Nível de arroios e rios expõe efeitos da estiagem

FALTA DE CHUVA

Nível de arroios e rios expõe efeitos da estiagem

Perdas nas lavouras superam R$ 65 milhões e pelo menos 700 famílias dependem de caminhão-pipa para abastecimento de água

Nível de arroios e rios expõe efeitos da estiagem
Nível do Rio Forqueta está abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Situação preocupa moradores. Crédito: Gabriel Santos
Vale do Taquari

O período prolongado de chuva irregular agrava o cenário de estiagem na região. Com níveis baixos de arroios, poços e rios, aumenta a preocupação pela falta de água para consumo humano e dos animais. Já são quatro municípios com decretos de emergência encaminhados.

Após Progresso e Taquari formalizarem o documento junto ao Estado, Boqueirão do Leão e Venâncio Aires também concluíram os levantamentos para o pedido de ajuda. Em outras três cidades, pelo menos, técnicos da Emater/RS-Ascar atuam para concluir os levantamentos de perdas.

Os gestores de Canudos do Vale, Forquetinha e Pouso Novo preparam o relatório para decretar estado de emergência nos próximos dias. A partir do reconhecimento dos decretos, a expectativa é que os municípios e produtores impactados recebam apoio do Estado e da União.

As ajudas esperadas vão desde políticas públicas e destinação de maquinário para abertura de poços a construção de redes de água. Conforme dados preliminares, cerca de 700 famílias dependem de abastecimento com caminhão-pipa. Já as perdas na produção agrícola superam R$ 65 milhões. Em algumas propriedades a quebra de safra chega a 100%.

“Vazão dos poços é cada vez menor”

As altas temperaturas e a sequência de dias com tempo seco agravam a situação no Vale do Taquari. “As fontes, açudes e poços baixaram de nível. Se não chover com mais frequência teremos o efeito cascata com decretos de emergência dos municípios”, observa o coordenador regional da Emater, Cristiano Laste.

Segundo ele, muitos técnicos estão de férias, mas é feita uma força-tarefa para garantir a elaboração dos laudos. “Neste primeiro momento as cidades da microrregião alta são as mais impactadas”, pontua Laste. No início da próxima semana a Emater deve divulgar os números parciais de perdas.

Da cheia à seca

O Vale do Taquari enfrentou em janeiro de 2010 uma das maiores enxurradas. Na época, entre as cidades mais atingidas com a elevação do Rio Forqueta estavam Marques de Souza e Travesseiro. Nas cabeceiras do Rio Taquari choveu mais de 300 milímetros em menos de 24 horas.

Hoje, o cenário é outro. Com o pouco de água que ainda corre em meio ao cascalho, é possível fazer a travessia a pé de uma margem a outra. De acordo com o morador Herton Scherer, 42, o nível está mais baixo na comparação com o ano passado. “Parece que não chove mais o necessário para repor os mananciais.”

A família é proprietária de camping às margens do rio. Na enxurrada de 2010 pelo menos 60% da estrutura foi destruída. Além de reconstruir o local, também plantaram árvores para a proteção natural no entorno.

Impactos no campo

A estiagem no verão passado gerou perdas estimadas em mais de R$ 500 milhões na agricultura do Vale do Taquari. Pela análise do secretário de Agricultura de Estrela, Douglas Sulzbach, no momento ainda é cedo para projetar os impactos do atual período de seca.

Sulzbach também preside a associação regional de secretários e percebe o aumento gradativo dos problemas nas cidades. “Monitoramos o avanço do cenário de estiagem. No ano passado por este período as perdas eram maiores. Desta vez quem plantou cedo conseguiu fazer uma boa safra.”

Além das áreas com milho, o secretário ressalta o desenvolvimento das lavouras de soja ainda em estágio inicial. Com perdas na safra de grãos, há reflexo em outras cadeias produtivas, como o do leite e das carnes. A escassez de produtos eleva custos na produção.

Estado em alerta

Até ontem, pelo menos 84 cidades gaúchas emitiram decretos de emergência pela estiagem. Em reunião da equipe do Piratini, o governador Eduardo Leite pediu celeridade em iniciativas de apoio aos produtores na perfuração de poços e construção de açudes.

Para o Vale do Taquari há uma demanda reprimida ainda do ano passado, quando foram anunciados recursos para abertura de 290 estruturas de reserva de água. O governador também reforçou a necessidade de ampliar a integração entre as áreas técnicas para monitoramento da seca e das medidas de auxílio.

Ele ressaltou que, a exemplo da pandemia, a estiagem merece que o governo agregue dados e informações para ter o “dedo no pulso” e acompanhar de perto a situação. Leite ainda destacou a necessidade do governo federal apoiar programas na área.

Falta de chuva compromete abastecimento de água em Boqueirão do Leão. Crédito: Divulgação

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