Durante dois anos, foi-nos recomendado o isolamento social para impedir a rápida disseminação do vírus da covid-19, o que nos impediu de praticar a importante manifestação do afeto por meio do abraço.
Assim, tivemos que assimilar essa nova sistemática de relacionamento, baseada no conceito do afastamento, eliminando, além dos abraços, apertos de mãos e todas as situações relacionadas à proximidade e ao toque.
Penso que esse novo “modismo” representará no futuro uma geração ainda menos afetuosa da atual, exceto se ocorrer um amplo e conjunto trabalho de pais e professores para resgatar nas crianças a saudável importância de um abraço.
Sabemos que o ser humano, por natureza, é um ser sociável, que elas – as crianças –, intuitivamente, logo descobrem nos primeiros anos de vida. Solidão nunca será uma opção saudável para a humanidade, embora nem sempre a falta de companhia signifique que estamos sós.
O afeto é construído ao longo da vida: se a criança receber amor, certamente o retribuirá. Mas, se esse sentimento não lhe for concedido, ela devolverá desafeto e rebeldia. Então, é urgente propagarmos a importância de construirmos relacionamentos saudáveis, recheados de afeto, carinho, espontaneidade e tantas outras condições que melhoram a vida das pessoas.
Dito isso, vem-me à mente o projeto aprovado pela Assembleia Legislativa que instituiu o homeschooling, ou seja, “educação em casa”, fora do ambiente escolar. Penso que essa possibilidade ficará restrita a poucas famílias, uma vez que a maioria delas não tem quaisquer condições de aderir a essa forma de ensino.
Ademais, é preciso considerar que essa modalidade eliminará a possibilidade da troca de ideias, afeto, convivência e tantas outras situações relacionadas à socialização, que são usufruídas no ambiente escolar, no qual se parte do princípio de que todos somos iguais.
Então, se as relações afetivas ficaram relegadas a um segundo plano em virtude da necessidade de controle da covid-19, o homeschooling intensificará uma situação considerada preocupante, com progressiva formação de seres pouco sociáveis, tornando-os mais individualistas e egocêntricos.
Com certeza, isso não é benéfico à sociedade, que, em face dos “novos tempos”, requer a difusão de valores, como solidariedade, compreensão, resiliência, compaixão, empatia, que podem melhorar a convivência entre as pessoas.
Estes e outros sentimentos são possíveis mediante a aproximação das pessoas, especialmente das crianças, que representam a continuidade da espécie humana, que, infelizmente, vem passando por uma transformação severa, focada no cada um por si enquanto sabemos que a cooperação e a solidariedade são valores capazes de nortear o bem-estar social.
Disso, pode-se concluir que tanto o Estado quanto a Escola, além, claro, da família, são fundamentais para resgatar um novo tempo, seja pela valorização do afeto ou pela propagação da solidariedade, condições fundamentais para o aprendizado, como também para a saúde e o equilíbrio emocional. Consequentemente, os seres humanos estarão mais livres do excesso de insegurança, carência e rebeldia.
Temos que ter em mente que todos, indistintamente, somos responsáveis por nossas realizações, mas também e, principalmente, por nossas omissões. Então, abracemos esta causa, o futuro nos agradecerá!