Com 21 postulantes confirmados às eleições deste ano, a região busca voltar a ter representatividade nos parlamentos estadual e federal. Neste ano, com regras diferentes do pleito passado, o desafio torna-se maior. Soma-se isso ao aumento na concorrência. O Estado tem um recorde de candidaturas aos legislativos em 2022.
Segundo dados disponibilizados no sistema DivulgaCand, são 533 candidatos a deputado federal pelo Rio Grande do Sul. Eles disputam uma das 31 cadeiras da bancada gaúcha no Congresso. Já para as 55 vagas na Assembleia Legislativa, são 815 postulantes. Desistências e renúncias não entram na contagem.
O número não é definitivo, pois o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda analisa os registros encaminhados por partidos e candidatos. Nunca, porém, o RS teve tantos concorrentes nas eleições gerais. E, para especialistas, este é um indício das dificuldades que os representantes locais vão encontrar nesta campanha.
Há 20 anos, por exemplo, eram apenas 197 candidatos a deputado federal e 461 a deputado estadual. O número de cadeiras nos parlamentos, entretanto, não se alterou. Também existiam menos partidos políticos legalmente registrados e ativos.
“Será quase um milagre”
O inchaço nas candidaturas pode ser analisado de diferentes formas. O fim das coligações proporcionais levou partidos a aumentarem suas nominatas. Siglas consideradas “nanicas” ou sem tanta força no RS apresentaram mais candidatos do que outras legendas mais consolidadas.
Estabelecido pela minirreforma eleitoral de 2019, o fim das coligações entrou em vigor nas eleições municipais de 2020. Este será o primeiro pleito geral com as novas regras. O advogado especialista em direito eleitoral, Fábio Gisch, é enfático ao dizer que está mais difícil se eleger em 2022. “Para o Vale, quanto mais candidatos tiver, é pior. Dilui muito os votos, em diversas legendas”, salienta.
Gisch acredita que, neste ano, será comum candidatos com votações entre 25 e 30 mil conquistarem mandatos. Mas avalia que “será mais difícil conseguir 10 mil votos hoje do que 30 mil na eleição passada. Precisa menos votos, mas vai ter que disputar com o amigo, o vizinho, o parente, mais um monte de gente. Agora é cada um por si e Deus por todos”.
Também dificulta o fato da região não ter hoje parlamentares no exercício do mandato. “Eles são mais conhecidos e, geralmente, têm maior possibilidade de arrancar com boas votações. Se elegermos um deputado aqui no Vale, neste contexto, será quase um milagre”, pontua Gisch.
Representatividade
Em 2018, a preferência do eleitor regional em candidatos de fora ficou evidente pelos números. Na corrida à Assembleia Legislativa, 49,7% votaram em representantes de outras regiões, enquanto somente 23,1% escolheram os nomes locais. Ou seja, mais pessoas votaram em branco, nulo ou se abstiveram do pleito do que optaram por fortalecer a representatividade do Vale.
Na disputa ao parlamento federal, o comportamento foi reforçado com quase 59% dos votos destinados a forasteiros. Apenas 15% escolheram os postulantes regionais. Para o doutor em História e professor Mateus Dalmáz, os números indicam também que, em geral, o eleitor está mais atento às disputas majoritárias do que para proporcionais.
“Há também uma quantidade maior de concorrentes. E os nomes de fora, já tradicionais e frequentemente presentes nas eleições e na esfera parlamentar, têm vantagem sobre os novos candidatos, que ainda precisam se fazer conhecidos. Embora tenham bastante inserção nos municípios de origem, carecem de maior ressonância regional”, frisa.
Dalmáz ressalta que ainda falta maior consciência regional para o Vale voltar a eleger representantes genuinamente locais. “A conscientização sobre a importância do trabalho parlamentar e do voto para deputado é o primeiro passo para que o eleitor escolha candidatos que representem a sua região. Hoje, a diminuta representação direta faz com que outras regiões recebam prioridade de projetos e orçamentos.”
Sopa de letrinhas
O surgimento de novos partidos nos últimos anos também chama atenção. Em 2002, por exemplo, 23 siglas disputaram o pleito no RS. Neste ano, são 29. Muitos trocaram de nome com o decorrer do tempo. O PPS, por exemplo, hoje se chama Cidadania. Mais recentemente, o PTC mudou para Agir.
Mais siglas no cenário também levam ao aumento de candidaturas “de ocasião”, somente para alcançar o percentual mínimo exigido por lei. Isto, na avaliação do cientista político Bruno Lima Rocha, causa uma distorção no sistema eleitoral.
“Não é salutar ter um volume excessivo de partidos, mas o pior seria a Justiça proibir siglas apenas pelo seu tamanho. Vejo como maior problema a falta de disciplina partidária. Uma parcela das candidaturas é preenchida só para fechar a nominata. Neste sentido, a lei é falha. Poderia existir um mecanismo, como exigência de um período mínimo de dois anos de filiação”, opina.
Rocha sustenta que é necessário “limpar o sistema sem censurar”. Para isso, destaca a verticalização das alianças como uma saída importante. “Se esse sistema for adotado, aí se começa a ter um novo desenho. Já tivemos um avanço com a criação das federações partidárias. Considero esta uma regra positiva, pois fideliza alianças, que deixam de ser circunstanciais.”