Uma pausa entre uma disciplina e outra para meditar e praticar o yoga. Esta atividade, desde o início do ano, faz parte da rotina dos mais de 100 estudantes que frequentam as turmas do 2º ao 5º ano, da Escola Municipal de Educação Básica Esperança, e do Pré I e II, da Escola Municipal de Educação Infantil Tempo de Aprender.
Foi no retorno das atividades presenciais que a Secretaria de Educação, Cultura, Desporto e Turismo decidiu investir na educação emocional de forma mais incisiva e incluiu, em sua grade curricular, um novo projeto intitulado “Em Paz – Criança que medita, desperta fica”.
São 40 minutos de aula com o objetivo de trabalhar habilidades e inteligências socioemocionais, por meio de ferramentas e metodologias de ensino inovadoras, desenvolvendo a cultura da paz. “As crianças estão muito ansiosas e hiperativas. Por vezes, precisam fazer uso de medicamentos. Acreditamos que essa nova metodologia aplicada em sala de aula vai auxiliá-los a se conhecerem melhor e se controlarem de forma natural”, observa a diretora Rogéria Dachery.
Nas competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estão o autoconhecimento e o autocuidado. Práticas que contribuem com essas qualidades são o yoga e a meditação. “O professor inclui também a música, o que torna a prática lúdica e divertida. É um benefício a longo prazo. Por isso que o projeto terá a duração mínima de um ano. A intenção é ajudar as crianças a se fazerem presentes no aqui e agora”, explica a diretora.
A prática se estende a todos os profissionais da rede escolar e, em breve, será oferecida também aos pais. “Buscamos disseminar a técnica do yoga e meditação para a comunidade como um todo. Elas proporcionam autocuidado à saúde. Não é só curar, mas também o prevenir. Conforme estudos, a prática faz bem para a prevenção de algumas doenças, como a ansiedade e depressão”, conclui Rogéria.
“Equilíbrio entre o corpo e mente”
As práticas de meditação e yoga são executadas uma vez por semana com turmas separadas. Dentre as atividades desenvolvidas com os alunos, estão as oficinas de gratidão, mandalas, autoconhecimento e musicalização. O projeto “Em Paz” é coordenado pelo professor Edson Savegnago, que possui vasta experiência na área.
Segundo o professor, as crianças, por natureza, possuem muita energia. Por meio das asanas – diferentes posturas utilizadas no yoga -, ele coloca os alunos a terem uma consciência corporal maior e a gastar essa energia. Com o auxílio de instrumentos musicais, aos poucos, ele conduz as crianças a sentarem, meditarem e relaxarem.
“A criança que entrou na sala de aula agitada, no final da prática, está mais tranquila. Essa condução ocorre aos poucos, é um trabalho a conta gotas”, frisa. Os benefícios são inúmeros, entre eles a calmaria, empatia, generosidade e concentração. Nos fatores psicomotores é possível citar o equilíbrio, coordenação motora, consciência do corpo e flexibilidade.
O professor lembra que as crianças ficaram um tempo sem frequentar a sala de aula. Por isso, a ideia é resgatar a rotina escolar. “A gestão municipal traz em seu lema “o amor move, a educação transforma”. Neste sentido, achamos de grande valia implantar este projeto nas escolas, que vem muito a somar em um mundo pós-pandemia”, explica.
Conforme Savegnago, como ele permanece apenas uma hora por semana com os alunos, o termômetro para avaliar o resultado de seu trabalho são os demais professores. Adriana Gavineski Michelon é professora do 2º ano e acompanha seus alunos nas aulas de yoga desde o início do projeto. Ela já percebe as crianças mais focadas e atentas.
“As técnicas trazem benefícios importantes para aprendizagem e o convívio. Mantém o equilíbrio entre o corpo e a mente. Após a prática, retornam para a sala de aula mais concentradas”, pontua.
Para Savegnago, este projeto só ganha autonomia quando ele é disseminado. Por isso, é de suma importância a parceria entre Secretaria de Educação, comunidade escolar e pais. “Quando eu me conheço, descubro como funciono. Quando as pessoas possuem essa percepção, o mundo se transforma em um lugar sem julgamentos e rótulos. É isso que buscamos com a prática, uma cultura de paz”, finaliza.
Benefícios para aprendizagem e o convívio
Alessandra Dal Ri é mãe de Alice Dal Ri Fachinetto, 9, aluna da 3ª série da EMEB Esperança. Embora o projeto seja recente, já é perceptível algumas mudanças no comportamento da filha. Depois de algum tempo de pandemia e longe das salas de aula, Alice começou a apresentar irritabilidade e medo. As conversas com os amigos por meio de videochamadas não faziam mais sentido.
Alessandra acredita que o retorno presencial, junto a essa nova metodologia de ensino, tem auxiliado de forma significativa para o bom relacionamento da filha com os colegas. “A prática também trabalha a espiritualidade, a elevação do pensamento. Seguidamente ela surge em casa com alguma oração voltada a gratidão. Ela conhece as atitudes positivas e negativas das pessoas e já sabe selecionar o que faz bem ou mal para ela, sem nossa intervenção”, celebra a mãe.
Alessandra comenta que as posturas e movimentos aprendidos em sala de aula são replicados pela filha em casa. Os momentos de relaxamento e a descoberta de novos sons e instrumentos musicais é o que mais desperta a atenção de Alice.
“A vida escolar é um conjunto de vivências importantíssimas que tornarão eles adultos do futuro, com conhecimentos sim, mas também com atitudes construtivas e bons relacionamentos. Por isso, acredito que o projeto é valioso e o que eles aprendem nessas práticas, jamais esquecerão”, conclui.
ENTREVISTA – Cíntia Araldi, psicóloga
“Conhecer a si mesmo é um grande desafio, principalmente nos dias de hoje”
A Hora – Qual a importância de desenvolver o autoconhecimento desde a infância?
Cíntia Araldi – Entendo que o autoconhecimento é a habilidade de compreender e ouvir a si mesmo, conhecer as suas angústias, seus medos, suas fragilidades e as suas potencialidades. No momento que buscamos trabalhar isso na infância, proporcionamos um olhar para si próprio, uma escuta dos desejos e vontades da criança, permitindo que ela se transforme em uma pessoa adulta que sabe lidar com os desafios do dia a dia e com as suas próprias emoções.
Acredito ainda que conhecer a si mesmo é um grande desafio, principalmente nos dias de hoje. Não há uma fórmula exata para conseguirmos criar filhos capazes de compreender seus próprios sentimentos e pensamentos. É preciso de um trabalho diário e contínuo.
• A Hora – O que é o Projeto Inteligência Emocional e qual o propósito?
Cíntia Araldi – É no ambiente escolar que a criança dá continuidade ao processo de individuação, de ser e estar no mundo, mas precisamos pensar também que é nesse processo que a criança precisa desenvolver ferramentas para saber lidar com as diferenças, o respeito, a resolução de conflitos de forma assertiva e também a regulação das emoções.
Acredito que quando trabalhamos com as emoções na escola, o objetivo maior é a prevenção e a geração de fatores de proteção psíquica, a fim de impedir que o problema se instale. Como diz Cortella, “ao olhar para o nosso lado interno, ela pode nos auxiliar na rota do autoconhecimento”. Para ter esse olhar, requer muita atenção, calma e conhecimento e, isso, é o que será proposto em mais este projeto intitulado Inteligência Emocional, desenvolvido nas escolas de Vespasiano Corrêa.
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