Carregar pedras e produzir massa para a construção civil nunca foram problemas para Nelson Vieira, 53. Acostumado com o trabalho na obra, há cerca de dois anos, no entanto, começou a sentir dores abdominais e nas costas a cada movimento mais pesado no trabalho. Com os exames, veio o diagnóstico do câncer de próstata, e a força para enfrentar o tratamento.
No começo, a doença é assintomática. Depois, pode surgir sangue e necessidade frequente de urinar, além de dores na região e nos ossos. Mas poucos pacientes são diagnosticados a partir dos sintomas. Os exames periódicos de toque retal e dosagem de Antígeno Prostático Específico são recomendados a partir dos 45 anos. Caso necessário, são feitos exames complementares, incluindo tomografias.
Foi por meio do procedimento que Nelson descobriu os dois tumores. Sem necessidade de cirurgia, foram os meses de quimioterapia que fizeram o crescimento dos nódulos estabilizarem. O apoio da família também foi essencial.
“Eu chorei muito. Estamos há 30 e poucos anos juntos. Pra mim, caiu o mundo quando fiquei sabendo que ele tinha câncer”, conta a esposa Cristina da Silva Carvalho, 72, que acompanhou o marido durante todo o tratamento. Mas o morador de Estrela diz não ter se assustado com a notícia, e em nenhum momento desanimou.
“Foi Deus que me deu forças. Eu não acreditava que estava doente. Porque quando a pessoa acredita que tá com uma doença braba, não se anima mais pra nada”, ressalta. Hoje, Nelson continua com o tratamento, mas já voltou a andar de bicicleta e caminhar pelas ruas da cidade.
Apoio emocional
No Brasil, a estimativa é de que 65 mil novos casos de câncer de próstata sejam diagnosticados por ano. A doença é a segunda mais comum entre os homens brasileiros e cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos.
Na manifestação do câncer, alguns tumores podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos. A maioria cresce de forma lenta, muitas vezes, sem dar sinais durante a vida e sem ameaçar a saúde do homem.
Depois do diagnóstico, o amparo psicológico aliado ao tratamento médico é fundamental. Para encarar as dificuldades que podem surgir na busca pela cura ou remissão da doença, é importante também fortalecer a família e os amigos.
“É preciso ter quem ajude o paciente a não desistir nos momentos difíceis. Só que muitas vezes a família também precisa desse apoio, porque não está preparada”, destaca a psicóloga da Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan), Andrieli Moraes e Silva.
Conviver com outros pacientes que enfrentam o câncer também pode ajudar. “O questionamento que as pessoas mais fazem quando recebem o diagnóstico é: ‘por que eu?’. E então eles vêem que não estão sozinhos, que tem outras pessoas passando por isso também”, completa Andrieli.
A Aapecan é uma das entidades onde é possível encontrar essa ajuda. Uma ONG sem fins lucrativos que atende de forma gratuita pessoas com diagnóstico de câncer em situação de vulnerabilidade.
Os atendimentos são individuais e em grupo, tanto para o paciente quanto para a família. A instituição atende pessoas de todas as idades, incluindo crianças. Além do apoio psicológico, também são oferecidos remédios e próteses capilares.
Autocuidado
Conforme Andrieli, em comparação ao Outubro Rosa, a adesão às campanhas do Novembro Azul são baixas. “Então, focamos muito no autocuidado, na atenção primária e secundária que é a parte dos exames, do rastreamento. Sempre que dá, a gente faz palestras e roda de conversa”, conta.
Neste ano, a campanha da entidade tem como mote a frase “Eu me cuido nos 365 dias do ano”, a fim de estimular o autocuidado com foco na alimentação, prática de atividades físicas e exames de rotina.
Um estudo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) mostra que 15 minutos diários de exercícios físicos são suficientes para reduzir a taxa de mortalidade em pacientes com câncer de próstata. Com mais tempo de atividades como corrida, natação ou pedalada, a diminuição do risco de mortalidade pode ser de 35%.
ENTREVISTA | Rafael Seewald, médico oncologista do Hospital Bruno Born (HBB)
“Muitas dessas doenças poderiam ser prevenidas com acompanhamento médico”
Quais as principais causas e sintomas do câncer de próstata?
Os principais fatores de risco são idade (a incidência da doença aumenta a partir dos 50 anos), histórico familiar (quando um irmão é acometido ou quando há mais casos na família), alimentação com gorduras e pobre em cereais, fibras, grãos, frutas, legumes e vegetais, sedentarismo e obesidade. Homens negros também têm mais risco de desenvolverem a doença e ela tende a ser mais agressiva.
Embora o foco das campanhas seja o combate ao câncer, o mês também traz a conscientização sobre a saúde masculina. Quais são as doenças mais comuns entre os homens?
De acordo com o IBGE, homens brasileiros vivem em média sete anos a menos que as mulheres e apresentam maior incidência de certas doenças. Ainda, as doenças cardiovasculares como o infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral são as principais causas de morte em homens, representando até 30%. Fatores de risco são a hipertensão, dislipidemia (colesterol alto), diabetes, tabagismo, estresse, sedentarismo, obesidade e consumo de bebidas alcoólicas em excesso.
Algumas dessas doenças poderiam ser evitadas com acompanhamento médico frequente?
Muitas dessas doenças poderiam ser prevenidas com acompanhamento médico. Um estudo publicado recentemente mostrou que 44% das mortes por câncer ocorridas no mundo tiverem relação direta com algum fator de risco evitável. Mas, apesar de todas as campanhas, de 2010 a 2019 houve aumento de 20,4% destas mortes. Estima-se que o ato de fumar seja responsável por 36% das mortes “evitáveis” nos homens.
O que aumenta o risco?
- A idade é um fator de risco importante, já que os casos aumentam após os 50 anos;
- Pai ou irmão com câncer de próstata antes dos 60 anos, podem refletir em fatores genéticos;
- Maus hábitos alimentares ou estilo de vida pouco saudável;
- Excesso de gordura corporal;
- Exposições a produtos comuns da indústria química, mecânica e de transformação de alumínio, como arsênio (usado como conservante de madeira e agrotóxico), produtos de petróleo, motor de escape de veículo e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA);