O ano era o 33 da nossa era, se não me engano. O dia uma quinta-feira. Por volta das sete horas da noite, sob a fraca luz das lamparinas de azeite, Jesus jantou com seus discípulos, fato que a História denominou como sendo esta a Última Ceia.
O cardápio era composto de um prato de guisado com feijão cozido em fogo lento e baixo, azeitonas com hissopo, uma erva com um sabor de hortelã, ervas amargas com frutas, uma pasta de tâmaras e nozes, e o pão e o vinho. Após o jantar, Jesus saiu com seus apóstolos e se dirigiu ao Horto das Oliveiras. Nesse lugar foi preso tarde da noite e levado à presença das autoridades.
Dias antes havia entrado em Jerusalém montado num burrinho, acompanhado por uma multidão que o saudava gritando “hosana”, palavra que significa “salve-nos”, pedindo que ele os salvasse, que os libertasse do sofrimento e opressão dos dominadores romanos. Era isso que o povo pensava que Jesus faria, quando lhes transmitia suas mensagens.
Para encurtar a história, por razões políticas, religiosas e econômicas que envolviam as lideranças de então, Jesus foi levado à presença de Pôncio Pilatos, que era o governador romano na Judéia. Ser governador ali, naquele tempo, não era uma honraria, era um cargo perigoso. Sua função primordial era manter o povo judeu tranquilo, com o objetivo de evitar uma guerra. O governante corria até risco de vida se fizesse alguma coisa errada.
Após interrogar Jesus, Pilatos chegou à conclusão de que ele não era culpado de nada. Sua esposa até o alertara para que nenhum mal lhe fizesse, porque havia sonhado, na noite anterior, que ele era um homem santo. Para se ver livre do problema que lhe apresentavam, Pilatos resolveu aproveitar-se de uma antiga tradição. Na época da Páscoa, todos os anos, o governador romano, com a aprovação do povo, concedia liberdade a um prisioneiro.
Certo de que a multidão que havia acolhido Jesus alguns dias antes, quando de sua entrada na cidade, o escolheria, mandou que trouxessem a sua presença Jesus e Barrabás para que o povo decidisse quem libertaria.
Barrabás era um terrorista, ladrão e assassino, que lutava contra a dominação romana, tipo de gente que chamavam de zelotes. Já havia atacado um grupo de soldados romanos na cidade de Cafarnaum e matado um deles.
Jesus havia sido preso por exigência das autoridades religiosas que não gostavam dele e queriam eliminá-lo rapidamente.
Por esta razão foi torturado e julgado no decorrer da noite da quinta-feira.
Segundo os evangelistas Marcos e João, a decisão final acontece entre às seis horas e às nove horas da manhã de sexta-feira, esta última a hora da crucificação. A distância entre o local em que Jesus foi condenado e o da crucificação era só de 600 metros.
Como o povo que o recepcionara dias antes só ficou sabendo da sua prisão e morte no decorrer do dia seguinte, e depois da execução, nada pôde fazer para defendê-lo, porque sabedores desta circunstância os chefes dos sacerdotes fizeram reunir diante de Pilatos seus asseclas, e ordenaram ao povo que, aos gritos, pedissem que ele soltasse Barrabás e condenasse Jesus à morte.
Como se vê, faz mais de dois mil anos que canalhas, por interesses pessoais, políticos, econômicos ou simplesmente por poder, enganam os cidadãos, transformando-os em massa de manobra. E Jesus, por bondade, pregado na cruz, ainda pediu ao seu Pai que os perdoasse, dizendo que eles não sabiam o que faziam.
Sabiam, Senhor. Sabiam, sim. E sabem até hoje, perfeitamente. E como naquele tempo, tem gente que nos dias que correm, pelos mesmos motivos, pelas mesmas razões, pelos mesmos interesses, escolhe ficar do lado errado da História.