Nestes dias meus netos que estudam no mesmo colégio, em Lajeado, onde minha esposa e eu estudamos, pediram fotos da nossa época, para o museu digital que o educandário está organizando. Peguei o baú de madeira, cheio de fotos, com os dois pirralhos, ansiosos, me acossando: “abre de uma vez, vô!!”
Mal sabia eu que, ao abrir a tampa, seríamos envoltos por uma áurea iluminada, com o condão de parar o próprio tempo e fazer com que não sentíssemos as horas passar. À medida em que desfilava as fotos pelas mãos, relembrava momentos inesquecíveis que, à época da sua ocorrência eram algo trivial e fugaz.
Apenas momentos, mas que, agora, trouxeram de volta fatos da infância, adolescência, de namoro, da prática esportiva, do convívio com familiares, amigos, colegas de trabalho. O primeiro emprego, o nascimento dos filhos e as tantas incertezas ao criá-los, os tempos de dinheiro curto.
Aos poucos saí daquela hipnose emocional, retornando para o contemporâneo, com as duas “figurinhas” ao meu lado, embevecidas com as histórias contadas. Me flagrei que ali estava vivendo um novo momento inesquecível, possível graças aos tantos que vivenciara, os quais haviam pavimentado a caminhada até aqui.
Enfim, nossa existência é feita deles. São pequenos fios que vão sendo tecidos para compor a teia da nossa vida. Basta deixarmos que nos toquem, nos envolvam, que os valorizemos: um nascer do sol, uma piada, um afago, o convívio, a paixão, um olhar fortuito, um abraço, a água escorrendo pelo corpo, a lágrima de felicidade vertida, o pão de cada dia disponível.
São tantos, por vezes imperceptíveis, fugazes e singelos, mas vitais. Nos capacitam a lidarmos com o dia-a-dia, a má prática política, a ganância humana, a desinformação gerada por quem deveria bem informar. Não os deixemos escapar, se esvaírem por dentre os dedos. O turbilhão cotidiano, o frenesi crescente da humanidade, a retumbância maior do que é mau, parecem ocupar cada vez mais nossas vidas.
Ledo engano. Curta o dia desde o seu nascer, permita-se momentos cada vez mais espaçados sem o televisor ligado, sem o celular a monopolizá-lo, sem a monetarização da sua felicidade. Você verá que, por baixo da cinza a que, muitas vezes, pensamos transformada nossa vida, existe um braseiro vivo, irresistível e perene, com a predominância do bem e dos bons, a impulsionar-nos para frente, na superação dos obstáculos.