Nenhum dos candidatos ao cargo máximo do país merecia uma vitória no primeiro turno. Aliás, alguns sequer deveriam ter participado desta etapa tão importante em nossa frágil democracia. Mas isso é um debate que já não faz mais sentido. A eleição passou e o nosso compromisso é respeitar a escolha da maioria. Mas voltando ao tema inicial deste breve tópico, é muito importante para o futuro da nossa nação que o vencedor tenha sido escolhido por um detalhe, e não com um grau elevado de aprovação. Lula precisa saber que ele não possui um cheque em branco para fazer o que bem entender. Muito pelo contrário. O país está rigorosamente dividido, e com um congresso muito mais inclinado à direita. Mais do que nunca, Lula precisa andar na linha. E isso é um alento em meio a tanta insegurança e desconfiança com relação ao terceiro mandato do petista.
Legítima defesa?
A cena da deputada federal Carla Zambelli (PL) empunhando uma arma de fogo e perseguindo um homem em via pública é um tapa na cara da sociedade. A alegação de “legítima defesa” é facilmente contestada pela clareza das imagens. As diversas filmagens demonstram uma parlamentar que parece estar acima da lei, e com a certeza de que nada ou ninguém poderá questionar o seu ato irresponsável. Faz alguns dias, assistimos estarrecidos a um ex-parlamentar atacando agentes da Polícia Federal. No caso, era Roberto Jefferson, que ganhou fama mundial ao entregar o esquema do Mensalão, conduzido pelo PT ainda no primeiro mandato de Lula. Ambos os os casos mostram que ser político no Brasil é, muito mais do que em outras nações, sinônimo de extremo poder. E isso é um dos principais problemas da nossa democracia.
Protagonismo
O argumento de que as recorrentes e – por vezes – inusitadas intervenções sempre obedeceram aos preceitos da isonomia são questionáveis no momento em que um lado tem mais liberdade para empulhar. E isso restou visível para o eleitor menos apaixonado ou compromissado com determinada ala ideológica. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acertou em muitas decisões. Mas exagerou e muito no protagonismo, e pecou no equilíbrio. Fica a lição para o próximo pleito.
“Radiador fervendo”
Presidente estadual licenciado do PSDB e deputado federal reeleito, Lucas Redecker foi entrevistado pela Rádio A Hora na manhã de ontem. E destacou os ânimos acirrados na campanha eleitoral, tanto a nível estadual, quanto nacional. “Foi uma eleição com o radiador fervendo”, destacou. “‘Nós contra eles’ foi uma característica desta eleição”, acrescenta. Mas não é bem assim. Essa característica tem sido utilizada de forma velada há muitos pleitos. E tende a prosseguir.
Milhões de abstenções
O pleito geral registrou mais de 30 milhões de abstenções. Um número muito significativo e que demonstra o tamanho da insatisfação do brasileiro com a política nacional. No total, 20,56% dos eleitores brasileiros simplesmente abriram mão do voto em um dos momentos mais polarizados da história política do Brasil. Nada que surpreenda, a bem da verdade. Em 2018, o índice foi praticamente o mesmo.
• Eduardo Leite (PSDB) abriu mão do cargo em meio ao mandato para tentar a presidência. Não conseguiu e voltou atrás. Ele também não cumpriu a promessa de rejeitar uma eventual campanha à reeleição. Mesmo assim, o eleitor gaúcho depositou novo voto de confiança no jovem tucano, que entra para história ao ser reeleito.
• Leite conquistou quase um milhão de votos a mais do que Onyx Lorenzoni (PL). Para isso, o apoio da esquerda gaúcha foi crucial. No discurso da vitória, o futuro governador reeleito citou a participação do PT na campanha do segundo turno. Resta saber como será a relação entre eles a partir de janeiro de 2023.
• Para o Vale do Taquari, uma das expectativas com a vitória do jovem tucano é o futuro das rodovias estaduais. O processo de concessão está na geladeira. E ele prometeu mudanças aos prefeitos da região em troca de apoio. Aguardemos.
• Vice-governador eleito, Gabriel Souza (MDB) já desponta como provável candidato a governador em 2026. É cedo, eu sei. Mas é isso.
• Jair Bolsonaro (PL) conquistou mais votos em 2022. Em 2018, recebeu o apoio de 57,7 milhões de eleitores. Ontem, foram mais de 58 milhões. Por outro lado, Lula (PT) angariou apoio de 60,2 milhões de brasileiros neste ano, contra 47 milhões de Haddad (PT) em 2018.
• A “campanha” contra Jair Bolsonaro (PL), que envolveu entidades, grupos de comunicação dos principais centros do país, artistas, ONG’s e afins não deu trégua, também, no dia do pleito. Nesse domingo, a agenda negativa contra o atual presidente persistiu sem piedade. É um movimento que ficará registrado na história. Doa a quem doer.