A única certeza

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

A única certeza

Se existe uma única certeza nesse mundo e a de que um dia partiremos. O que vira depois é uma grande incerteza, com as religiões dando diferentes caminhos mas sempre nos dizendo: há algo depois!

Essa incerteza sempre assustou a humanidade e fez com que criássemos rituais, alguns respeitosos, outros tristes e até alguns alegres e divertidos.
Lembro ainda com espanto da alegre festa que os mexicanos fazem no dia de “los muertos”, sua tradicional celebração para os finados.

As cidades ficam repletas de alegres caveiras, pois segundo a tradição indígena local esse é o dia em que os mortos vêm visitar seus parentes. E essa visita é motivo de alegria, razão pela qual se faz festa e comidas especiais.

A Igreja Católica teve ter olhado com o nariz torcido para essa festa, mas o máximo que conseguiu foi trazê-la para a data oficial do catolicismo.
Mas a visão católica de céu e inferno não colou por lá, visto que o destino não estava ligado a uma vida mais ou menos virtuosa, mas sim ao tipo de morte de cada um, com um óbvio lugar especial aos que morriam nos campos de batalha e o pior local para os que pereciam de morte natural.

No Brasil predominantemente católico temos o Dia dos Finados uma antiga tradição que remonta ao século V,quando a Igreja instituiu um dia para rezar pelos mortos dos quais ninguém se lembrava ou ninguém rezava, era o dia de todos os mortos. Apenas por volta do ano 1.000 que a data dessa celebração passou a ser o 2 de novembro, um dia depois do Dia de Todos os Santos.

Essas datas ajudam a explicar uma festa tradicional nos países de língua inglesa e que aos poucos chega até nos, o Halloween. Fica mais fácil entendemos essa festa se formos até a origem da palavra inglesa “All-hallow-even”, a noite de véspera do Dia de Todos os Santos, ou seja a noite de 31 de outubro.

Embora hoje seja chamado de Dia das Bruxas, o termo é uma imprecisão histórica, pois jamais se quis homenagear essas temíveis criaturas. A data na verdade é uma mescla do festival celta de fim do verão, o Samhain onde entre outras coisas também havia a festa dos mortos. Acredita-se que os disfarces do Halloween nasceram na França nos tempos pós-peste bubônica onde havia uma multidão de mortos para homenagear.

Algumas dessas homenagens ficaram conhecidas como danças da morte e eram executadas com disfarces onde a própria morte vinha lembrar a todos de nossa finitude. Como se vê, a antiga festa dos druidas acabou por caminhos tortos se tornando a festa das bruxas. E o único elo em comum de todas as tradições que resultou no Halloween, continua apenas a ser a morte.

A mesma morte que levou o Rei Pelé!

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