O eleitor gaúcho deu fim a uma tradição de mais de duas décadas. Pela primeira vez desde que a reeleição foi instituída para cargos executivos no país, um governador conquistou um segundo mandato no Rio Grande do Sul. O feito coube a Eduardo Leite (PSDB), que angariou 3.687.126 votos, ou 57,12% do total.
Eduardo venceu neste domingo, 30, uma disputa acirrada com Onyx Lorenzoni (PL), hoje deputado federal pelo quinto mandato. Ele reverteu uma diferença de quase 12% registrada entre ambos no primeiro turno. O ex-ministro do governo Jair Bolsonaro recebeu 2.767.786 votos (42,88%).
Foi a segunda vez na história que o candidato mais votado no primeiro turno do RS sofre a virada no segundo. Em 1998, Olívio Dutra (PT) foi eleito governador do RS após ficar atrás de Antônio Britto (MDB) na etapa inicial.
Apoiado por seis partidos, Eduardo Leite liderou a coligação “Um só Rio Grande”. O novo vice-governador é Gabriel Souza (MDB), deputado estadual em segundo mandato, ex-líder do governo de José Ivo Sartori na Assembleia Legislativa. Também presidiu o parlamento gaúcho em 2021.
Renúncia e neutralidade
A vitória neste domingo consolida um projeto de governo iniciado há oito anos, por Sartori. Eduardo Leite deu sequência às reformas após se eleger e derrotar seu antecessor nas urnas, em 2018. No fim do ano passado, porém, ao tentar se colocar como presidenciável pelo PSDB e perder as prévias para João Dória, quase colocou a continuidade em risco.
Em março, Eduardo renunciou ao Palácio Piratini em uma última tentativa de disputar o Planalto, o que não avançou. Crítico da reeleição, decidiu pleitear um novo mandato em junho, após o então governador, Ranolfo Vieira Junior, se retirar da disputa. A candidatura foi homologada em julho.
Para vencer, Eduardo driblou divergências dentro do principal aliado, o MDB, onde uma ala que defendia a candidatura própria não abraçou a aliança com o PSDB. Também passou por uma apuração emocionante no primeiro turno, quando foi ao segundo turno por uma diferença de apenas 2 mil votos sobre Edegar Pretto (PT).
Pressionado por aliados e pela opinião pública sobre um posicionamento ao segundo turno presidencial, Eduardo optou pela neutralidade. Recebeu apoio de partidos ligados à centro-esquerda e, na última semana de campanha, o PT declarou “apoio crítico” ao governador reeleito.
“O RS disse o que quer”
Por volta das 19h30min, Eduardo discursou no comitê de campanha, no bairro Navegantes, na capital gaúcha. Ao lado do vice Gabriel, do governador Ranolfo e de outros apoiadores, destacou a caminhada até a vitória, escolha do eleitor por um projeto que está “colocando o Rio Grande do Sul em ordem” e promete um novo governo com maior diálogo.
“No mano a mano, comparando projetos, currículos e biografias, o RS disse o que quer. Vou dar o melhor de mim para honrar essa expectativa de um povo que quer um governo eficiente”, pontua Eduardo, que reconheceu o voto de partidos e políticos de diferentes correntes ideológicas como fundamentais para a vitória.
“Temos a consciência de que muitos votaram em nós mesmo tendo divergências com a nossa agenda. Mesmo com essas diferenças, seus votos validaram o nosso trabalho, o que reforça a necessidade de fazermos um governo ainda mais aberto ao diálogo, com quem pensa diferente e com os que não votaram em nós para construirmos soluções ao RS”.
“Fizemos uma campanha limpa”
Por volta das 19h de domingo, Onyx se manifestou no Hotel Deville Prime, no bairro Anchieta, em Porto Alegre. Ele parabenizou Eduardo pela vitória e disse que ligou para o governador reeleito quando a apuração já apontava a vitória tucana. “Na democracia, a decisão do povo é soberana. Fizemos campanha limpa, propositiva, sem ataques e voltada ao presente”, salienta.
Onyx credita a derrota à união das esquerdas em prol da candidatura de Eduardo e comemora o bom desempenho da direita gaúcha nessa eleição. “É importante reconhecer que, pela primeira vez em várias décadas, a direita gaúcha passa a ter forças a ponto de chegar em um segundo turno. Passa a ser competitiva e terá papel preponderante nos próximos anos”.
No Vale
Se no primeiro turno Onyx venceu em 33 dos 38 municípios da região, no segundo turno reduziu a 18. Eduardo manteve a vitória nas cinco cidades onde havia sido o mais votado em 2 de outubro e reverteu a desvantagem em outras 13. Destaque para Lajeado, Taquari e Teutônia, três dos maiores colégios eleitorais da região. Neste último a diferença entre ambos foi apenas 15 votos.
No somatório da região, contudo, o ex-ministro venceu com 51,18% dos votos válidos. Foram 116.107 votos, contra 110.739 de Eduardo (48,82%). Onyx teve seu melhor desempenho em Anta Gorda, com 69,91% dos votos. O futuro governador teve a maior diferença em Canudos do Vale, com 68,36%.
Vereador do PSDB em Lajeado e uma das principais lideranças do partido no Vale, Márcio Dal Cin exaltou a capacidade de Eduardo dialogar e projeta um novo mandato com crescimento no RS. “Acreditamos que ele conseguiu, no primeiro mandato, colocar tudo em dia. Agora, vislumbramos um crescimento maior, com dinheiro para poder investir”, frisa.
Trajetória
Aos 37 anos, Eduardo Leite se consagra como um fenômeno da política do Rio Grande do Sul. Começou a trajetória como vereador em Pelotas, primeiro de suplente e depois eleito, em 2008. Também foi secretário municipal e, em 2012, foi escolhido para comandar o quarto maior colégio eleitoral do RS.
Em 2016, decidiu não disputar a reeleição, mas ajudou a eleger sua vice, Paula Mascarenhas. Em se lançou candidato ao Palácio Piratini e derrotou Sartori, que buscava um novo mandato. No ano passado, em rede nacional, foi o primeiro governador brasileiro a se assumir homossexual.