Falta de interesse pelas brincadeiras, dores de cabeça, de barriga ou irritação excessiva. Mesmo que a tristeza e a ansiedade sejam sentimentos comuns no cotidiano, até mesmo para crianças, quando os sintomas ultrapassam os limites saudáveis da infância, devem ser observados com maior atenção. Nessas horas, o apoio dos pais e de profissionais da saúde mental são importantes.
Em entrevista ao Programa “Nossos Filhos”, da Rádio A Hora 102.9, na quinta-feira, 15, o médico psiquiatra Bruno Borba e a médica Cristine Weihrauch discutiram o tema “A criança e o estresse no final do ano”. Borba lembra que, durante a pandemia, as famílias acreditavam que as crianças estavam em casa protegidas, com menor risco de adoecer. Mas o isolamento trouxe consequências. A principal delas é a ansiedade e o surgimento de quadros depressivos acentuados.
“Ainda é bastante incipiente a procura por ajuda de profissionais da saúde mental. Na maioria das famílias há o sentimento de culpa por parte dos pais, perguntando onde erraram, o que eles fizeram para o filho estar assim. É inevitável esse sentimento”, garante o médico.
Por isso, mais do que aprender a lidar com a situação, as famílias devem buscar ajuda e, na maioria dos casos, um pediatra é consultado antes da indicação de um psicólogo ou psiquiatra infantil. Buscar os profissionais de forma precoce é importante. De acordo com Borba, quanto mais tempo de sintomas, mais difícil será o tratamento.
Irritabilidade, dores e desinteresse
A irritabilidade é um dos principais sintomas de estresse, em especial, para as crianças que não conseguem se expressar com facilidade. Outro sinal é quando ela deixa de fazer uma atividade que sempre gostou. De forma inconsciente, o estresse também pode causar dor de cabeça ou de barriga.
“As crianças não provocam uma dor de barriga para não ir à escola, elas têm componentes ansiosos ou depressivos que fazem com que ela sinta os sintomas clínicos por algo emocional. Não adianta dizer que é bobagem. Às vezes um remédio alivia, mas se isso se tornar repetitivo, é importante buscar ajuda também”, diz Borba.
Família unida
Para enfrentar a depressão ou estado de estresse dos filhos, Cristine diz ser importante dividir as responsabilidades entre os pais, seja na hora de levar a criança para a escola, ou ao consultório médico. A profissional ainda destaca que as formas de manifestar os sintomas variam de acordo com a idade das crianças.
As mais novas, que estão em fase escolar, têm a instituição de ensino como um dos principais locais para trazer informações de casa. Já as mais velhas, a partir dos 12 anos, conseguem se expressar melhor em relação aos problemas enfrentados. “Elas dizem de uma forma um pouco mais primitiva, mas mostram sua irritação, sua sobrecarga, suas crises de ansiedade. Falam que se sentem mais sozinhas, desanimadas”, destaca a médica.
Rotinas
Cristine diz que, por passarem tanto tempo na escola durante o ano, nas férias, a falta de rotina pode ser um problema. Por isso, definir horários para o café, para as brincadeiras, para a exposição às telas ou outras atividades é importante.
Outra dica da profissional é ser honesto com os filhos sobre a tristeza dos próprios pais. “As pessoas não devem se sentir culpadas por isso, ninguém quer estar deprimido”, garante. A conversa também é importante para que a criança entenda a tristeza e possa participar da melhora, tanto da saúde dela, quanto da família.