Engajamento no voto ao Executivo e desinteresse no parlamento

PENSAR ELEIÇÕES 2022

Engajamento no voto ao Executivo e desinteresse no parlamento

Mais de 68% dos eleitores não lembram em quem votaram para deputado estadual e federal. Analistas apontam que percentual tem relação com o desconhecimento sobre as funções parlamentares, do significado de Democracia Representativa e com a ideia de que o presidente será o “salvador da pátria”

Engajamento no voto ao Executivo e desinteresse no parlamento
Pesquisa pré-eleitoral mostra que 68,1% dos eleitores não lembram em quais deputados votaram em 2018. Crédito: Divulgação
Vale do Taquari

Na escolha para presidente ou governador, o engajamento do eleitor chama atenção. Aparece nas postagens em redes sociais, na conversa entre amigos, com familiares e nas pesquisas de opinião. Quando o assunto passa para os legislativos, o cenário muda.

Essa é uma das análises possíveis a partir do estudo feito pelo projeto Pensar Eleições – Desperta, Vale do Taquari. Promovido pelo Grupo A Hora e aplicado pelo Instituto Methodus, o levantamento entrevistou 300 pessoas de diferentes perfis em seis cidades da região (Lajeado, Estrela, Teutônia, Encantado, Arroio do Meio e Taquari). Além de verificar as intenções de voto, também apurou a consciência e a memória do eleitor. Neste detalhe, o percentual de 68,1% das pessoas não lembram em quem votaram para deputado estadual e federal.

“Essa indicação explicita o quanto o eleitor desconhece o pacto federativo, de como funciona a República e qual o conceito de Democracia Representativa”, avalia o doutor em História e professor da Univates, Mateus Dalmáz.

Na visão dele, os eleitores têm como característica valorizar a função do chefe do Executivo como o personagem que poderá fazer as mudanças esperadas pela sociedade. “Ignoramos os outros poderes, tanto o Judiciário quanto o Legislativo. Tudo isso tem a ver com o pouco conhecimento sobre política.”

A pesquisa “Desperta, Vale do Taquari” está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (número: RS-01365/2022). As entrevistas ocorreram entre os dias 22 a 25 de março. A margem de erro é de 5,7% para mais ou para menos. Sobre os resultados, o nível de confiança é de 95%.

Escolha em nomes conhecidos

Há menos de três meses da eleição, a pesquisa pré-eleitoral “Desperta, Vale do Taquari” mostra que a maioria dos eleitores têm claro em quem votar para o Executivo, em especial para presidente. No entanto, para os legislativos a situação é outra.

Ainda que a confirmação dos nomes para deputados esteja em andamento, com as convenções partidárias em curso, o histórico de outros pleitos indicam que essa decisão é feita dias antes da votação.

Como há pouco estudo e apuração sobre o retrospecto dos candidatos, bem como das propostas, a escolha pelas cadeiras nos parlamentos é relegada. “Temos como perfil um eleitor que vota de forma passional. Por vezes transfere a escolha para a sugestão de um terceiro”, frisa o cientista político, Fredi Camargo.

A partir disso, o voto aos legislativos partem de análise com pouca profundidade. Neste contexto, sobressaem-se políticos conhecidos, mais presentes nos meios de comunicação de massa e com histórico de mandatos.

“O pensamento parte do pressuposto de que por ser mais popular é possível ter mais confiança. Os desconhecidos é que passam por uma pesquisa mais aprofundada”, diz.

Esse é uma dificuldade central enfrentada pelos candidatos locais. “Há um risco, mais uma vez, do Vale do Taquari não ter representante na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional”, antecipa Camargo.
Para o candidato local conseguir consolidar o nome, acredita o cientista político, é necessário ter se antecipado junto a opinião pública.

“Não adianta ser um candidato ‘miojo’. Aquele instantâneo que só aparece na campanha. Sem ter um trabalho de base, um reconhecimento pela atuação seja no serviço público ou como voluntário nas comunidades, o tempo de propaganda obrigatória não vai adiantar.”

Discursos quase iguais

Da mesma forma que o eleitor por vezes desconhece a função dos legislativos, alguns candidatos também mostram essa peculiaridade.  Um indicativo disso está nos discursos parecidos durante a campanha. As prioridades do “vou trabalhar” abordam temáticas gerais, com pouca profundidade em termos do que é possível fazer.

“Penso que existe uma comodidade por parte dos postulantes aos legislativos em manterem-se como está. Quanto mais distante melhor. Isso faz com que quem tenha mandato leve uma significativa vantagem em relação aos que iniciam na vida pública.”

Um deputado federal que traz alguma verba para sua comunidade eleitoral é desenhado como um herói, analisa o especialista em marketing político Max Severo. “Na hora de comparar, vem à lembrança que aquele senhor ou senhora trouxe algo que ajudou a vidas pessoas e toma-se uma posição.”

Para ele, mudar essa cultura é difícil. O meio para tanto passa por reforma profunda na legislação eleitoral, com uma discussão ampla com a sociedade para tornar o sistema mais atraente e racional. “Sou a favor de que se crie um modelo de regionalização do voto.

O estado seria dividido em regiões e em cada uma delas seriam escolhidos um número de parlamentares. Esses passariam a atuar em defesa das necessidades das regiões. É o que estão chamando de voto distrital.”

Na análise de Severo, tal mudança traria mais responsabilidade e cobrança tanto para uma escolha consciente do eleitor, quanto para o político eleito. “Hoje é absurdo, por exemplo, um candidato de Uruguaiana fazer votos em Lajeado. Por mais honesto e competente que ele seja, em uma demanda idêntica, a construção de uma rodovia, por exemplo, ele vai defender que seja na sua cidade ou região.”

Diretas Já interferiu na cultura, com mais atenção ao voto para presidente. Créditos: Divulgação

Campanha direcionada à região

Para o filósofo, pesquisador em comportamento político pela PUC/SP, e diretor do Instituto Methodus, José Carlos Sauer, mais do que fazer campanhas para o voto consciente, é preciso estratégias direcionadas. “Se eu fosse candidato, colocaria um selo nos meus materiais, de que sou da região, de que meu compromisso é com a comunidade de determinado local.”

Dessa forma, acredita ser possível diferenciar os candidatos vinculados com a região. Pela pesquisa pré-eleitoral “Desperta, Vale do Taquari”, dos 31,9% dos eleitores que lembram em quem votaram para deputado, 59,2% afirmaram terem escolhido nomes locais. Os motivos vão desde representar os interesses da sociedade do Vale, passando pela elaboração de projetos e pelo envio de verbas públicas aos municípios da região.

“Essa é uma amostragem de que quando o voto é consciente, o eleitor opta por aqueles que estão mais próximos da realidade local. Se a apresentação do político for mais clara, penso que o resultado pode ser melhor.”

Comportamento histórico

Parte da explicação do interesse na eleição presidencial em detrimento à parlamentar está na história, realça o cientista político Rodrigo Drebes Soares. “O Executivo sempre teve um papel predominante. Quando pensamos em políticos, nos vêm à mente figuras como Vargas, Jango, Lula, Bolsonaro. Difícil ter um nome parlamentar.”

Na análise dele, essa representação da imagem do país por meio do presidente se fortaleceu com as “Diretas Já”, movimento iniciado em 1983. Ao longo destes quase 40 anos, se consolidou o chamado “poder de agenda”, em que o presidente tem a prerrogativa de iniciar projetos de lei, de vetar propostas do parlamento e editar Medidas Provisórias e decretos.

Para alguns estudiosos, frisa Soares, existe uma subordinação prática do Legislativo à agenda do Planalto, muito pelo sistema de presidencialismo de coalizão, em que há um complexo jogo de favores e transações entre os dois poderes.

 


Intenção de votos para deputado

Publicada nessa terça-feira, 19 de julho, reportagem trouxe as preferências dos eleitores para os cargos de deputado estadual e federal.

Na entrevista estimulada com nomes de pré-candidatos do Vale do Taquari, os cinco mais lembrados foram: Márcia Scherer (MDB), com 19,2%; Gláucia Schumacher (PP) e Maneco Hassen (PT), ambos com 10,1%; Jonatan Brönstrup (PSDB), com 9,1%; e João Braun (PP), com 6,8%.

O percentual de eleitores que disseram não saber em quem votar foi de 21,8%. Votos em branco com 3,6% e nulos de 5,9%.

Preferências para presidente e governador

A segunda matéria sobre a pesquisa pré-eleitoral foi publicada nessa quarta-feira, 20 de julho, com a preferência dos eleitores da região para presidência da República e governador.

Na estimulada, a liderança ao Palácio do Planalto é de Jair Bolsonaro (PL), com 48,5% das intenções de voto. Lula (PT) está em segundo, com 26,4%. Ciro Gomes (PDT) tem 3,9% da preferência.

Entre os cinco primeiros aparecem ainda André Janones (Avante), com 1,3%. Felipe D’Ávila, do NOVO e Simone Tebet (MDB) com 1%.

Para o Piratini, Eduardo Leite (PSDB) tem 27,7%, seguido de Onyx Lorenzoni (PL), com 21,2%. Em terceiro, Vieira da Cunha (PDT), com 5,5%.

Para fechar os cinco mais lembrados, estão Edegar Pretto (PT), com 5,2% e Luis Carlos Heinze (PP) com 4,2%.

Escolhas para o Senado

A terceira matéria sobre a pesquisa pré-eleitoral “Desperta, Vale do Taquari” foi publicada ontem, com a preferência dos eleitores da região para o Senado.

Também na estimulada, os cinco primeiros são: José Ivo Sartori (MDB), com 23,5%; Ana Amélia Lemos (PSD), com 16,3%, General Hamilton Mourão (Republicanos), com 14,3%; Lasier Martins (Podemos), com 9,1% e Comandante Nádia (MDB), com 7,8%.

Os que disseram não saber correspondem a 17,9% dos eleitores. Votos em branco com 1,6% e nulos de 3,9%.


FICHA TÉCNICA

– Pesquisa pré-eleitoral foi feita pelo Instituto Methodus, entre os dias 12 e 15 de julho;

– Foram entrevistadas 300 pessoas nas cidades de Arroio do Meio, Encantado, Estrela, Lajeado, Taquari e Teutônia, com eleitores de ambos os sexos, idade igual ou superior a 16 anos, de diversas classes sociais e escolaridade;

– O levantamento faz parte do projeto “Desperta, Vale do Taquari” e verifica a intenção de voto para deputado estadual, federal, Senado, governador e presidente dos eleitores da região;

– A margem de erro da pesquisa é de 5,7 pontos percentuais, para mais ou para menos, sobre os resultados obtidos em um intervalo de confiança de 95%;

– A pesquisa está registrada no TSE sob o número: RS-01365/2022.

 


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