Neste domingo, 30, mais de 8,5 milhões de eleitores gaúchos definirão os rumos do Rio Grande do Sul pelos próximos quatro anos. O segundo turno da eleição ao Piratini se desenha como uma das mais acirradas desde a redemocratização, após um primeiro turno de surpresas e apuração dramática.
Mais votado em 2 de outubro, o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) é o candidato ligado ao presidente Jair Bolsonaro e conta com expressiva adesão de eleitores identificados com o campo da direita. Já o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), que chegou ao segundo turno com uma diferença de apenas dois mil votos para o terceiro lugar, tenta se distanciar da polarização nacional.
No Vale, os candidatos possuem diferentes bases de apoio. Onyx foi o mais votado no somatório dos 38 municípios no primeiro turno (fez 39,61% dos votos válidos), com vitórias em 33 deles, enquanto Eduardo, que alcançou 23,62%, teve ampla adesão de prefeitos à sua chapa, com apoio declarado de 21 gestores municipais ao segundo turno.
Para aproximá-los ainda mais do Vale do Taquari, o A Hora ouviu os dois concorrentes ao governo do RS. Em parceria com entidades e movimentos regionais, elaborou questionamentos referentes às demandas de diferentes setores da economia.
ENTREVISTA – ONYX LORENZONI (PL)
“Vamos governar às pessoas”
Se o senhor for eleito, qual a sua proposta para infraestrutura e logística do Vale do Taquari? O que propõe para as rodovias estaduais e ao terminal multimodal de Estrela?
A infraestrutura ainda é um dos maiores gargalos para o aumento da competitividade e, por consequência, do desenvolvimento da economia do Vale. A função primordial do governo é garantir as condições necessárias para que a infraestrutura seja qualificada, eficiente e reduza os custos de transação em todos os serviços. Primeiro, vou concluir todas as obras que o ex-governador que renunciou aos gaúchos deixou pelo caminho. O que mais têm é obra inacabada ou mal começada.
O pedágio, quando necessário, precisa de preço justo e estradas em boas condições, não pode dividir uma comunidade, como acontece em Cruzeiro do Sul e Encantado. Vamos trabalhar para que sejam duplicadas as rodovias entre Venâncio Aires e Muçum. Sobre o terminal multimodal, em 2019, juntamente com o ministro Tarcísio e o presidente Bolsonaro, liberamos o Porto para o município de Estrela, cujo processo estava emperrado por conta da burocracia.
Vamos trabalhar para que o terminal funcione de verdade. Junto à RUMO, vamos reativar o ramal ferroviário e viabilizar o uso da navegação e unir esforços para que a gente tenha esse importante terminal rodo-hidro-ferroviário. O Aeródromo Regional do Vale do Taquari também será olhado como prioridade. Junto à Secretaria Nacional da Aviação Civil vamos trabalhar para homologar o restante da pista, para asfaltar o aeródromo e o acesso. Um aeródromo será importante para o turismo e o desenvolvimento econômico do Vale.
O Vale se destaca pela produção de alimentos. Qual sua proposta para fortalecer o segmento das agroindústrias e cooperativas, que desempenham um papel estratégico para a economia regional?
A agricultura é fundamental para a economia gaúcha, pois dela derivam inúmeros segmentos das agroindústrias, além de ser a base das nossas exportações. O cooperativismo é um importante elemento na organização produtiva agropecuária do RS e podemos destacar as cooperativas do Vale do Taquari, entre elas a Languiru e a Dália.
Não fosse o grande crescimento do setor, a situação econômica do RS estaria ainda mais difícil. Iremos liderar a implementação de um conjunto de ações, por meio de orientação técnica, apoio ao crédito, investimentos e resoluções mais rápidas. Também vamos fortalecer o APL (Arranjo Produtivo Local), liderado pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari.
O Estado está dividido em 28 Coredes, modelo reconhecido como um dos melhores formatos de organização social com vistas a identificar potencialidades e demandas regionais. Como pretende valorizar a participação da sociedade civil organizada, inclusive na definição de parte do orçamento do Estado?
Se alguém quiser encontrar o governador no Palácio Piratini, precisará ir a Porto Alegre às segundas-feiras. Nos demais dias, vou circular por todas as regiões e ouvir os gaúchos. Vamos governar às pessoas, integrados com os municípios e também os Coredes. O Estado precisa estar em plena integração com os municípios, que estão mais próximos dos cidadãos e implementam grande parte das principais políticas públicas. O modelo de secretarias regionais, que funciona muito bem em estados como Santa Catarina, pode ser eficaz para viabilizar essa integração. Com políticas integradas teremos mais foco, melhores resultados e menor custo. Nossa escolha é trabalhar para as pessoas. Nossa missão é servir aos gaúchos e transformar vidas.
A região se tornou destaque por conta de atrações turísticas, como o Cristo Protetor e o Trem dos Vales. Quais estratégias o senhor têm previstas para divulgar o Vale como destino religioso e de natureza?
O RS tem uma tradição cultural riquíssima, que é um orgulho para os gaúchos e brasileiros. O Vale tem uma beleza natural e muitas atrações turísticas. Apresentei ao presidente Bolsonaro o Cristo Protetor de Encantado e tive a oportunidade de visitar o local. Junto à RUMO, viabilizamos os passeios do Trem do Vales. Precisamos valorizar e estimular o desenvolvimento do setor cultural e da economia criativa, integrando com o turismo, também religioso, gerando emprego e renda em ambas as áreas, pela sinergia entre elas.
Vamos promover as rotas turísticas gaúchas no Brasil e no exterior. O Vale tem enorme potencial turístico. No entanto, falhas e carências estruturais dificultam o desenvolvimento do turismo. A conclusão do Aeródromo do Vale do Taquari é fundamental. E o Banrisul será parceiro para financiar o empreendedor do turismo. Vamos trabalhar para que os pontos turísticos tenham acessos e sinalização de qualidade e não vamos permitir o modelo de pedágios que divide a região, prejudicando o turismo da parte alta do Vale.
O Pro_Move Lajeado foi reconhecido como melhor ecossistema de inovação em desenvolvimento do país. Como o governo do RS pretende auxiliar na ampliação dos ecossistemas de inovação, garantindo a aplicação da economia criativa e melhor aproveitamento das startups?
O Pro_Move tem uma missão importante na criação de um ambiente propício ao desenvolvimento econômico, qualidade de vida e oportunidades para os trabalhadores. Estimula a quádrupla hélice, ou seja, o governo, empresários, instituições de ensino e comunidade. O aumento de produtividade é objetivo central para conseguirmos fazer o RS voltar a crescer.
Para tanto é fundamental o investimento em inovação e tecnologia. Pretendemos estimular as startups e apoiaremos o desenvolvimento de parques tecnológicos e hubs de inovação. Esses ecossistemas possibilitarão que jovens pesquisadores e cientistas das universidades gaúchas sejam estimulados a buscar parceria com empresas privadas para transformar ideias em produtos. Isso gera riqueza, bem-estar e desenvolvimento para todos.
ENTREVISTA – EDUARDO LEITE (PSDB)
“A inovação é o caminho (…)”
Se o senhor for eleito, qual a sua proposta para infraestrutura e logística do Vale do Taquari? O que propõe para as rodovias estaduais e ao terminal multimodal de Estrela?
A qualificação da nossa infraestrutura do Estado exige muitos investimentos. Parte pode e deve ser feita pelo Estado, diretamente. Mas há limitação do Estado para investir sozinho em tudo o que é necessário. Por isso, a concessão de rodovias é muito importante e viabiliza investimentos, como o que pretendemos fazer no Vale, através do bloco 2 das concessões. Ele foi suspenso para aprofundarmos o diálogo com a região sobre localização de praças de pedágio. Não é tarefa simples, pois precisamos conciliar o interesse privado com o interesse público.
Passada a eleição, vamos retomar conversas para que possamos levar adiante o plano e viabilizar investimentos, ampliando a capacidade das estradas, como na ERS-130, a RSC-453, e a ERS-129 e assim podemos chegar a um ponto convergente sobre as praças de pedágio. E quanto ao terminal multimodal, tivemos um avanço sobre a movimentação portuária, quando os terminais da antiga Cesa foram concedidos à iniciativa privada. Em parceria com o município de Estrela, vamos ajustar as condições para esse terminal, no que apostamos como uma oportunidade para que tenhamos redução de custos logísticos. Com isso, outras regiões terão mais acesso e conexão mais fácil com o Porto de Rio Grande.
O Vale se destaca pela produção de alimentos. Qual sua proposta para fortalecer o segmento das agroindústrias e cooperativas, que desempenham um papel estratégico para a economia regional?
Atuarmos na facilitação da burocracia. É importante para que se formem as cooperativas e agroindústrias. Tem uma série de questões burocráticas no sistema tributário, nos próprios alvarás de Corpo de Bombeiros, em licenças ambientais, sobre as quais já estamos atuando, para reduzir o tempo de emissão de licenças e tornar isentas algumas atividades do alvará.
Assim, conseguimos facilitar a formação destes empreendimentos. E aprofundar os recursos disponibilizados com subsídios, como fazemos com o Juro Zero e outros, além de propor a redução de custos às agroindústrias e cooperativas que agregam valor ao que se produz no campo. Com isso, geramos mais riqueza, emprego e renda. A gente olha com atenção especial a elas, e são fortalecidas na medida em que logística, estradas e terminal multimodal são melhorados. Tudo isso ajuda ao desenvolvimento econômico a partir dessa vocação.
O Estado está dividido em 28 Coredes, modelo reconhecido como um dos melhores formatos de organização social com vistas a identificar potencialidades e demandas regionais. Como pretende valorizar a participação da sociedade civil organizada, inclusive na definição de parte do orçamento do Estado?
Os Coredes cumprem papel relevante na articulação dos planos de desenvolvimento, a partir das entidades e das lideranças locais, discutindo aquilo que a região é vocacionada e estabelecendo prioridades de investimentos. Em primeiro lugar, diálogo próximo e aberto do governo com os Coredes. Em segundo, incentivar a mobilização através da Consulta Popular.
Pagamos dívidas de governos anteriores para reestabelecer a confiança na definição do orçamento a partir da consulta, e fizemos alterações, estabelecendo que os recursos definidos são para projetos de desenvolvimento. Tiramos projetos de financiamento daquilo que é função recorrente do Estado, como saúde, segurança, educação. Não dá para colocar projeto de desenvolvimento local para disputar com viaturas, que é uma tarefa obrigatória. Então, é muito importante destacar essa mudança, que permite a organização dos projetos de desenvolvimento.
A região se tornou destaque por conta de atrações turísticas, como o Cristo Protetor e o Trem dos Vales. Quais estratégias o senhor têm previstas para divulgar o Vale como destino religioso e de natureza?
Além de ações previstas ao turismo, temos ações em andamento. Isso mostra que a população pode ter confiança em nosso projeto. Estamos encaminhando a pavimentação do acesso ao Cristo Protetor, com recursos do governo, conveniado com o município de Encantado. Conveniamos com três municípios a obra da ciclovia, que será a maior intermunicipal do Brasil, criando um atrativo turístico importante nesta região, num cenário belíssimo.
Temos convênios com Roca Sales, Muçum e Santa Tereza para fazer pavimentação de uma estrada que vai conectar ao Vale dos Vinhedos, proporcionando o desenvolvimento do turismo nessa região. E Lajeado apresentou projeto para fazer a extensão da via marginal na orla do Rio Taquari, com recursos do governo do Estado para melhor aproveitamento do ponto de vista turístico desta riqueza natural. Há vários investimentos acontecendo, e vamos aprofundar essas parcerias com a região.
O Pro_Move Lajeado foi reconhecido como melhor ecossistema de inovação em desenvolvimento do país. Como o governo do RS pretende auxiliar na ampliação dos ecossistemas de inovação, garantindo a aplicação da economia criativa e melhor aproveitamento das startups?
A inovação é o caminho para o futuro, e o Estado precisa cada vez mais se tornar destaque, sem dúvida nenhuma. É importante respeitar as universidades, e não achar que estudantes que pensam diferente da nossa visão política são merecedores de morrer queimados. Se não formos acolhedores aos jovens, estudantes universitários, seremos um estado com menos talentos. E isso gera um impacto. A Univates é uma grande parceira, com a capacidade que tem de apresentar bons projetos.
Vamos avançar através dos nossos bancos de desenvolvimento e oferta de crédito com custos subsidiados, com o Estado assumindo parte do risco para o desenvolvimento de Startups. E também desenvolver grandes eventos de inovação, como o South Summit em Porto Alegre, e que queremos fazer pelo interior do RS, ajudando a potencializar isso.