Para onde vamos?

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Para onde vamos?

Poucos eventos continuam tão masculinos quanto uma copa do mundo de futebol e, quando ela ocorre num país islâmico, fica ainda mais claro o quanto o Estado derivou sua força da figura masculina. O pai, o sacerdote e depois o rei estão presentes na gênese do Estado.

Como vimos, no mundo árabe, o poder continuou nas mãos ou de uma família (o rei-sheik) ou então nas mãos do descendente da entidade religiosa (o sacerdote-aiatolá). Quem prestou atenção nas imagens das transmissões da copa claramente percebeu a ausência pública das mulheres no mundo islâmico.

No mundo ocidental, a Revolução Francesa teve o mérito de romper com o clero e a monarquia absolutista ao mesmo tempo, mas era uma briga de homens. Mesmo assim, seus princípios de igualdade, liberdade e fraternidade, bem como a separação dos poderes, influenciaram o mundo todo, mas a questão de gênero só viria bem mais tarde.

No entanto, não seria demais dizer que os valores revolucionários de 1789 dominam ainda hoje o ideário do mundo ocidental. Ou seja, duzentos e tantos anos depois, ainda não se conseguiu pensar num modelo melhor.

No Brasil não é diferente. Em nossa Constituição, estão alguns princípios revolucionários: a separação dos poderes, a proteção aos cidadãos e as garantias individuais.

A base teórica dessas mudanças foi pensada pelo filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, falecido em 1778. Ele concebia o homem (mas não a mulher) como um ser livre igual a seus semelhantes, com os quais deveria conviver fraternalmente. O Estado não deveria ser um elemento de dominação, mas um ente a serviço do cidadão. Essa vertente de pensamento do Estado moderno é chamada hoje de jusnaturalista.

Nela ocorre um pacto entre os indivíduos para constituir o Estado. Cada um delega e abdica de sua própria autoridade em nome da autoridade única do soberano que é, ele próprio, um indivíduo.

A esse modelo se contrapõe o pensamento de Hegel e Marx. Para eles, a liberdade é impossível dentro dos limites do Estado. Contrário a Rousseau e selando o rompimento com o jusnaturalismo, Marx vê no Estado uma forma necessária apenas para as organizações sociais de exploração e afirma que apenas a extinção do Estado poderá dar origem à verdadeira história humana, o reino da liberdade sonhado por Rousseau.

Para eles, a realização da sociedade humana passa, pois, pela destruição do Estado, e não por sua instituição. Com relação às mulheres, Hegel foi misógino (“A diferença que há entre o homem e a mulher é a mesma que há entre um animal e uma planta…”), apenas Engels foi além ao denunciar a exploração e a opressão feminina.

No mundo atual, os Estados de inspiração marxista agonizam, com exceção da China, que manteve o Estado forte típico dos governos com essa orientação, mas liberou a economia (pero no mucho).

No Brasil, nunca tivemos o Estado sonhado por Rousseau, onde a razão preponderaria sobre as paixões individuais. Aqui sempre poucos se serviram da estrutura estatal para proveito próprio. Também não tivemos o paraíso ou reino da liberdade sonhado após o fim do Estado.

Em 2023, volta ao poder um partido com inspiração no pensamento hegeliano-marxista. E seguindo a lógica, um defensor do fim do Estado. Mas há jusnaturalistas no meio, Alckmin à frente. É esperar para ver onde chegaremos dessa vez.

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