Fuja” de seus problemas

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Fuja” de seus problemas

A síndrome de Homer Simpson, de “a culpa é minha e eu coloco em quem eu quiser”, se aplica muito bem a um amigo de infância. Não vou dizer o nome para que não saiba que estou falando dele. Mas em todas as repercussões negativas, ele sempre desviava. Se aparecia um problema: “eu não sabia”.

Alguma tarefa sob responsabilidade ficou aquém do esperado: “não fui eu”. Ou atrasou a entrega de um trabalho na faculdade: “foi o disquete que deu pau” (sim, sou da época do disquete). Havia sempre uma resposta pronta. Sempre outro alvo. Por vezes, aparecia algum culpado:

– Sabe o Mauricinho. Tava com ele. Eu saí e deu m…

Um comportamento digno de mussum. Não a cidade daqui, essa é com cedilha, mas do peixe (ou será cobra?). Enfim, aquele bicho difícil de pegar. Bom, isso não vem ao caso. De fato, sabe aquele cara liso, escorregadio, que entra de costas para fingir que está saindo? Disso que falo.

Inclusive, quando engravidou a namorada, também tentou fugir. Mas dessa vez não conseguiu, o pai da menina era delegado. Ah, mas digo uma coisa, se tivesse um jato da FAB, com certeza, voaria para longe do país antes de ser obrigado a assinar o nome no registro civil.


Aula atrás das grades

Agora sem ironia. A experiência de professores dentro do presídio. Esse foi um dos assuntos abordados no último Pense do ano. O Programa do Ensino e da Educação, ao vivo na Rádio A Hora 102.9, teve como convidados os diretores do Núcleo de Ensino de Jovens e Adultos, Josselito Brandão, e do Neeja Liberdade, Adalberto Koch. Foi na terça, e está disponível tanto no Facebook do Grupo A Hora, quanto no A Hora TV no Youtube.

O perfil do detento na região, em especial no presídio de Lajeado, confirma o papel fundamental da educação nos rumos do indivíduo e da própria sociedade. A maioria, conforme dados da Susepe, são de pessoas que largaram o estudo antes de terminar o Fundamental. Podemos dizer, muitos analfabetos funcionais.

Além das aulas do Fundamental e Médio, também há um esforço para a qualificação da mão de obra prisional. Medida importante e fundamental para confirmar segundas chances. Crédito: Arquivo/ A Hora

A perda de vínculo com a escola é preponderante em termos do ingresso em atividades ilícitas. Já para o professor dentro da penitenciária, também há lições em ensinar para esse público. Existe um respeito que por vezes falta no ensino regular. Uma admiração e consciência do preso de que é preciso recuperar o tempo. Isso que o diretor do Neeja Liberdade, Adalberto Koch, nos disse.

Para a sociedade é preciso entender: estar recluso não significa ter que viver em uma masmorra para sempre. O nosso código penal não tem pena capital, não tem prisão perpétua. Em algum momento, esse indivíduo vai sair. Agora, em quais condições? Do jeito que está, sem dúvida, será pior do que quando entrou. Assim, o ciclo de violência não acaba.


Força da educação

Lembro de uma frase na minha escola. Estudei na Benjamin Constant, em Porto Alegre. Um colégio estadual, pequeno, de 1º Grau (hoje chamamos de Fundamental). Não tinha quadra de esportes. Era um arremedo, um improviso. A goleira por muitos anos foi de paralelepípedo, o piso era de cimento, aquele sem acabamento. Cair era se esfolar.
Então fizeram uma grande reforma.

Lá por 1992 ou 93. Início do ano letivo. Eu estava curioso para voltar, pois sabíamos que a escola estaria diferente. Quando descia a Dom Pedro a pé, na zona norte da capital, vi o colégio pintado. No prédio, que parece três caixas de sapato uma em cima da outra, uma frase: “Educai as crianças e não será preciso punir os homens”. Até hoje essa imagem está comigo. E acredito, do fundo do meu âmago, que o conhecimento é o caminho à libertação, é a força capaz de dar sentido à vida.

Um feliz ano novo, e muito aprendizado para nós.

Foto de 2016. A frase de Pitágoras não consta mais na fachada da escola Benjamin Constant. Reprodução/facebook

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