Eu acho que não. Entretanto, escolhi trazer uma reflexão sobre patrimônio cultural. Eu sei que esse assunto parece distante e é muito menos urgente do que Lula e Bolsonaro. Entendo. Porém, vivi uma experiência na qual fui mediadora de um papo sobre patrimônio cultural, a convite do RS CRIATIVO – programa estratégico da Secretaria de Estado da Cultura, e aprendi e me surpreendi com o quão ampla e agregadora pode ser essa pauta.
Senti compartilhar a reflexão. Deselitizar o patrimônio cultural, torná-lo pauta, desvendá-lo, ‘tomarmos a nossa história para nós’ e, quem sabe, desenvolvê-lo como agente dentro da economia das cidades. Patrimônio cultural material a gente sabe que é prédio, estrutura, fundação. Mas e patrimônio cultural imaterial?
Os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, modos de fazer, celebrações, formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas, costumes e outras tradições. E essa cultura, esses saberes locais, podem ser a base do empreender, do sustentável, dos modos de sobrevivência.
Se conhecermos, desvendarmos, valorizarmos a nossa história e nos apropriarmos dela, as nossas tradições culturais podem ser possibilidades para artistas, gestores, produtores, uma fagulha ao empreendedorismo nos municípios.
Li numa matéria do Sebrae, um exemplo sobre Alagoas – Ilha do Ferro, onde cerca de 300 famílias vivem à beira do Rio São Francisco. Há décadas, um artesão local começou a esculpir peças em madeira. A técnica foi passando de pai pra filho e, na ausência de outras fontes de trabalho, acabou atraindo muitos outros homens.
Além disso, a região conta também com uma técnica única de bordado, conhecida como boa noite, que também é transmitida há centena de anos de mães para filhas. Pois as duas atividades se uniram, e junto a articulações públicas, a cidade vem atraindo muito turismo do Brasil e do exterior e, com isso, gerando novas oportunidades para pousadas, restaurantes, e afins.
A nossa secretária de Estado da Cultura, Bia Araújo, muito engajada nessa pauta, criou o Dia Estadual do Patrimônio Cultural, que se tornou um grande movimento de celebração, de atividades diversas acerca do patrimônio cultural – material e imaterial, por todo nosso estado.
Eu abri minha fala neste evento dizendo que sentia dúvidas sobre o quão eu poderia acrescentar nas reflexões em função da minha falta de intimidade com o assunto. Mas penso que topei justamente por isso. Porque me parece que ampliar os diálogos e reflexões sobre patrimônio cultural para quem e por quem não tem intimidade com esse universo, nos faz aproximar e tornar palpável essa questão que é tão nossa. Ou deveria ser.
Conhecer a nossa história, os nossos antepassados é reconhecer quem somos.
Nos traz noção de pertencimento.
E será que não é exatamente por isso que estamos lutando? Por pertencer, existir, por legitimar quem somos?
Eu sim.
Paz, gente. Até breve.