Fazer qualquer previsão para o cenário econômico do Brasil em 2023 é um grande desafio. Além da instabilidade natural que se segue a uma troca de governo como a que presenciamos, há outras dificuldades. Na primeira semana, discursos desencontrados entre os ministros recém-empossados. Na seguinte, a invasão de manifestantes a prédios públicos que representam os três poderes da República.
Seguem os maus presságios quando se fala da recessão econômica nos mercados norte-americano e europeu, da guerra entre Ucrânia e Rússia e da falta de informações claras sobre o que ocorre na China com a Covid-19. Por aqui, o sentimento é de que a eleição presidencial ainda não terminou, deixando o noticiário econômico de lado.
As incertezas do primeiro ano de mandato podem ser avaliadas a partir de uma ferramenta simples. O relatório Focus, produzido pelo Banco Central e principal documento de análise e previsão econômica do país, divulga continuamente suas previsões para cada ano. Neste primeiro ano do mandato Lula 3, interessante comparar o que estava previsto e o que realmente ocorreu no primeiro ano dos governos Dilma 1 (2011), Dilma 2 (2015) e Bolsonaro (2019).
No primeiro ano de cada mandato, as previsões para a inflação (IPCA), câmbio (R$/US$) e Selic (taxa de juros) ficaram acima das previsões feitas no Relatório Focus. Por outro lado, o crescimento do PIB ficou abaixo do previsto. Isso significa que o mercado financeiro foi mais otimista nas suas previsões do que acabou se confirmando na realidade ao longo de cada ano. Avaliando o momento atual, uma análise comparativa entre o previsto e o realizado para o último ano do governo Bolsonaro traz outras conclusões, e o mercado já fez suas previsões para o ano de 2023:
Ao analisar 2022, percebe-se que houve um pessimismo exagerado na previsão de crescimento do PIB. De uma previsão inicial de 0,36% de crescimento na economia, o PIB fechou o ano com crescimento acima de 3%. O movimento de crescimento do PIB iniciou em abril, com o então ministro Paulo Guedes bancando sozinho este dado ao falar em crescimento. Em termos de inflação, câmbio e taxa de juros, também houve distorções entre o previsto e o realizado. Para reduzir a inflação foi utilizado o mecanismo de aumento da Selic. O câmbio menos apreciado também ajudou a segurar os preços no mercado interno em 2022. Mas o que se quer saber mesmo é como fica o ano de 2023. O que é possível prever?
O ano de 2023 tem uma previsão de crescimento no PIB superior ao que se tinha para 2022. A estimativa atual é crescer 0,8% do PIB. Também temos previsões para a inflação e taxa de juros abaixo do realizado em 2022 e um câmbio muito parecido, ou seja, haveria condições de fazer uma economia muito melhor em 2023.
Se houver uma frente política mais ampla e um olhar racional sobre a economia como um todo, sem contaminação das emoções e dos extremos da disputa presidencial, há um legado positivo de 2022 que pode ser proveitoso para 2023.
Ao invés de perdermos para nós mesmos como aconteceu nos últimos três primeiros anos de mandato dos presidentes eleitos – em que a contaminação política da economia, as declarações desastradas e as brigas de vaidade derrubaram as apostas mais otimistas do mercado – quem sabe possamos, pela primeira vez, ganhar esse jogo no primeiro ano do novo governo.
Ganhar o jogo significa o PIB crescer mais do que os 0,8% previstos para 2023. O PIB crescer significa mais renda, mais emprego, mais arrecadação e isso faz a roda da economia girar. E isso é muito bom! Entendo que as condições para se buscar esse crescimento do PIB estão dadas com base no que foi realizado até aqui pelo governo Bolsonaro.
Se ao ler este texto você sente algum desconforto ao pensar que o país pode crescer este ano e que isso é bom, talvez seja bom repensar sua atitude. Não deixe que suas posições políticas atrapalhem o modo como você encara a realidade e toca o seu negócio. Torça para dar certo porque isso é bom para todos. Senão, também você corre o risco de não aproveitar oportunidades e, assim, perder para você mesmo.