Quem acompanha meus escritos sabe que escrevo pouco sobre medicina. Não que falte assunto ou preocupação, mas sim para evitar aquilo que chamamos de conflito de interesses. Ou seja, usar o espaço não para informar, mas sim para angariar novos pacientes. Infelizmente as redes sociais, os jornais, rádios e tevês estão cheios de profissionais anunciando que detêm técnicas inovadoras e exclusivas quando não salvadoras.
Sinto decepcioná-los, mas na maioria das vezes é apenas marketing vazio à procura de incautos. Ou como diria o velho sambista: “malandro é malandro, mané é mané”! Mas fiquei preocupado quando vi campanhas bem organizadas contra o uso de alguns medicamentos com ação cerebral e com forte fundamentação teórica.
Isso não quer dizer que não haja exageros. Médicos, assim como outros profissionais, estão sujeitos à pressão da indústria e são evidentes os abusos tanto na prescrição de medicamentos quanto na indicação de próteses caríssimas. Nas muitas vezes em que a ética e o capital se confrontam, os atrativos da primeira são bem menores.
No entanto, médicos têm carreiras longas, geralmente na mesma localidade e sua reputação é a chave do insucesso ou sucesso de sua profissão. Portanto, a longo prazo uma série de atitudes que médicos possam adotar podem se revelar desastrosas para sua carreira.
Além disso, não há prova seletiva para o exercício da medicina no Brasil, como há para o direito. Se houvesse, estimativas conservadoras apontam que um terço dos formandos não conseguiriam aprovação para atuar. Isso significa que tais profissionais que hoje atuam livremente, erram mais de quatro diagnósticos de cada dez que realizam. Isso é o suficiente para ser aprovado numa universidade, mas uma catástrofe no mundo real.
Na fronteira entre doença e comportamento, uma área onde medicina, psicologia, filosofia e sociologia se entrecruzam, tal discussão é ainda mais difícil e acaba por trazer à tona a velha dualidade cérebro x mente.
Um grupo defende que pode entender comportamento sem entender o funcionamento básico do cérebro. Já o outro quer localizar no cérebro todo e qualquer tipo de comportamento.
Quando essa discussão finalmente amadurecer , os profissionais descobrirão que possuem duas armas para utilizar no tratamento de seus pacientes, a psicoterapia e os psicotrópicos. Quando usar um ou outro, ou mesmo, quando usar os dois ,é a arte por trás de cada profissão.