Em países com economias maduras e mercados de capital desenvolvidos, a inflação é uma variável pouco lembrada nas análises de cenário econômico, uma vez que está controlada há décadas. No Brasil, faz quase 30 anos, desde o Plano Real, que não se vê um período com inflação tão persistente e duradoura como nos últimos dois anos. A injeção de capital na economia por parte de vários governos em razão da crise sanitária da covid-19 desarranjou as principais economias do mundo. No Brasil não foi diferente.
Dos nove grupos de produtos avaliados pelo IPCA (o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, dado oficial usado pelo governo para medir a inflação), apenas dois respondem juntos por 44% do que a média das famílias consome. E justamente estes dois – alimentos/bebidas e transportes – foram os mais impactados pelo aumento de preços dos últimos tempos.
Além disso, o gráfico mostra a persistência destes aumentos. O pico da inflação acumulada, ou seja, aquela medida nos 12 meses anteriores, foi registrado em abril deste ano, com 12,13%. Mas o Relatório Focus (documento produzido pelo Banco Central sobre a economia) mais recente já indica que a inflação do ano de 2022, ou seja, o índice de dezembro, deverá ficar em torno de 6%. Isso significa que este ciclo de inflação aumentada está se invertendo, iniciando um período de queda – o que é um ótimo sinal para a nossa economia.
Como efeito desse fenômeno inflacionário, as empresas sofrem com o aumento constante de seus custos e despesas, reduzindo os resultados. Nem sempre é possível cobrar mais caro pelo produto para cobrir os gastos a mais, seja pela concorrência ou pelo risco de passar a vender menos. Aqueles líderes empresariais que hoje têm menos de 40 anos pouco tinham ouvido falar de inflação. Agora, foram apresentados a este fenômeno da pior forma possível, em meio a uma pandemia e num cenário imprevisível e muito desafiador: o que era para durar semanas persistiu por quase dois anos.
Como o que não nos mata nos fortalece, há um aprendizado importante que pode permanecer como legado deste momento turbulento, em especial para os jovens líderes empresariais. Com a chegada da inflação, eles constataram a importância de ter a empresa ainda mais organizada em termos de custos e despesas, de praticar preços e vender quantidades suficientes para alcançar margens saudáveis, e sem perder dinheiro ou deixar de honrar compromissos.
Pelo cenário que se apresenta até agora ao longo do segundo semestre, em 2023 estaremos com a inflação controlada. E, se o aprendizado ficar, poderemos sair desta mais fortes.