar dos Vasos. “Estou em grupos de caminhoneiros, essa é a febre do momento. Mas faz tempo já que surgiu essa moda”, conta Hoffmeister.
Quando os extraterrestres ganharam versões em concreto, a peça ficou mais barata e se popularizou. Na internet, é possível encontrar bonecos de fibra por até R$ 600. Nas tendas de beira de estrada, o maior dos aliens não ultrapassa R$ 300. Foi isso o que aumentou o volume de vendas e fez com que Renato, irmão de Gean, passasse a integrar a equipe. Ainda em setembro, o vizinho Everton Braga começou a ser chamado em dias de encomendas muito volumosas. E o “boom” de vendas ainda estava por vir.
Mistério no céu, moda na terra
Por cinco noites do mês de novembro, luzes misteriosas apareceram no céu de Porto Alegre. Além da população, pilotos de aviões que pousavam no Aeroporto Salgado Filho contaram à Central de Tráfego sobre as luzes que acendiam, apagavam e se movimentavam pelo céu. Especialistas explicam que as aparições foram causadas por satélites em órbita baixa.
Na internet, teorias da conspiração ganharam força. Nas ruas, os aliens roubaram, primeiro, o espaço dos anões de jardim. Depois, foram para janelas, varandas e até mesmo recepções de lojas e restaurantes. Aos poucos, até mesmo quem não simpatizasse com os extraterrestres de início entrou na moda.
Tendência de todas as idades
Quem saiu da região em direção à praia não teve como passar ileso pelo aliens. “Vimos nas tendas um monte desses bichinhos. Inicialmente a gente falou ‘ah, que coisa feia, eu não botaria na minha casa’. E daí foi passando o tempo e começamos a ver fotos nas redes sociais. Aí aquele negócio que era feio passou a ser engraçado”, conta o dentista Estevan Kerbes.
Dias depois, quando a mãe de Kerbes voltou do litoral, trouxe um extraterrestre na bagagem. Proprietário da Cabana Bela da Montanha, no Morro Gaúcho, o dentista aproveitou o adereço para deixar o local mais divertido. “Minha mãe comprou acreditando que as crianças iam gostar também, e elas adoraram. Isso que foi interessante. Todas as crianças querem tirar fotos com eles”, comenta.
Para Kerbes, o que pode ajudar a explicar o fenômeno é a semelhança das peças com figuras já conhecidas da cultura pop. “As pessoas que têm entre 25 e 50 anos de idade, todas olharam o filme do ET, e ele é bem verde e chama muito atenção”, comenta, se referindo ao filme “E.T. O Extraterrestre”, de 1982. Agora, a família planeja comprar mais duas peças, com a cor rosa.
Atração para clientes
O gerente da loja Call Center, em Lajeado, Vinicius Miguel Freitas, viu nos aliens uma forma de atrair os clientes. Foi na volta de uma viagem a Porto Alegre que ele reparou na decoração que virou atração da loja. Em cada época do ano, o alien da Call Center recebe uma ornamentação diferente. Nos primeiros dias na loja, segurava uma caixa de som. No Natal, ganhou touca de Papai Noel. Hoje, tem fones de ouvido.
A peça deve ganhar um companheiro que, segundo Freitas, ficará de cabeça para baixo, no teto da loja. “As crianças entram e querem tirar fotos, o pessoal filma e manda pelo WhatsApp. Ele chama atenção, sabe? Então, por que não?”, questiona.
ENTREVISTA – Iuri Azeredo • sociólogo analisa fenômeno de popularização das peças
“Há um processo de folclorização dos extraterrestres”
O fenômeno dos extraterrestres de jardim começou como uma moda. Trata-se de uma decoração que caiu no gosto popular. Entretanto, chama atenção que o objeto escolhido seja um alien. O que explica o apreço popular pela ufologia?
Eu acho que há um processo de folclorização dos extraterrestres. Era um fenômeno misterioso ligado a questões tecnológicas, vira um folclore e se torna cada vez maior. Primeiro em um ciclo mais restrito, mas aí a mídia começa a falar sobre os fenômenos e se populariza, principalmente os de “modelo gray”, embora agora tenha de todo tipo. Mas essa formatação é uma delas e é a que mais se popularizou, muito porque lembra aqueles ETs do filme Contato Imediato “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” ou “E.T. O Extraterrestre”, ambos do Steven Spielberg, que criam os imaginários ufológicos.
Podemos dizer que também há algo sobre “efeito manada”?
Sim, tem essas coisas do modismo. O vizinho coloca, eu vejo na televisão, saiu uma reportagem no jornal, e aos pouquinhos as pessoas vão copiando. Houve um tempo que era moda os anões de jardim, alguns colocavam junto com a Branca de Neve, por conta do folclore dos contos, das fábulas. Isso foi pelo mundo inteiro. Os ETs viraram parte do folclore. Eu já vi livros de colorir para crianças, bem populares, assim como tem mula sem cabeça tem do chupa-cabra, por exemplo, que é um personagem também vinculado ao folclore que se mistura com a ufologia.