A cidade que abrigou umas das maiores cervejaria do país sedia neste sábado o 6º Festival de Inverno da Cerveja Artesanal. Promovido pela Associação dos Cervejeiros Artesanais de Estrela (Acerva), o evento ocorre no salão do Centro Comunitário Cristo Rei, com início às 15h.
Serão 16 cervejarias que, ao todo, oferecem cerca de 100 bebidas diferentes. Na terça, 9,3 mil ingressos já tinham sido vendidos. Na primeira edição do festival, foram dez empresas participantes.
A ideia do evento surgiu no mesmo ano em que a Acerva iniciou as atividades, em 2013. Movida pela união dos entusiastas da produção artesanal de bebida, a entidade tem 30 associados, todos cervejeiros caseiros.
Grandiosidade e identificação
“Meu pai trabalhou na Polar e meu tio-avô também era cervejeiro”, conta o vice-presidente da Acerva, Márcio Braun. A produção de cerveja começou como um hobby do arquiteto, que agora é cervejeiro profissional e trabalha para a Salva Craft Beer, de Bom Retiro do Sul.
Receber os insumos, conferir a matéria prima, elaborar a receita, moer e cozinhar o malte, e adicionar o lúpulo. Essas são as atividades que Márcio desenvolve hoje e que acredita fazer parte da história da região. “Essa grandiosidade e identificação a gente não pode perder.”
Produção em família
Entre as famílias que plantam insumos de cerveja está a Lúpulo Dona Inês, do bairro Conventos, em Lajeado. Desde 2019, Natan Armange e toda a família, esposa, pai e mãe, a Dona Inês, se envolvem na produção. Hoje, a empresa tem área para 600 plantas, o que corresponde a cerca de 300 quilos de Lúpulo.
A produção de cerveja varia conforme o estilo, sendo que a cerveja pilsen leva aproximadamente 0,5 gramas de lúpulo por litro, e a IPA pode levar de 20 a 25 gramas. Agora, as plantas estão em dormência, período de inverno em que é feita a poda para que armazenem a energia nas raízes e fiquem mais fortes.
Devido a estiagem, a última safra apresentou números abaixo do esperado. Para a próxima colheita, que ocorre entre março e abril, a empresa contará com dois reservatórios de água, cada um com cerca de 300 mil litros. “Temos uma parceria no Grupo Salva Hops. Então, a Salva nos auxilia com consultorias do Engenheiro Agrônomo Marcus Outemane”, conta Natan.
A família começou a plantar lúpulo pela curiosidade em ver como esse tipo de cultura iria reagir aqui na região. “Os resultados foram bem animadores. Apesar dessa cultura ser nova aqui, acreditamos que em mais alguns anos, ela fomenta o mercado ainda mais”, afirma.
Infinitas possibilidades
Natural de Pinheiro Machado, o médico veterinário Leonardo Aguiar do Amaral, 49, sabia que encontraria em sua nova cidade alguém para incentivar seu gosto por cerveja artesanal. Em 2008 mudou-se para Estrela e, nesse mesmo período, começou a se interessar pela bebida.
“Eu sabia que aqui existia uma cultura cervejeira, em razão da Polar. E também conheci amigos aqui que produziam a bebida, aí fui unindo os interesses e sabendo um pouco mais”, lembra.No fim de 2018, Amaral se associou à Acerva.
Nessa época, começou a participar das brassagens, processo de fabricação cervejeira coletiva. Meses depois, comprou o seu equipamento para produção: a panela automatizada do tipo single vessel, com capacidade para 50 litros. Para produzir a bebida, Amaral usa a sede da Acerva. Lá, existe a estrutura necessária para todo o processo de produção: da parte quente, de fermentação, até a parte do frio, que finaliza o processo.
Conforme Leonardo, o tempo de produção pode variar. Em geral, a coleta de água para aquecer, leva de cinco a seis horas, para aproximadamente 40 litros. Depois disso, são mais cinco ou sete dias de fermentação. Já a maturação pode demorar de 5 a 20 dias. Nesse processo, a cerveja fica de 0 a 2 graus, para sedimentar o fermento. Depois, entra o processo de carbonatação que é imediato, e então está pronta para o consumo.
“Eventualmente podemos repetir as receitas, mas é interessante sempre mudar alguma coisa para ver o resultado. E considerando as variáveis que são malte, lúpulo e a levedura, que é o fermento, a gente consegue fazer uma combinação que é quase infinita”, ressalta.
Profissionalização
Aqueles que partem do hobby para o profissionalismo encontram na Univates uma forma de aprofundar os estudos. Desde 2019, a universidade oferece o curso de Técnico de Cervejaria, o primeiro do Rio Grande do Sul, e já formou 26 cervejeiros.
A universidade conta, inclusive, com um Laboratório Cervejeiro, instalado no Parque Científico e Tecnológico do Vale do Taquari (Tecnovates). O espaço oferece equipamentos que permitem o aprendizado sobre o processo cervejeiro, matérias-primas, parâmetros de controle e outras atividades inerentes à profissão.

Natan Armange e toda a família se envolvem com o plantio do lúpulo desde 2019. Hoje, a empresa tem área para 600 plantas. Crédito: Divulgação
“A cerveja é uma experiência fantástica”
O estrelense Mateus Henrique Sulzbach, 34, é um dos formados pelo curso da Univates. Ele começou a se interessar pela produção de cerveja há 10 anos, quando um amigo trouxe duas cervejas de estilos diferentes de presente, depois de uma viagem à Alemanha. A partir desse momento ele começou a pesquisar e descobriu a possibilidade de produção caseira da bebida.
No início, Mateus não tinha marca própria, e produzia apenas para o seu consumo e dividia com seus pais e amigos próximos. “De uns anos pra cá, comecei a trabalhar nesse ramo como sendo a principal fonte de renda”, conta. Depois de deixar a profissão de Programador de Produção, ele se tornou funcionário da Cervejaria Meridional, de Colinas.
As características das cervejas que Mateus produz hoje variam de acordo com o estilo da bebida, mas a maior parte da produção é de Lager como a Pilsen e a Doppelbock. “A cerveja é uma experiência fantástica”, diz. Para ele, dependendo de cada estilo e formulação, uma história diferente pode ser contada.
Empreendimentos
Em Estrela, no Chá da Índia, fica o primeiro brewpub da região. Com produção de cerveja própria e venda apenas no local, o bar Sonora Artesanal abriu suas portas em julho de 2020.
“Por causa do estilo de bebida que produzo, todos os meus insumos vêm da Alemanha, mas a produção é aqui mesmo”, conta Adriano Prediguer, dono do local.

Adriano Prediguer, dono do Sonora Artesanal, produz a cerveja no local. Para isso, usa apenas ingredientes importados da Alemanha. Crédito: Júlia Amaral