Outubro é um dos meses mais importantes do ano. Digo isso porque, já na primeira semana, temos o Dia da Natureza. Em seguida, lembramos que foi em outubro de 1988 que a histórica Constituição Brasileira foi promulgada, período em que o Brasil já navegava em um regime democrático, com eleições diretas.
Nesse horizonte, na segunda semana, festejamos o Dia das Crianças, fato que nos remete ao futuro e, três dias depois, bem no meio do mês, dia 15, o do Professor. Diria que esta data já foi comemorada com mais entusiasmo e considerada mais importante do que atualmente. Houve um tempo em que ser professor era uma atividade merecedora de apreço, de respeito e dispunha de uma condição especial perante a sociedade.
Desconheço quando, exatamente, essa condição se perdeu. O fato é que, talvez, simultaneamente, governantes e sociedade passaram a tratar esses profissionais como seres comuns, conferindo-lhes quase nenhum prestígio, como se a tarefa de repassar conhecimento fosse qualquer coisa absolutamente simples e não uma função única e extremamente importante.
Ao longo do tempo, a escola se transformou em um depósito de crianças enviadas pelas famílias para “aprenderem educação”, quando, na verdade, educar é tarefa dos pais e não da escola, cuja função maior é repassar conhecimento, informação e preparar cidadãos para a vida. Mas, em algum momento, isso mudou: a escola, principalmente a pública, passou a se responsabilizar pela alimentação gratuita dos alunos, desempenhando, não raras vezes, o papel de psicólogo, pai, mãe… E, qualquer contribuição solicitada, seja moral, social ou financeira, vira caso de discussão e contestação.
Na verdade, o Estado é responsável, sim, pela formação acadêmica de nossas crianças, mas infelizmente, não assume essa função literalmente. Prova disso é o grande número de escolas sucateadas, com professores desmotivados, quando não desatualizados. Por isso, é muito triste constatarmos que há pais que, além de não valorizarem a escola de seus filhos, acreditam que é obrigação dos professores fazer a gestão dessa instituição e dos alunos.
O fato é que esses profissionais deveriam dedicar seu tempo a estudar e atualizar-se para descobrir novas formas de repassar os conteúdos que, sabemos, são transitórios, haja vista vivermos em uma época em que tudo é efêmero e rápido. E se ele, o professor, não acompanhar e estiver atento às mudanças, constantes e contínuas, não poderá exercer o seu papel de selecionar informações e conhecimentos, orientar, trabalhar os diferentes pontos de vista, ser um mediador, um constante navegador, um líder e, assim, preparar seus discentes para o futuro.
Entretanto, em virtude das condições de trabalho, não raro, precárias, a escola nem sempre consegue ser um ambiente aprazível e manter alunos e pais motivados; os professores, ao se sentirem desvalorizados, desrespeitados, às vezes, repassam sua insatisfação e frustração em seu local de trabalho e às pessoas que os cercam. Logo, há que se repensar a função da escola; há que se repensar o comportamento dos alunos e há que se repensar a atitude da sociedade em relação à escola e aos professores.
É preciso, sem dúvida, que os pais passem a considerar os professores seus aliados na função de educadores e formadores de caráter de seus filhos, pois, uma vez cruzada a linha da coerência e do bom senso, não há como alterar o comportamento de adolescentes e jovens. Família e escola podem sim ser grandes parceiras, mas, para que isso ocorra, é preciso que se queira, de fato, esta aliança.
Contudo, repassar exclusivamente à escola a função de educar e formar cidadãos é balela, porque a semente sempre será plantada no seio de uma pequena comunidade chamada família. Não podem os pais esquecer que a vida pós-escola é muito diferente e que seus filhos não serão contemplados com “uma nova oportunidade” como as diversas tentativas que a escola proporciona para “passar de ano”.
Na selva pós-escola, não há perdão: errou, assume; falhou, responsabilidade; necessidade, capacidade. Essa é a lei da vida: cada um é responsável por seus atos e receberá da vida exatamente a mesma proporção de sua dedicação. Sempre, seremos o resultado de nossas escolhas.