O fim do fim da história?

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

O fim do fim da história?

Em 1989 o cientista político americano Francis Fukuyama escreveu um célebre artigo intitulado “O fim da História?”. Nesse artigo, ele argumentava que, depois da queda do muro de Berlim, a decadência da União Soviética e de inúmeros países do bloco soviético se tornarem independentes, o livre capitalismo e a difusão das democracias liberais iriam marcar o fim da evolução sociocultural da humanidade.

Como era de se esperar choveram críticas, especialmente a esquerda. Em 2001, depois do ataque às torres gêmeas, o colunista George Will decretou sarcasticamente que a história havia voltado de suas férias. Abalados pelos atentados, os americanos foram à guerra contra o islamismo radical enquanto a Europa abraçava o multiculturalismo.

Nesse ponto é necessário dizer que Fukuyama foi assessor de Ronald Reagan, mas nos últimos anos afastou-se do Partido Republicano por considerá-lo agora um deserto de homens e de ideias. Contrariando suas previsões, ele presenciou nesse novo século o antiamericanismo crescer no mundo, assistiu de cadeira a polarização dividir os Estados Unidos e passou a invejar a capacidade de adaptação dos chineses.

Pois não é que no mesmo ano que a Rússia invade novamente a Ucrânia, a China traz de volta a ameaça nuclear e assusta o mundo. Tudo depois da desastrada deputada americana inflamar as relações entre China e EUA sem trazer nenhuma garantia extra de segurança para Taiwan.

A China insiste que Taiwan e a China são inseparáveis.

Uma afirmação que a história não confirma, apenas a retórica política. Taiwan é habitada por povos indígenas há aproximadamente 6.500 anos e foi há apenas 700 anos que colonos chineses começaram a se estabelecer na ilha.

Em 1542, os portugueses chegaram até a ilha, a qual chamaram de Formosa, e ali travaram duros combates, à semelhança do que ocorreu em Pernambuco, com os holandeses.

Foi apenas em 1683 que os manchus da dinastia Quing assumiram o controle da ilha para depois o ceder ao Japão em 1895 como uma das clausulas para o fim da guerra sino-japonesa.

Com a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, a ilha que fica distante 150 km da China foi entregue a essa com o apoio americano, que não contava que quatro anos após uma revolução comunista mudaria o destino chinês.

Para Taiwan, fugiram os líderes do derrotado governo anterior chinês e levaram junto mais de dois milhões de chineses, principalmente soldados com o objetivo de retirar do poder no continente o recém-criado Partido Comunista Chinês. Isso foi um choque para os taiwaneses étnicos, pois o único objetivo dos recém chegados era usar recursos da ilha para a guerra contra os comunistas, além de forçarem os habitantes aos costumes chineses e ao uso do mandarim como língua oficial.

Em 1950, os americanos defendem Taiwan contra um ataque chinês e, em 1954, tropas americanas são estacionadas na ilha. Taiwan passa a se chamar República da China e é integrada à ONU enquanto o continente se transforma na República Popular da China que somente viria a ser reconhecida pela ONU em 1971 passando nesse momento a ser tratada como a única representante da China. Com isso a República da China estabelecida em Taiwan entra para o limbo.

Oito anos depois os Estados Unidos restabeleceram relações diplomáticas com a Republica Popular da China e fecham bases em Taiwan (Republica da China). No ano seguinte o congresso americano aprovou uma lei que autorizava o país a conceder ajuda militar para a defesa de Taiwan.

De lá para cá não houve solução duradoura, apenas ameaças. No momento que o namoro entre Estados Unidos e a China balança por desconfianças mútuas, quem pode vir a pagar o pato é Taiwan.


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