Assembleia analisa revisão de limites  entre cidades do Vale

DIVISAS EM DEBATE

Assembleia analisa revisão de limites entre cidades do Vale

Sério encaminhou nesta semana ajustes no traçado com Boqueirão do Leão. Desde setembro de 2021, Westfália aguarda definições sobre divisa com Boa Vista do Sul. Mudanças territoriais impactam quase 50 famílias. Gestores municipais buscam correção em mapas para organizar atendimentos

Assembleia analisa revisão de limites  entre cidades do Vale
Na comunidade de Arroio Galdino, igreja está no território de Sério e salão da comunidade fica do lado de Boqueirão do Leão. Crédito: Felipe Neitzke
Vale do Taquari

Adequar os limites municipais e serviços aos moradores em áreas de divisas. Esse é o propósito de pedido encaminhado por duas cidades da região à Assembleia Legislativa. A revisão envolve pelo menos 47 famílias em três comunidades do interior.

O processo mais recente é o de Sério, protocolado esta semana na Comissão de Assuntos Municipais. Desde 2013, líderes locais buscam a correção de traçado com Boqueirão do Leão. A área questionada envolve as localidades de Arroio Galdino e Santa Madalena, cerca de 750 hectares.

Outra situação é entre Westfália e Boa Vista do Sul. A revisão de divisa compreende 148,9 hectares na comunidade de Linha Berlim Fundos. Em ambos os casos, houve a coleta de assinaturas dos moradores e a aprovação nas câmaras de vereadores. Os municípios também contrataram técnicos para elaboração da proposta do novo mapa.

Esse ajuste é justificado por eventuais erros no processo de emancipação. Os responsáveis nos municípios atribuem essa falha por ausência de regras claras e tecnologia para definir os limites. Ao mesmo tempo, quem mora nessas regiões, convive com a dúvida para qual serviço público recorrer.

Com a revisão cartográfica, além de ajustar os critérios técnicos, a intenção dos gestores municipais é qualificar o atendimento às famílias. Agora, no caso de Sério e Westfália, esse impasse depende da tramitação na Assembleia. Por conta do período eleitoral, não há expectativa de que seja votado este ano.

Serviços públicos

Uma das divergências nessas localidades é em relação a quem presta o atendimento à população. Conforme o prefeito de Sério, Moisés de Freitas, o governo faz a manutenção das estradas, atende os produtores e oferece os serviços de saúde, mas a contribuição das famílias vai para Boqueirão do Leão.

“As parcerias e cooperações entre os municípios nem sempre funcionam. A melhor solução é oficializar essa correção de divisas e assim cada morador terá uma documentação única”, comenta Freitas. No caso da comunidade de Arroio Galdino, a estrada é o ponto de referência para a divisa. Pelo novo modelo, arroios e córregos passam a definir a divisa.

Freitas lembra que a mobilização da comunidade é antiga. Os primeiros movimentos surgiram em 2013. Além do aspecto técnico, há um desejo dos moradores em pertencer a Sério. “Com o passar dos anos muitas famílias migraram o bloco de produtor para nosso município. Dessa forma são contemplados com os programas de incentivo do setor primário.”

Já o prefeito de Boqueirão do Leão, Jocemar Barbon, entende que a administração municipal também presta serviços a produtores que geram renda para a cidade vizinha. “Foram várias terraplanagens para construção de aviários. Alguns deles têm o bloco em Sério e a renda vai para lá.” Ele considera que essa revisão não atende o desejo de todos.

Barbon era vereador em 2019 quando o pedido tramitou no parlamento municipal. “Fui favorável e mantenho minha posição. Se for bom para os moradores que assim seja feito.” Na época, os demais parlamentares também alegaram que mesmo com a perda territorial, essas famílias consomem no comércio local e não há maiores impactos.

Danieli mora em área cadastrada para Boqueirão do Leão. Do outro lado da estrada, galpão e estufas de fumo ficam na delimitação de Sério. Crédito: Felipe Neitzke

Uma comunidade, dois municípios

A igreja de Arroio Galdino está no território de Sério, já o salão comunitário e a escola ficam do lado de Boqueirão do Leão. O novo poço artesiano que deve abastecer 17 famílias de um lado do município foi perfurado na área vizinha. Nas propriedades rurais também é comum a divisa interferir em relação à cidade onde moram e produzem.

Esse é o caso do agricultor Paulo Danieli, 61. Os canteiros de fumo estão do lado que pertence a Boqueirão do Leão. Ao atravessar a estrada, as estufas foram construídas na área de Sério. “Eu voto em uma cidade e tenho bloco de produtor em outra.”

Outro fato pelo qual Danieli defende a adequação dos limites municipais é a proximidade com Sério. Sua propriedade fica a seis quilômetros da sede administrativa. Já em relação à cidade vizinha está distante mais de 20 quilômetros.

Amparo na legislação

De acordo com o analista legislativo, Filipe Madsen Etges, a revisão de limites é possível quando se identifica erro ou incorreção na descrição das divisas.

Essa mudança está amparada em lei estadual de 2013. Para que a Assembleia possa apresentar um projeto é preciso encaminhar uma série de documentos que passam por avaliação no setor de cartografia antes de avançar na tramitação.

“Se aprovado, altera a lei de criação do município e por consequência a delimitação”, observa Etges. Para alcançar essa etapa, depende do aval da Comissão de Assuntos Municipais e da aprovação na Comissão de Constituição e Justiça pela maioria absoluta dos deputados. No plenário, a proposta precisa da autorização da maioria simples.

Além de Sério e Westfália outras cidades do Vale buscam informações. “Com frequência nos consultam sobre essa possibilidade, mas é preciso de fato ter algum erro e não apenas uma intenção em fazer parte de determinada cidade.” Sobre os processos de anexação ou emancipação, Etges lembra que não há regulamentação do governo federal.

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