O plano que mudou o Brasil 

Opinião

O plano que mudou o Brasil 

Brasil

Ao receber o salário no 5º dia útil, a Dona Maria tinha um compromisso inadiável naquele mesmo dia ao sair do trabalho: ir ao mercado fazer o rancho do mês. Tinha que ser naquele dia, sob risco dela ver o seu salário perder grande parte do seu poder de compra em apenas uma noite.

Na outra manhã praticamente todos os produtos do mercado seriam reajustados e o salário de ontem seria incapaz de comprar as mesmas coisas.

A rotina mensal da Dona Maria em nada era diferente da do Seu José e de milhões de brasileiros mais humildes que, até julho de 1994, viam a inflação destruir, em poucas horas, grande parte da sua renda do mês inteiro.
O Plano Real foi a maior conquista econômica e social das últimas décadas.

Pôs fim a um problema crônico que o país tentou, tentou e não conseguiu resolver ao longo do século XX: a hiperinflação.

Nos 12 meses anteriores ao Real, a taxa de inflação chegou a ultrapassar os 5.000%. Apenas no mês de julho de 1994, a inflação bateu 47,4%. Ao mês! Hoje esse número seria assustador e intolerável de ser alcançado em 12 ou 24 meses.

Sentimos e reclamamos, com razão, quando vemos a inflação anual superar os 10%, como ocorrido agora e na tragédia econômica e social resultante da Nova Matriz Econômica em 2015.

Ao completar 28 anos em julho passado, o Real mostra que, apesar dos pesares, é forte e deve ter sua importância reconhecida e defendida. O aniversário passou, é simbólico, mas deve nos fazer lembrar.

Nos 10 anos anteriores ao Real tivemos nada menos do que cinco moedas: o Cruzeiro (1970), o Cruzado (1986), o Cruzado Novo (1989), o Cruzeiro novamente (1990) e o Cruzeiro Real (1993). Tudo isso acompanhado de diversos pacotes econômicos fracassados.

O Real acabou com o imposto mais perverso que existe aos mais pobres, que é a inflação. Mesmo que tenha sido, em essência, um plano econômico, teve efeitos sociais imensuráveis. O então Plano Real sofreu críticas, tentou ser destruído na sua gestação e nascimento, mas suportou o populismo e a politicagem.

Mais do que isso, nos fez entender que não há solução indolor para problemas complexos e abriu as portas para uma maior modernização econômica do país, com a necessidade de reformas, de enxugamento do Estado e de maior responsabilidade fiscal.

Infelizmente, não por culpa do Plano e de seus idealizadores, as reformas necessárias foram feitas apenas parcialmente nas décadas seguintes.

Mas nunca é tarde para fazer o que deve ser feito. Que saibamos aprender com o passado para mudar os rumos do futuro.

Acompanhe
nossas
redes sociais