O reino da mentira

Opinião

Carlos Schäffer

Carlos Schäffer

Advogado

O reino da mentira

“Mentira toda ela. Mentira de tudo, em tudo e por tudo. Mentira na terra, no ar, até no céu, onde, segundo Padre Vieira, que não chegou a conhecer o Dr. Urbano dos San­tos, o próprio sol mentia ao Maranhão, e diríeis que, hoje, men­te ao Brasil inteiro. Mentira nos protestos. Mentira nas promes­sas. Mentira nos programas. Mentira nos projetos. Mentira nos progressos. Mentira nas reformas. Mentira nas convic­ções. Mentira nas transmu­tações.

Mentira nas soluções. Mentira nos homens, nos atos e nas cousas. Mentira no rosto, na voz, na postura, no gesto, na palavra, na escrita. Mentira nos partidos, nas coligações e nos blocos. Mentira dos caudilhos aos seus apaniguados, mentira dos seus apaniguados aos cau­dilhos, mentira de caudilhos e apaniguados à nação. Mentira nas instituições. Mentira nas eleições. Mentira nas apura­ções. Mentira nas mensagens. Mentiras nos relatórios. Menti­ra nos inquéritos. Mentira nos concursos. Mentira nas embai­xadas. Mentira nas candida­turas. Mentiras nas garantias. Mentira nas responsabilidades. Mentira nos desmentidos. A mentira geral.

O monopólio da mentira. Uma impregnação tal das consciências pela mentira, que se acaba por não se dis­cernir a mentira da verdade, que os contaminados acabam por mentir a si mesmos, e os indenes, ao cabo, muitas vezes não sabem se estão, ou não es­tão mentindo. Um ambiente, em suma, de mentiraria, que, depois de ter iludido ou deses­perado os contemporâneos, corre o risco de lograr ou desesperar os vindouros, a posteri­dade, a história, no exame de uma época, em que, à força de se intrujarem uns aos outros, os políticos, afinal, se encontram burlados pelas suas próprias burlas, e colhidos nas malhas da sua própria intrujice, como é precisamente agora o caso.

Já se entoou no parlamento republicano o panegírico do jogo. Já se lavrou na imprensa da atualidade a apologia da perfídia. Ainda não se ensaiou, numa tribuna ou na outra, a glorificação da mentira. Mas há de vir. Há de estar próxima. Já tarda. Não se concebe que se haja demorado tanto. É a jus­tiça da nossa época a si mesma. Pelo hábito de preterir a tudo, acaba ela sem fim, destarte, preterindo a si própria. (sic).”

Vocês têm alguma dúvida de que o Brasil é um país que nunca dará certo?

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