Bíblia do RH reescrita

Opinião

Sérgio Sant'Anna

Sérgio Sant'Anna

Publicitário

Assuntos e temas do cotidiano

Bíblia do RH reescrita

Acredito que as religiões sempre nos ensinam algo em se tratando de humanidades e crescimento pessoal. O Antigo Testamento, por exemplo, me conta o amigo W. Camilo, nos traz a história de Calebe que, aos 85 anos, se dizendo com a mesma força de um homem de 40, enfrentou os gigantes na conquista da terra prometida. Em sinal de reconhecimento pela performance, Calebe recebeu o Monte Hebron como prêmio. Hoje em dia, dificilmente o senhorzinho seria selecionado para a função.

Brincadeiras à parte, a questão é séria, já trafega nas grandes empresas pelo país e em breve será pauta de reuniões. Pena que muitas vezes o preconceito etário esteja inclusive em líderes que já passaram dos 50 ou estão próximos dessa faixa. Enquanto a população brasileira envelhece e o sistema previdenciário caminha para um beco sem saída, o etarismo (preconceito à turma do 50+), pede urgentemente uma revisão dos nossos conceitos.

A questão é que já em 2030 o Brasil terá mais idosos do que crianças e, em 2040, 57% da força de trabalho terá 45 anos ou mais, segundo estudos da PwC e da FGV. Em contrapartida, conforme relatório do Caged, mais de 700 mil profissionais com mais de 50 anos perderam seus empregos durante a pandemia.

Em recente pesquisa realizada pela Maturi e EY Brasil, 78% dos entrevistados apontam o etarismo como algo presente na empresa, sendo que 80% afirmam não existir qualquer política específica ou intencional de combate à discriminação etária em seus processos seletivos.

Dentro do que eu chamo de “contemporaneidades”, inúmeros estudos revelam que a mescla de gerações – se bem geridas – permite convivência de diferentes pontos de vista dentro da equipe e geram maior produtividade, mais inovação e, consequentemente, mais lucro às organizações.

De olho nessa capacidade produtiva e alinhamento com a tendência de amadurecimento da nossa sociedade, a PepsiCo criou o programa Golden Years, com foco na contratação de profissionais com mais de 50 anos. Atualmente, 1 mil pessoas (8,3% do seu quadro) integram a iniciativa e respondem por uma rotatividade 49% menor que as demais faixas etárias, um absenteísmo 27% mais baixo e um engajamento 3% superior.

Na mesma linha, a Johnson & Johnson retirou alguns filtros do sistema de currículo, como idade e etnia, para evitar exclusão antecipada de candidatos, e a Sodexo On-site Brasil informa que a companhia tem 12 mil funcionários com 50 anos ou mais, cerca de 25% da equipe. É um verdadeiro redesenho do mapa geracional no ambiente de trabalho e também um contraponto à busca insana por reter os chamados jovens talentos.

A consideração desse ponto de equilíbrio poderá ser uma saída para inúmeros negócios, inclusive para atender a crescente oferta de postos de trabalho no Vale do Taquari. Definitivamente a bíblia do RH está sendo reescrita, queiramos ou não.

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