Criado para ser o mais avançado sistema de tratamento de câncer do Vale do Taquari, o Centro Regional de Oncologia (Cron) se tornou uma referência no interior gaúcho. Perto de completar 25 anos, o serviço ganhou o respeito e admiração da comunidade regional e também foi um dos pioneiros no RS em receber a certificação de excelência em serviços oncológicos.
A trajetória do Cron, os desafios e as inovações no atendimento a pacientes com câncer foram abordadas nessa segunda-feira, 22, durante participação em “O Meu Negócio”, programa multiplataforma do Grupo A Hora. Integrantes do corpo clínico e sócios do centro, os médicos Hélio Fernandes e Hugo Schünemann participaram da entrevista.
Tanto Fernandes quanto Schünemann nasceram e estudaram em Porto Alegre. Inclusive, se conheceram durante a residência médica. Mas traçaram e trilharam caminhos diferentes dentro da oncologia até chegarem a criação do Cron, em 1998.
Fernandes escolheu Lajeado para construir sua vida. Mora na cidade há 40 anos e se especializou na oncologia após conselho do médico Günther Fleischhut, ex-diretor do Hospital Bruno Born. “Achava um lugar muito interessante e acompanhei toda a evolução aqui. Me considero mais lajeadense do que de Porto Alegre. Tudo o que trouxe e desenvolvi foi por gostar da comunidade. Isso me motiva muito”, frisa.
Schünemann, por outro lado, seguiu com residência na capital até o começo da pandemia. Depois, trocou o agito da capital pelo interior. “Atualmente moro em Morro Reuter. Fico nessa de ir e voltar. Antes, cidade grande tinha todos os recursos e oportunidades.
Hoje, a internet do meu sítio é melhor do que a da capital. Não tem dificuldade para estacionar, nem insegurança. São coisas que os grandes centros precisam corrigir”, salienta.
“Hoje, temos um espaço totalmente planejado para execução do nosso trabalho”
Rogério Wink: Como é a vida aqui no Vale do Taquari?
Hugo Schünemann: Me sinto muito tranquilo aqui. As pessoas tem um excelente nível de vida. Antes estávamos em Estrela, agora em Lajeado. É tudo perto.
Quando tivemos aquela situação do bloqueio da ponte, o pessoal esperava por 25, 30 minutos esperando para cruzar. Vocês não tem noção do que é trânsito (risos). Aqui tem a possibilidade de não precisar do carro em muitas atividades.
Wink: E por que escolheram a área da oncologia?
Hélio Fernandes: Quando vim a Lajeado, não tinha a menor intenção de trilhar esse caminho. Eu era cirurgião, e quando me aproximei da região e fui aceito no corpo clínico do Bruno Born, o dr. Günther falou que eu deveria me especializar nessa área. Duas vezes por semana eu me aprimorava. Me organizei, mantive um serviço de quimioterapia no hospital. Durou até 1998, quando decidimos abrir o Cron.
Schünemann: Na época, ninguém gostava de oncologia. Era uma área de muito insucesso. Aí conheci uma pessoa muito legal, e ele me mostrou que tinha outra forma de ver a oncologia.
Ajudar as pessoas a morrer em paz e tranquilas também era uma coisa nobre. E, quando entrei na área, ela começou a se transformar. Pacientes que hoje a gente cura, ou faz viver bem por muitos anos, morriam em poucas semanas antes. A especialidade passou a ter outro estágio.
Wink: Como nasceu o ambiente e a ideia de criar o Cron?
Fernandes: Foi uma ideia minha e de outros três colegas. Naquela época, os pacientes se dirigiam até Porto Alegre. Não havia condições de fazer o tratamento aqui. Agora vocês vejam o avanço nesses 24 anos. Trabalhamos no HBB até 2006, quando fomos para Estrela.
Lá, ficamos até maio deste ano e retornamos a Lajeado. Temos um espaço totalmente planejado para execução do nosso trabalho. Trouxemos outros colegas para engrossar o grupo de profissionais envolvidos e nos profissionalizamos de forma importante nos últimos anos.
Wink: O que representa a certificação em grau de excelência?
Schünemann: Somos certificados pela ONA (Organização Nacional em Acreditação). É tipo um ISO. Tem uma série de critérios que são exigidos. Em 2015, começamos a busca por isso, de saber como funciona e chegamos lá.
Em todo o RS, são cinco clínicas com esse título, sendo três em Porto Alegre e duas no interior. Fomos a primeira fora da capital. Trabalhamos muito para isso. É uma coisa importante e te dá outra visão de como funciona o processo.
Wink: Me chamou a atenção o ambiente, onde a pessoa entra lá para fazer o tratamento e o clima é bem leve. O que o paciente precisa de suporte, além dos médicos?
Schünemann: Temos psicóloga, nutricionista, equipes de enfermagem com três profissionais e três farmacêuticos. A pessoa que vai fazer a aplicação passa por todos esses colegas, que dão orientação, cada um em sua área.
As pessoas estão assustadas, e ficam com aquela ideia de “punição”. Mas não é. E a gente tem essa equipe toda para dar apoio, no sentido de ajudar nessa etapa.
Wink: Como é o processo de encaminhamento de pacientes ao Cron?
Fernandes: O Cron tem como cliente, além do paciente, os colegas médicos encaminhadores, e também as empresas, os planos de saúde. A fonte de pacientes do Cron, além dos próprios familiares que conhecem nosso serviço, é um universo grande. E atendemos uma grande área dentro do Vale, que vai de Venâncio Aires a Arvorezinha.