Ao fim de um ano com falências de empresas do setor e queda brusca no valor dos ativos digitais, o Brasil sancionou lei que promete regular o mercado. Publicada quinta-feira, 22, no Diário Oficial da União, a sanção presidencial ao Marco Legal das Criptomoedas oferece nova perspectiva para o setor, cuja crise divide opiniões entre especialistas da área de investimentos.
Principal moeda virtual, o Bitcoin chegou a valer US$ 68 mil em novembro do ano passado, o equivalente a R$ 351,8 mil na cotação de ontem (R$ 5,17). Desde a máxima, o ativo chegou a perder mais de 70% do valor e ontem era cotado a US$ 16,7 mil (R$ 86,8 mil.).
Entre os motivos para a queda estão o cenário internacional adverso para investimentos de risco, além de falências e fraudes envolvendo empresas do setor. O ano foi marcado pelo colapso das plataformas Terra/Luna, Celsius, Voyager, BlockFi e das gestora Three Arrow e FTX. Na terça-feira, a Core Scientific, uma das maiores mineradoras de Bitcoin do mundo entrou com pedido de falência. As perdas do setor somam mais de R$ 1,5 trilhão.
Risco elevado
Sócio e assessor de investimentos da Moinhos Investimentos, de Lajeado, Ricardo Bouvié afirma que a crise nas criptomoedas está relacionada à aversão aos ativos de risco no mercado global. Lembra que o mercado de renda variável, em especial de ações de tecnologia, também acumula quedas expressivas. “O impacto no Bicoin é maior, assim como em outras criptomoedas.”
Segundo Bouvié, diferente dos outros ciclos de queda, como 2014 e 2018, o cenário macroeconômico vem sendo mais decisivo na direção dos preços dos criptoativos. “Isso põe fim ao argumento de que criptomoedas poderiam ser encaradas como o ‘ouro digital’ e que seriam descorrelacionadas de todos os demais ativos.”
Para ele, diante das incertezas, tratar as criptomoedas como investimento representa um risco. “Continuamos preferindo ativos regulamentados, que possuam lastro/garantias e que apresentem possibilidade real de diversificação e descorrelação. Tudo que não encontramos nas criptos.”
Tendência de alta
Investidor e sócio do canal do @sejaumholder, Jonas Schwingel acredita que a queda nas criptomoedas faz parte do ciclo natural dos criptoativos. Lembra que o movimento de recuo valor dos ativos virtuais ocorreu em diferentes momentos desde a criação do Bitcoin, em 2009. “O Bitcoin foi considerado ‘morto’ por especialistas inúmeras vezes ao longo dos últimos anos.”
Segundo ele, em outros períodos de queda do Bitcoin, a moeda chegou a perder até 80% do valor, depois passou momento de estabilidade até crescer exponencialmente. “O Bitcoin dita o ritmo do mercado e as outras criptomoedas tendem a acompanhar este mesmo ciclo.”
Para 2023, Schwingel acredita que o Bitcoin deve apresentar recuperação, mas sem grandes saltos no valor. “Ainda estamos em um excelente momento de compra, com tendência a um novo ‘boom’ no início de 2024.”