Que em 2023  sejamos menos pato

Opinião

Charles Rossner

Charles Rossner

Empreendedor e secretário de turismo de Encantado

Que em 2023 sejamos menos pato

Quem já teve a grata oportunidade de viver no interior, sabe que a vida é vivida num ritmo diferente da cidade. Lembro-me bem quando, ainda criança, visitava a casa dos meus avós, onde passava também grande parte das minhas férias, na Buriti, interior de Santo Ângelo, quando do nada, minha avó dizia: “Vou lá buscar os ovos, antes que os lagartos comam”.

E lá ia a minha avó, buscar os ovos que acabaram de serem postos. Eu, na inocência de criança, ficava pensando: como pode minha avó saber que as galinhas acabaram de colocar os ovos? Com o tempo entendi que as galinhas, logo após a postura, cacarejam alto, fazem um estardalhaço anunciando o grande feito. E, por consequência, ouvindo esta barulheira, minha sábia avó sabia que era chegada a hora da “colheita”. Mas o lagarto também sabia e por isso ela sempre se apressava. Ah, a sabedoria dos antigos!

Com o tempo, já adulto, aprendi que os patos, ou melhor, as patas, colocam ovos também. Porém maiores, mais nutritivos, mais saborosos e com mais benefícios para a saúde humana. Você já encontrou ovos de pata à venda nos supermercados? Por que não comemos ovos de patas então? Pois elas põem seus ovos e ficam em silêncio. E por isso, nem minha avó sabia que a pata dela havia posto um ovo, mas os lagartos, que estão o dia a perambular a procura de alimento, sempre encontravam primeiro.

E nós, enquanto região que pensa em se posicionar como destino turístico, estamos sendo mais galinha ou mais pato? Falamos em rodas de conversa íntima, com algumas poucas pessoas, que nosso Vale é lindo, que temos muitas belezas, mas quando temos uma folga, corremos pro litoral. Vamos à linda Serra Gaúcha, reclamamos dos preços, do congestionamento, da confusão de pessoas, todas sempre nos mesmos lugares… e nós lá também. Mas sempre retornamos.

Quando podemos valorizar nossa região, compramos produtos de fora, pois afinal, se veio de longe, deve ser melhor. Pensamos em viajar para longe, ver coisas “diferentes”. Te pergunto: Você já olhou verdadeiramente, com olhos de turista, para a sua cidade? Será que o nosso Rio Taquari é admirado por nós da mesma forma que admiramos o Reno quando estamos na Europa?

Esta mudança parte de nós, de nosso pertencimento. Reclamamos dos Argentinos, tricampeões do mundo, que por vezes concordo até são petulantes. Mas eles valorizam o seu tango, seu vinho, seus chocolates, seu azeite de oliva como sendo os melhores do mundo. Fazemos isso com nossa música, nossa cultura, nossas cascatas e nossa comida?

Desenvolvimento turístico passa pelo pertencimento! Devemos nos sentir parte, incluídos, importantes e reconhecidos. Mas devemos ser propagadores, os maiores apaixonados e divulgadores das nossas coisas. Sejamos menos patos e mais galinhas, gritando e cacarejando, pra todo mundo ouvir, compartilhando as nossas belezas no Instagram, no Facebook e no grupo da família, com o mesmo afinco e perseverança dos tempos de eleição e de copa do mundo. Nosso Vale merece e precisa da nossa dedicação.

Rapidinhas:

– Já assistiu o vídeo de final de ano da Amturvales? Emociona desde o começo.

– Turismo de Aventura e Eco Turismo estão no radar do MPF em todo o estado. Não há mais espaço para amadorismo.

– Planeje o seu 2023 com a mesma vontade que planeja a festa da virada, e viverás uma virada na sua vida. Feliz Ano Novo!

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