No mundo perfeito, você levanta-se às seis da manhã, quando a assistente virtual te acorda com o mix de frutas finalizado, coado e na temperatura certa para o desjejum. Faz alongamento e corre pelo parque arborizado às margens do rio. Ducha. Depois, cereais, café com leite desnatado, pão integral, ovos mexidos, queijos, geleia. Jornais impressos e digitais. Uber.
Trabalho, sucesso e… amor. Mesmo que a sequência possa ser rechaçada por alguns, verdade é que, influenciados pelo American Way Of Life surgido nos Estados Unidos no pós-guerra, subsiste no brasileiro, agora reformulado pelos ganhos de tecnologia e mobilidade, o desejo à padronização social e a crença nos valores democráticos e liberais intrínsecos ao estilo de vida emulado pelos norte-americanos, na segunda metade do século passado. Em síntese, somos uma sociedade de consumo, ou consumista.
Nesse domingo, ao ler a análise do professor Carlos Alberto Gianotti sobre o artigo do filósofo coreano Byung-Chul Han, intitulado “Seis motivos pelos quais hoje não é possível a revolução”, me caiu a ficha porque não é possível termos no Brasil uma sociedade algo parecida com o sistema socialista.
Segundo Gianotti, um dos impeditivos apresentados por Han para não termos hoje no mundo uma mudança radical na sociedade é o fato de vivermos fundamentados na ideia do “eu gosto”, isto é, “nas imagináveis escolhas pessoais” – mesmo que, na verdade, nossas escolhas sejam influenciadas diretamente pela comunicação. Esta sim, capaz de impulsionar e estabelecer os padrões desejáveis de estética e emoção do mundo capitalista.
Dito isso, e sem desejar aprofundar-me no debate político que toma conta do país, pondero que os extremos sempre terão a explorar as paredes inomináveis do abismo profundo e marginal da mente humana. São devaneios de ditadores, de direita ou de esquerda, desejosos de submeter nossa aura aos desígnios de mentalidades ultrapassadas e incapazes de perceber e valorizar o verdadeiro potencial humano. É fato que o maior ícone da propaganda de massa foi capaz de converter milhões de cidadãos em apoiadores do nazismo.
Aposto na comunicação como forma de solucionar qualquer problema. Assim como, a falta dela, invariavelmente nos levará ao fracasso da sociedade moderna. Se entendermos que a sociedade descrita em panfletos e redes sociais, valendo-se da estética de felicidade e beleza, não corresponde à realidade, como dizia Lipovetsky, cabe a nós, agentes sociais, transcrever o verdadeiro conteúdo que irá formar uma percepção afinada de nossos potenciais enquanto comunidade, estado e país.
Em meio a qualquer crise que possa se agigantar, focar na comunicação e no marketing para redesenhar os quadros de pessoas e resultados, passa a ser uma decisão coerente com sua trajetória, crenças e valores. Internalizar uma visão do capitalismo consciente, e colocá-la em prática, fará com que encontre respaldo e engajamento nas pessoas de casa e fora dela.
Café da manhã na cama e uma família ao nosso lado é o que todos desejamos – com cara ou sem cara de comercial de TV. Temos é que ter controle e estratégia para não deixar a comunicação errada nos transformar nas hordas bizarras dos filmes de terror.