De ninfa à libélula

JANDIRO KOCH

De ninfa à libélula

Quando a Editora da Univates cerrou as portas, já faz alguns anos, o Vale do Taquari ficou órfão de uma empresa de prestação de serviços editoriais. Provavelmente, assim como não sentem a falta de um sebo, os habitantes dessa região, sem uma grande tradição literária, nem perceberam o encerramento das atividades de um empreendimento cerne na cadeia de produção de livros.

De ninfa à libélula

Quando a Editora da Univates cerrou as portas, já faz alguns anos, o Vale do Taquari ficou órfão de uma empresa de prestação de serviços editoriais. Provavelmente, assim como não sentem a falta de um sebo, os habitantes dessa região, sem uma grande tradição literária, nem perceberam o encerramento das atividades de um empreendimento cerne na cadeia de produção de livros.

Assim como, sem grandes dúvidas, não devem estar cientes do significado do trabalho feito pela Libélula Editorial, de propriedade da escritora Meire Brod, que não somente vem ocupando o espaço vago, mas tem despontado com responsabilidade dentro de um ramo que, no mercado, a tal da mão invisível, tem muitos representantes de pouca credibilidade. Meire conhece o negócio do lado de cá e de lá, pois é a autora de “Dora”, publicado em 2014.

Veio dessa casa o mais recente livro de Augusto Darde, “Um Delacroix em Porto Alegre”. Parece-me o exercício literário mais maduro do escritor lajeadense, um texto requintado, cheio de referências que não deixam a narrativa demasiadamente fácil. Há muita confusão entre acessibilidade e algo simplório. Esse último, na verdade, despreza a capacidade dos leitores e a sua vontade de saber mais do que o raso cotidiano proporciona. De coisa chinfrim, nos bastam podcasts. Não é mesmo?

A história, que foi colorida com um tanto de autoficção, se passa entre Paris, Porto Alegre e o Vale do Taquari. Segue-se, pelas páginas, a busca de um jovem professor de francês, doutorando, por uma tela do pintor Eugène Delacroix (1798-1863), que estaria, segundo uma pista colhida ao acaso, com um colecionador de artes do Rio Grande do Sul.

As descrições da geografia, por onde o protagonista circula, transportam facilmente para lugares diversos, despertando sensações a partir das belezas e das fealdades retratadas. O ponto alto do texto está na requintada e constante análise dos ambientes e das personagens, o que faz não perder o interesse.

Trata-se, portanto, de um contínuo sem grandes picos ou depressões. As apresentações são melhores do que a sucessão de acontecimentos, lembrando o cinema autoral europeu, filmes sem sequências de ação e efeitos especiais com objetivos de tornarem a película um blockbuster. A filmografia autoral que seduz pelos temas existenciais.

Um belíssimo presente natalino para amigos. Um ótimo projeto da Libélula Editorial que, de ninfa, rapidamente se tornou donzelinha. E, novamente, o melhor de Augusto Darde.

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