Em Porto Alegre nos anos 1980/90, vi surgir o PT e conheci personalidades suas como Olívio Dutra, Raul Pont, José Fortunati e Tarso Genro. Vivenciei turbilhões políticos, a hiperinflação e os malsucedidos Planos Econômicos que buscavam normalizá-la. Vi, também, o bom papel de Lula neste contexto e sua persistente busca à Presidência da República. Derrotado por Collor e duas vezes por FHC, não desistiu, sendo eleito após este. Fez um primeiro mandato muito bom, resgatando-nos do último mandato desastroso de Fernando Henrique.
Já no transcorrer do seu segundo período, soube-se, mais tarde, passou a servir-se do poder e permitiu que outros o fizessem, a ponto de ser condenado nas três instâncias jurídicas possíveis. Esta regressão histórica me embasa uma análise do momento político atual, não sob o condão da paixão partidária, mas sob o olhar de fatos e acontecimentos.
Forças “invisíveis” que buscam se locupletar com governantes, às quais não servia a performance do movimento instalado no país em 2019, viram em Lula a única possibilidade de reversão, na eleição de 2022. Liberto da prisão e tornado elegível por ato discutível e inacreditável do STF, retornou ao Poder, abstraída a polêmica quanto à lisura das eleições.
A cada dia descobrimos eleitores seus fora da militância de esquerda (cuja opção é óbvia e justificada). O contrassenso destes preocupa, devido ao casuísmo e falta de visão pretérita e futura na escolha de governantes, nos níveis federal, estadual e municipal. Fecharam os olhos para as condenações e não perceberam o diversionismo praticado pela “velha mídia” e segmentos sociais, privados das benesses de fartos recursos públicos, que já não mais lhes eram destinados pelo governo de então.
Nem levaram em conta que este, apesar de crises internas e externas, direcionara a proa do país para o desenvolvimento, com indicadores consistentes. Preferiram abraçar as promessas voluptuosas de um amor antigo, mesmo que este já comprometido com outros poucos. Nos provocam o desencanto com a política.
Já o novo Governo, não perpassa o pensamento de uma esquerda modernizada, necessária como contraponto à voracidade do capitalismo. Aumenta gastos públicos e pratica o clientelismo. Adota ações de retaliação, ideológicas e desnecessárias, em detrimento de outras, imprescindíveis à continuidade do desenvolvimento e bem-estar social. Dizendo-se democrático, está perigosamente próximo a ditaduras ferrenhas do continente.
Mesmo estando apenas no início do mandato, imprescindível a população brasileira exercer vigilância constante, levando este governo a alinhar-se aos interesses da maioria, mostrando que sua ascensão ao poder não foi fruto de mero contrassenso de parcela de brasileiros.