Eleições em tempo de guerra  virtual

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Eleições em tempo de guerra virtual

Esse texto foi originalmente escrito em 2014, refletindo a disputa entre Dilma e Aécio e mostrando a primeira vez que a guerrilha virtual se fez presente nas eleições brasileiras. 2018 e 2022 são, peculiaridades a parte, uma continuação desse processo.

“Nunca uma eleição foi tão apertada. Também nunca houve tanta participação e discussão via redes sociais, tanto debate, tantas opiniões acirradas e tantas amizades se desfazendo em público e na rede. Certo estava então quem correu na frente e já em 2011 percebeu que a internet seria crucial na formação de parte da opinião pública (em especial a classe média) nas eleições desse novo milênio.

Em 2011, em seu quarto congresso, o PT criou um exército cibernético chamado de MAV (Militância em Ambientes Virtuais). Sua função é produzir correntes de opinião, aparentemente desconectadas dos interesses do partido e parecendo ser espontâneas através de uma massa de pseudônimos agindo articuladamente na internet, seja em redes sociais, grupos de discussão ou nas áreas de comentários de revistas, blogs ou jornais.

Na época o então ascendente deputado petista André Vargas, ainda não flagrado em transações não republicanas com o doleiro Youssef, declarou: “A guerra de guerrilha na internet é uma guerra de informação e contrainformação”.

Faz sentido. Nos tempos da velha União Soviética, alguém que pensasse diferente do partido era perseguido, rotulado como inimigo do povo e, numa hipótese bondosa, despachado para a Sibéria para esfriar suas ideias. Na pior hipótese, era executado e os registros escritos ou fotográficos de sua passagem pelo planeta apagados.

O ditador Stalin, que de bobo não tinha nada, fez uma declaração na época tão reveladora quanto cínica de seus métodos: “As ideias são muito mais poderosas do que as armas. Nós não permitimos que nossos inimigos tenham armas, por que deveríamos permitir que tenham ideias?”

O MAV pensa e atua de forma semelhante, mas muito mais sutil que o velho carniceiro russo, afinal o mundo evoluiu. O reacionário do século XX foi substituído pela figura repleta de alusões visuais do “coxinha”, a burguesia de Marx na versão contemporânea virou “elite branca” e o velho conflito entre a classe dominante e a classe trabalhadora virou também luta entre sulistas desalmados e nordestinos carentes.

Tudo isso muito bem camuflado para parecer autêntico, mas, como toda guerra, também repleta de lances sujos e disfarçados para que possam ser depois negados pelas instâncias partidárias. E sendo a internet terra de ninguém, repleta de idiotas úteis simpáticos à causa ou apenas disseminadores de maledicências, o veneno se espalha com a rapidez de um clique.

Mas e se os que pensam o contrário ou se opõem ao partido reagissem? Fácil, seriam atacados por um exército de criaturas ocultas atrás de pseudônimos e dados falsos (os fakes) sugerindo fazer comentários espontâneos. Afinal o objetivo não é debater ideias ou formar consensos, mas sim expulsar do ciberespaço as ideias dissonantes.

Outra forma de ataque, ainda mais pérfida, consiste em infiltrar MAVs em grupos organizados dentro das redes sociais. Uma vez dentro do grupo, esses cavalos de Troia podem coletar e entregar para outros guerrilheiros informações estratégicas do grupo invadido ou então lançar comentários preconceituosos ou agressivos e, por efeito manada, fazer com que integrantes autênticos também emitam declarações polêmicas.

Depois, basta expor o quê se colheu. Dessa forma, os ingênuos que não percebessem a manobra seriam acusados de “disseminar o ódio”, uma expressão que virou uma espécie de impressão digital dos MAV.

Novo milênio, novas tecnologias. Novos tempos, novas formas de guerra.”

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