De Lajeado à cidade-mãe pelo Rio Taquari

A BORDO DO CISNE BRANCO

De Lajeado à cidade-mãe pelo Rio Taquari

Reportagem do A Hora percorreu a rota entre Lajeado e Taquari pelo rio. Memórias e expectativas para a volta do trânsito náutico à região fazem parte do trajeto

De Lajeado à cidade-mãe pelo Rio Taquari
Crédito: Bibiana Faleiro
Vale do Taquari

Cerca de 70 quilômetros e quase cinco horas de viagem pelo rio separam o Porto dos Bruder, em Lajeado, do Porto de Taquari. A rota não é utilizada para transporte de carga ou passageiros há quase 10 anos, quando a Navegação Aliança fez a última viagem pelo percurso. Nas últimas semanas, no entanto, o rio voltou a ser navegado com a vinda do Cisne Branco à região. Na quarta-feira, o A Hora acompanhou o último passeio do barco até a cidade-mãe do Vale, antes de retornar a Porto Alegre.

Com mais de 150 passageiros, a embarcação de 40 toneladas e 40 metros saiu do porto lajeadense às 11h07. Grande parte dos turistas a bordo era de Taquari e muitos fizeram o trajeto para relembrar os tempos em que frequentavam o rio com os pais e avós. Para outros, como o casal Erony de Freitas, 85, e Martin Barruffe, 79, a viagem foi a primeira experiência dentro de um barco.

Na descida do rio, a embarcação deixou para trás a ponte da BR-386 e o Belvedere de Lajeado. Pelo caminho, passou pela Escadaria de Estrela, antiga Polar e Casa do Morro. Perto das 12h40, chegou à barragem de Bom Retiro do Sul. Ao entrar na eclusa, o processo de desnivelamento da água iniciou. Depois de 25 minutos e 12 metros de desnível, os portões da eclusa se abriram e o barco seguiu pela parte baixa do rio.Pelas águas, os pescadores faziam a alegria dos turistas.

Às 14h07, o barco chegou à ponte de Mariante, em Venâncio Aires, e os passageiros tinham pelo menos mais duas horas de viagem. Mas, apesar da longa duração, o passeio tem atrativos. Uma cerveja, água ou picolé, volta e meia eram requisitados aos garçons. Perto do meio-dia, um almoço feito pelo Chef Valmir Coelho, 50, foi servido, com um cardápio diversificado a bordo.

O mais perigoso dos rios

O comandante do Cisne Branco é Wagner Alves, 37, que trabalha com embarcações desde jovem. Mesmo acostumado com os percursos pelos rios de Porto Alegre, para navegar pelo Vale, ele recebeu auxílio do lajeadense Paulo Roberto da Silva, 55, piloto fluvial e “prático” no Rio Taquari.

O Seu Paulo, como é chamado, navega pelas águas da região há 40 anos. Pela experiência, o “prático” conhece bem o caminho até Taquari, e conta ser um dos mais difíceis da região. “Este é um percurso em que navegamos em um canal estreito. A gente depende do ponto da água. Graças a Deus não pegamos enchente, está tudo calmo, bom de navegar”, comenta.

Seu Paulo destaca que nas encostas do rio há pedras e cascalhos, por isso a navegação deve ser no centro da hidrovia, e essa é uma das adversidades do trajeto. A outra é a pouca profundidade das águas.

Perto de Mariante, por exemplo, havia apenas três metros abaixo do nível do rio. O Cisne Branco possui um calado de cerca de 2 metros. Assim, com um pouco menos de água, o barco poderia apresentar problemas ao passar pelo ponto. Em tempos de seca, em especial em janeiro, o trajeto é mais perigoso.

“É bem mais difícil navegar no Rio Taquari do que qualquer outro rio nosso aqui. É uma navegação restrita, porque precisa ter todo o cuidado possível”, salienta Paulo.  O ponto mais crítico do trajeto é depois da barragem de Bom Retiro do Sul, devido ao assoreamento da hidrovia, ou seja, a profundidade é ainda menor. “Ali, dependendo da ocasião, temos até que diminuir a velocidade, de sete nós por hora pode chegar a dois”, conta.

O comandante do Cisne Branco é Wagner Alves. Na imagem, o momento da passagem pela Barragem Eclusa de Bom Retiro do Sul. Crédito: Bibiana Faleiro

Até Porto Alegre

Em abril de 2013, o A Hora percorreu 145 quilômetros do Porto de Estrela até Porto Alegre. Naquele ano, a reportagem acompanhou uma das últimas travessias feitas pela Navegação Aliança, que abandonou a rota meses depois.

Há quase dez anos, o trajeto já sofria com os cascalhos acumulados no fundo das águas. Em abril do ano passado, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) emitiu uma Ordem de Serviço para a dragagem no Taquari, entre Bom Retiro do Sul e General Câmara. A iniciativa buscou melhorias na hidrovia, para possibilitar o trânsito fluvial.

Presidente da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC – VT), Ivandro Rosa destaca que este é um dos requisitos para a retomada da navegação no local. Desde 2021, o serviço ainda não foi feito, e está em fase licitatória. A demanda também inclui a manutenção do canal de navegação e da barragem de Bom Retiro do Sul por cinco anos. Para Rosa, a expectativa de viabilizar uma segunda modalidade de transporte ao Vale é positiva.

Cisne Branco de volta à região

Proprietária do Cisne Branco, Adriane Hilbig lembra que o barco foi construído na Ilha da Pintada, em Porto Alegre, pelo pai e pelos sócios, entre 1976 e 1978. Desde o início, se chamou Cisne Branco, em homenagem ao Hino da Marinha. O transporte veio a Lajeado pela primeira vez há 34 anos.
De acordo com Luis Eurico Librelotto, da operadora de turismo Librelotto Tour, as negociações para trazer o barco de volta ao município iniciaram em 2020, mas o projeto só saiu do papel este ano, com a promessa de retornar ao Vale em 2023 e 2024.

Na edição deste ano, 2912 pessoas participaram dos passeios. Muitas delas, com lembranças do passado. “Num dos passeios, duas senhoras pediram para falar comigo, estavam relembrando quando eram crianças. Uma disse que achava que nunca mais iria navegar pelo Taquari”, destaca Librelotto.

Hoje, ele acredita haver uma lacuna no turismo náutico regional e um barco próprio para a região poderia unir o turismo fluvial aos atrativos já consolidados no Vale. Até que a possibilidade de ter uma embarcação própria para a região se torne viável, a ideia é manter a parceria com o Cisne Branco.

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