Neste último artigo do ano deveria falar só de amenidades. Da honra em ocupar este espaço por 19 vezes em 2022, da alegria em saber de familiares e amigos próximos ainda por aqui, da lembrança bucólica dos natais de criança, ainda sem energia elétrica, fazendo a pé os 3 km que nos separavam da igreja, para a cerimônia natalina, sob um manto de estrelas.
Só que, nestas últimas duas semanas, me vi num contraditório de sentimentos. De um lado, a notícia alvissareira do investimento de R$ 2,5 bi pela iniciativa privada daqui e, de outro, o anúncio da Languiru, quarta-feira, da demissão de 500 funcionários dos seus frigoríficos, pela queda nas vendas.
Ora, uma queda das vendas, num mundo que é comprador para proteínas animais, tem ingredientes diferentes dos de agroindústrias concorrentes de outros estados, as quais estão ocupando este vácuo. E não é só o caso da Languiru. Outras, do estado, caminham na mesma direção. A variável mais forte é um custo mais elevado do que o da concorrência de fora do estado, pois o nível tecnológico é o mesmo.
Dois fatores que pesam contra os daqui, como a Languiru: custo logístico elevado e a equivocada política tributária do Governo Leite, com o segmento, mormente as cooperativas. Explico: para compensar o custo adicional que representa nossa distância maior, na obtenção das matérias primas básicas, em relação aos estados de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro e, no sentido inverso, despachar o produto acabado para aqueles consumidores e o mercado externo, nossas empresas têm vantagens fiscais estaduais históricas. Pois a partir deste ano, o RS passou a reduzir estes incentivos em 5% ao ano. Num equivoco grave, desestimula e desfavorece nossas indústrias de transformação, favorece as de outros estados e incentiva a venda de commodities.
Imprescindível a região, “vítima” direta deste cenário negativo, ajudar a mudá-lo rapidamente, mas com visão de futuro, lembrando que o presente, alvissareiro, também é resultado de trabalhos estruturantes bem feitos, de décadas para cá.
Necessário forças políticas e institucionais se organizarem e pressionar para corrigir as discrepâncias, porém, de forma organizada. Ajudaria criarmos uma associação, com estrutura executiva remunerada, para gerir a articulação e o desenvolvimento regionais, colocando nossos prefeitos no circuito, hoje dissociados dele e subservientes ao Executivo estadual, a troco de verbas, numa visão micro, municipal e não macro, regional. As luzes amarelas de alerta se acenderam para o Vale, neste Natal. Quem sabe trabalhamos para multicolori-las no de 2023?