Os 16 candidatos a deputado estadual com domicílio eleitoral no Vale do Taquari gastaram, juntos, R$ 1,3 milhão durante a campanha deste ano. Com isso, o custo médio de cada voto conquistado foi de R$ 8,81 na região. Os dados estão disponíveis no sistema DivulgaCand, do Tribunal Superior Eleitoral, e o prazo para entrega da prestação de contas final vai até 1º de novembro.
Ao todo, os nomes locais somaram 148,5 mil votos na corrida à Assembleia Legislativa. Nenhum deles conseguiu se eleger. Maneco Hassen (PT) foi o mais votado, com 34.532, o que lhe deu a terceira suplência da bancada da Federação PT/PCdoB/PV. Como gastou R$ 133,6 mil na campanha conforme a última atualização no TSE, teve um custo de R$ 3,86 por voto, o terceiro menor do Vale.
À frente do ex-prefeito de Taquari, somente Tiago Pedroso (PSC), cujo valor gasto foi o mais baixo. Com votação expressiva em Bom Retiro do Sul, cidade onde foi vereador, gastou R$ 2,06 a cada um dos 5.237 votos conquistados. Ele gastou apenas R$ 10,7 mil, um dos candidatos da região que menos investiu recursos na campanha.
Márcia Scherer (MDB), Wilkyns Gross (PTB), José Scorsatto (PDT), João Braun (PP) e Douglas Sandri (Novo) também tiveram gasto por voto inferior à média regional. Rodrigo Conte (PSB), até o fechamento desta edição, não havia declarado despesas de campanha.
Acima da média
Já o candidato que mais desembolsou a cada voto recebido foi José Alves (Podemos). Os R$ 44,79 são cinco vezes mais do que o valor médio investido entre os nomes locais. O ex-vereador de Estrel declarou R$ 181,2 mil em gastos de campanha e somou apenas 4.046 votos.
Logo atrás está Deja Já (PSD), com R$ 36,43, e Adroaldo da Silva Couto (PP), com R$ 27,12. Geci Mallmann (PTB), Leonardo Stephan (União Brasil), Bira do Ônibus (Podemos) e Jonatan Brönstrup (PSDB) também ficaram acima da média regional.
Disputa à Câmara
Entre os cinco candidatos da região a deputado federal, o valor médio gasto por voto é maior: R$ 12,97. Ao todo, os postulantes às 31 cadeiras da bancada gaúcha declararam R$ 733,5 mil em despesas e receberam, juntos, 56.536 votos.
Yê (MDB) foi quem mais gastou por voto recebido: R$ 32,36, seguida por Enio Bacci (União Brasil), com R$ 17,63. Por outro lado, Vigilante Reginaldo Morais (Republicanos), investiu R$ 1,64 a cada um dos 2.133 votos recebidos. É o menor valor da região. Na campanha, até o momento, declarou R$ 3,5 mil em despesas.
Os candidatos que disputaram as eleições de outubro tem até um mês após o pleito para entregar a declaração final da prestação de contas de campanha. O detalhamento da movimentação financeira ou estimável em dinheiro deve ser feita tanto por candidatos quanto por partidos, coligações e federações.
Recorte regional
No total, considerando tanto candidatos a deputado federal quanto estadual, os concorrentes com domicílio no Vale alcançaram 205.114 votos e declararam pouco mais de R$ 2 milhões em despesas na campanha. O valor médio investido foi de R$ 9,96.
A região ficará sem representante local pela segunda legislatura consecutiva, tanto na Assembleia Legislativa quanto na Câmara dos Deputados. A última vez que o Vale elegeu um deputado local foi em 2014, quando Enio Bacci, então no PDT, conquistou uma cadeira no parlamento gaúcho. Ele também foi o último nome a alcançar uma vaga em Brasília, no pleito de 2010.
Os principais gastos de campanha
• Publicidade em santinhos e adesivos;
• Produção de jingles;
• Gastos com publicidade em mídia impressa;
• Impulsionamento de conteúdo nas redes sociais;
• Despesas com pessoal e atividades de militância.
O que deve conter a prestação de contas
• Indicação dos nomes, CPF das pessoas físicas doadoras ou CNPJ dos partidos e candidatos doadores;
• Especificação dos respectivos valores doados;
• Identificação dos gastos realizados, com detalhamento das fornecedoras ou fornecedores;
• Indicação da advogada ou advogado;
• A não apresentação da prestação de contas no prazo ou a entrega de forma que não corresponda à efetiva movimentação de recursos pode caracterizar infração grave, a ser apurada na ocasião do julgamento da prestação de contas final.
ENTREVISTA – Max Severo, Especialista em marketing político
“Os candidatos não estão em igualdade”
A Hora – Como avalia o modelo de financiamento de campanha, com o Fundo Partidário e também por doações, em especial para as funções parlamentares?
Max Severo – O dinheiro dispendido para as campanhas é justo. Agora não posso dizer isso sobre a distribuição entre os candidatos. Todos os nomes mais conhecidos, principalmente quem vai à reeleição, se beneficia. Inclusive podem usar verbas de gabinete para custear transporte e gasolina, por exemplo. Só por isso, já podemos ver que não há igualdade entre os concorrentes.
Outro fator é o pouco tempo de campanha. Candidatos novos têm menos contato com o público. Essa menor visibilidade apaga algumas participações. Tanto que vemos pouca renovação na câmara federal. Na Assembleia Legislativa, houve mais mudanças.
AH – O que poderia ser feito para garantir mais igualdade entre candidatos?
Severo – Não tenho uma resposta. Mas a impressão de que seria necessária algumas adequações, para que, de alguma maneira, fosse possível haver condições mais iguais. O poder econômico interfere muito na escolha do eleitor. Todos com mandato ou relação com os governos são privilegiados. Os próprios partidos organizam as nominatas com base em puxadores de voto. Os candidatos não estão em igualdade. Quem diz o contrário está mentido. Para reverter essa tendência, um passo importante é a distribuição mais equânime dos recursos.
– E quanto às emendas parlamentares?
Severo – É. Tem isso ainda. Por um lado, ajuda os municípios em projetos específicos, no envio de dinheiro direto. Mas também obriga os prefeitos e vereadores a criarem alianças políticas. Quando vemos regiões que não conseguem eleger seus representantes, como o Vale do Taquari, parte das explicações está nisso.
Se formos analisar a fundo, tem relação com o que dissemos até aqui. Candidatos novos que precisam romper com a barreira da desigualdade de verbas, de tempo para se apresentar, de vínculos que se criam com quem está no poder e com o número elevado de candidatos de uma mesma localidade.