Na mesa farta para celebrar o Ano-Novo, a lentilha é o prato principal. Com ela, as folhas de louro, a carne de porco, as sementes de uvas e as frutas completam a tradição que simboliza sorte, saúde e esperança. Mais do que o encerramento de um ciclo, o último dia do ano e o 1º de janeiro são marcados por momentos em família e celebram histórias e rituais dos antepassados.
Na casa da família de Ana Nelsi Gerhardt e das irmãs, uma nova tradição foi criada há 10 anos e, na virada, são feitas trouxinhas para levar na carteira ou na bolsa durante o ano. Cada visitante da festa monta a sua, que deve conter 12 grãos de lentilha, um para cada mês, e 12 sementes de uvas. Além disso, uma folhinha da planta Dinheiro-em-penca também é inserida no envelope.
Quando a nova trouxinha é colocada na carteira, a antiga pode ser descartada. A tradição simboliza sorte, fartura e saúde. “Minhas irmãs e eu começamos a montar as trouxinhas e hoje fazemos todos juntos, os filhos, os netos, passamos o Ano-Novo todos juntos”, conta Ana. Ela ainda destaca que os envelopes devem ser confeccionados perto da virada, às 23h45. “Pra nós, é pra dar sorte e saúde, sempre deu certo”, garante. Além disso, cada integrante da família também costuma usar alguma peça de roupa branca e a ceia farta à mesa contém lentilha, carne e frutas.
Momento de transformação
Mais do que simbolizar um rito, essa e outras tradições de origem Ocidental foram criadas pela incerteza dos povos em relação ao futuro e que, por isso, pediam sorte, dinheiro ou saúde. “São rituais antigos, uma forma de lidar com o desconhecido, com o medo do que está por vir”, destaca o filósofo e teólogo David Orling.
A ideia de vestir roupas claras na virada também estava ligada à natureza, com a purificação. Nos períodos de colheita, as mulheres também costumavam usar vestimentas brancas. “Com a chegada do Cristianismo, essas crenças locais começam a fazer parte das crenças populares”, afirma o filósofo.
De acordo com Orling, o dia 1º de janeiro faz parte do Calendário Gregoriano e está ligado aos costumes do Ocidente. Além de significar mudanças de estações, a celebração marcava os tempos de colheitas. Os ocidentais também acreditavam que o novo ciclo traria esperança, transformação da terra e possibilidade de rever antepassados.
Ao longo da Idade Média e com o Catolicismo, a data passa a ter um sentido diferente. Deixa o caráter do culto à natureza para ser uma data de busca pela ligação com Deus. Para outras culturas como o judaísmo ou o islamismo, o Ano-Novo é comemorado em datas diferentes. “São outros dias, mas os princípios são parecidos, de um novo momento, sempre pensando na transformação, no cultivo de valores como a paz e a melhora”, destaca o filósofo. De acordo com Orling, a chegada de um novo ano traz a ideia de que é preciso oferecer algo, mais do que receber.
As cores da virada
Além do branco, outras cores também são indicadas para a virada, tudo depende do que cada um quer atrair para o próximo ano, conforme explica a astróloga e consultora de moda Suzane Luíse D. Pereira. De acordo com a profissional, 2023 será regido pela Lua e, por isso, serão vistas cores mais femininas, como o azul e as “candy colors”.
“Temos uma vibração de acolhimento, serenidade. Trago também o roxo como uma energia que remete ao empoderamento”, destaca. A profissional conta que na história, a pigmentação da cor era um processo caro e por isso, foi relacionada aos nobres, reis e ao clero. A cor lavanda também estará em alta no próximo ano.
Suzane também destaca que mais do que escolher a cor da virada, é importante prestar atenção ao corte da roupa e ao tecido utilizado, para trazer leveza ou seriedade ao visual.
