Registros de gincanas, medalhas de atletismo, sino e outros objetos que remontam o ambiente escolar de outras épocas. Esses são alguns dos objetos preservados no espaço Memórias Ceat, que será inaugurado pelo Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat) nesta quinta-feira, às 19h30. Com itens dos mais de 130 anos de história da escola, o memorial, na área coberta do prédio 5, é construído com lembranças de alunos e professores que passaram pela instituição.
Entre as peças, também está um conjunto de normas e regras originais do colégio, de 1913, fotografias de momentos marcantes da escola, máquina de escrever, fax, troféus esportivos e medalhas, assim como instrumentos e uniforme da antiga banda do Ceat, no fim da década de 80. A réplica de uma sala de aula foi montada no lugar, com cadeiras e mesas da década de 50 aos anos 90.
“A ideia é que os materiais também sirvam de pesquisa para os nossos alunos. Porque a história do colégio está diretamente ligada à história de Lajeado e até mesmo da educação no Brasil. Conseguimos perceber aspectos da economia, da política”, destaca a professora de história e coordenadora do Memórias, Cibele da Rosa.
Lembranças de alunos
Foi o vínculo do ex-aluno Marcello Motta, 54, com o colégio que fez surgir a ideia do espaço Memórias. O gestor comercial conheceu a esposa na escola e os dois filhos também passaram pela instituição. “Participei ativamente do grêmio estudantil da época do colégio e tenho um apego especial pela escola”, conta.
Ao longo do processo de elaboração do memorial, outros ex-alunos se juntaram à iniciativa. A ideia é que o espaço também possa ser ponto de encontro e retorno para turmas que já se formaram. Uma das histórias marcantes para Motta, que faz parte do memorial, foi a Onase de 86, que ele ajudou a organizar. Aquele ano também marcou sua formatura. Daquele tempo, as gincanas da escola ainda trazem boas memórias ao ex-aluno.
O início
A história do Ceat começa menos de um ano depois da fundação de Lajeado. Criado em 1892, por imigrantes alemães luteranos, o colégio nasceu do desafio de garantir as necessidades básicas a esses viajantes, que tinham a preocupação de dar estudo aos filhos.
Naquela época, a fé estava ligada ao ensino e o primeiro prédio que abrigou a instituição se chamava Escola Paroquial Evangélica. Além dos filhos dos imigrantes, o colégio também atendia crianças de toda a região, com uma educação em tempo integral já que, no início, um internato funcionava no lugar. As classes e lousas utilizadas no período fazem parte do acervo do memorial.
Cibele conta que a instituição passou a se chamar Colégio Lajeadense até 1941, quando um decreto da secretaria estadual de educação sugeria que os colégios homenageassem figuras públicas. Alberto Torres era deputado federal pelo Rio de Janeiro e defendia causas interessantes ao diretor da época, como o abolicionismo e, por isso, foi escolhido para dar nome à escola.
A força do esporte
Em outro canto do espaço Memórias, um desenho de uma pista de atletismo marca a história do Ceat com o esporte, que trouxe alunos de diferentes municípios para jogar com bolsas de estudos na instituição. Desde 1954, na primeira edição, o colégio participou da Olimpíada Nacional de Atletismo da Rede Sinodal de Educação (Onase). Em 1986, a Onase foi organizada em Lajeado e o Ceat foi campeão.
Além disso, a escola coleciona 18 títulos estaduais de basquete. Mais de 30 atletas da instituição foram convocados para seleções gaúchas de basquete e vôlei e 12 para seleções brasileiras. O time de basquete também foi campeão brasileiro de basquete em 2021.
“Olhar para a origem, a história, faz parte do processo de ensino. A gente viveu um momento em que as pessoas lembraram dos últimos 30, 40 anos, mas os primeiros 70 anos eram pouco presentes. O espaço vem para guardar e resgatar essa história”, destaca o diretor Rodrigo Ulrich.
Passado e futuro
O arquiteto do projeto, Rafael Gallarreta Fernandes, da Estúdio R Arquitetura, também é ex-aluno. Ele conta que o espaço começou a ser pensado em 2017, em parceria com o escritório Muram Arquitetura. “Quando a gente começou, não tinha muito definido se seria um museu, uma exposição”, conta Fernandes.
Para auxiliar na criação, uma comissão com ex-alunos e ex-professores da escola foi criada. A diferença de gerações no grupo fez com que vivências de diversas épocas do Ceat fossem resgatadas. O material colocado no memorial também não estava definido. Mas uma coisa era certa: deveria ter um local reservado para as gincanas, o esporte e as línguas. “Era um projeto que tinha que ser flexível, porque pode mudar conforme o tempo”, conta o arquiteto.
O ex-aluno lembra que foram 13 anos de Ceat até a formatura, em 1998. Hoje, pelo menos uma vez no ano, ele volta para a escola para participar das gincanas. Fernandes também recorda que na 7ª série, em uma aula de desenho, a professora elogiou o trabalho dele e incentivou que ele fosse arquiteto. “Eu não sabia o que era arquitetura na época, e 11 anos depois eu estava me formando no curso”.
Novos planos para o antigo prédio
Agora, o arquiteto faz parte de uma nova fase da escola, que agrega tecnologia e modernidade à instituição, com a reforma do antigo prédio do Ceat. O local conta com salas de inovação, estúdios de gravação, salas de arte e música. A proposta também busca integrar os pŕedios 1 e 2, por meio de uma passarela, para garantir a segurança dos alunos.
“Pensamos em algo novo, mas sem descaracterizar a escola, buscando, de alguma maneira, contar a história do Ceat”, destaca Fernandes. Por isso, a sala dos professores volta à antiga edificação, assim como outras salas de aula. O investimento previsto para a reforma é de cerca de R$ 10 milhões. As obras estão previstas para iniciarem este ano e a reinauguração será em 2025.