O mundo pela leitura

Opinião

Ledi Giongo

Ledi Giongo

Secretária Executiva da Cooperativa Dália

O mundo pela leitura

Desenvolvi o prazer pela leitura na Faculdade de Letras com a Professora Dra. Ivete Kist. Aliás, uma mestra diferenciada e, por isso, muito especial. Ela, sem dúvida, é a melhor lembrança que guardo da época acadêmica dentre as muitas que acumulei e que me estimularam profissionalmente. Lembro de ter ouvido da maravilhosa Ivete que uma leitura é prazerosa e atinge o objetivo quando você se sente parte da história. E foi esse despertar que me levou a apreciar a leitura e que me faz ler um livro em um curto espaço de tempo.

Porém, há situações em que levo meses para concluir um livro, pois tal é a força do enredo que leio poucas páginas diárias ou semanais. Exemplo disso é a obra Muito Longe de Casa – Memórias de um menino soldado, de Ishmael Beah. Um relato que impressiona a cada página diante da descrição detalhada e verídica dos horrores da guerra civil de Serra Leoa, o que me fez acreditar que se trata de um confronto bélico mais intenso e cruel do que as entre nações.

A obra narra a história de um menino feliz em sua infância até que o conflito bate à sua porta, e a vila onde morava foi atacada pelos rebeldes, obrigando-o a fugir, sem saber o paradeiro de sua família. O autor vai descrevendo sua intensa e sinistra história, sua transformação em um soldado, que luta pelo exército de Serra Leoa aos treze anos de idade.

A leitura permite avaliar esse assombroso destino que narra o sofrimento desses meninos-soldados em uma guerra como vítimas de lavagem cerebral que os impulsionavam ao ódio aos rebeldes, supostamente inimigos, e ao uso dos fuzis, sem lembrarem que eram seus patriotas. A história é uma narrativa detalhada que me fez derramar lágrimas, talvez, por ter ciência de sua veracidade.

Então, como “uma coisa leva a outra”, o que chama a atenção é a burrice de uma guerra, seja ela interna ou externa, pois, sempre, os que estão na linha de frente, combatendo, são os menos afortunados enquanto os “ditos líderes”, que não se entendem, escondem-se em uma sala protegida por um exército de segurança como se fossem super-homens, quando, na verdade, são seres fracos e covardes. Afinal, precisam que outros façam a parte mais difícil, que é expor sua vida em nome do poder e, claro, sob sua ótica, pouco ou nada vale.

O fato é que a guerra em nada beneficia alguém ou mesmo uma nação, porque não é crível que tantos homens precisem ser mortos para que as cúpulas governantes finalmente se entendam. E, no caso das guerras civis, é ainda mais desastroso pelo fato de haver crianças empunhando armas e cultivando o ódio de seus iguais. A pergunta que fica é: como esses jovens vão recuperar o equilíbrio emocional após vivenciarem uma guerra, que, por sinal, destrói a cultura do amor e do respeito?

Penso que é muito difícil, mas, felizmente, o autor buscou e encontrou a recuperação e se tornou o porta-voz das crianças recrutadas para a guerra. E, nesse momento, de novo, aciona-se o imaginário para compreender o quanto uma luta armada é destrutiva e vai muito além das baixas humanas, já que atinge o psicológico dos sobreviventes.

Felizmente, somos um país pacífico e, mesmo com tantas divergências de opiniões, hábitos e costumes, não temos histórico de conflitos internos, como também não existem razões capazes de iniciá-los com nossos vizinhos territoriais. Quiçá, o Criador nos livrou desse pesadelo e, em seu lugar, premiou-nos com tantos outros, os quais, mesmo de menor porte, são igualmente graves e destrutivos, como o tráfico de drogas, os feminicídios, a falta de empatia, a desonestidade de políticos, o toma lá dá cá…

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