Era passado das 15h quando cheguei naquele cantinho aconchegante onde uma mulher bonita, simpática e sorridente me esperava.
Foi um dos poucos dias de clima ameno da semana, e nos sentamos do lado de fora. Acho, agora, que o tamanho daquilo que ela queria me contar era maior do que cabia em quatro paredes. Aquela mulher madura queria colocar pra fora sua história de menina.
Falar de um trauma nunca é fácil. Mas, de alguma forma, ela fez parecer ser. Ela me disse “Eu sei que te contar tudo isso é curativo”. E eu só pude sentir gratidão, responsabilidade e ânsia de conseguir colocar tudo aquilo no papel.
Nessa posição de ouvinte, o mais difícil de tudo é mesmo ouvir. A gente não sabe se pede desculpas, se dá um abraço ou se admira a força. Se estende a mão ou se, simplesmente, fica ali. Ouvindo. Enquanto ela tentava construir os fatos em uma ordem cronológica, parecia sempre lembrar de um novo acontecimento. E eu, a cada novo pedacinho da história, só queria poder dizer para aquela criança de décadas atrás que ela ficaria bem.
Essa mulher simpática carrega muitas cicatrizes. Mas, ao invés de escondê-las, gosta de transformá-las em coragem. Apesar de toda a dor, ela é dona de um dos corações mais bondosos que já conheci. E isso fez com que a vontade de traduzir todo aquele sentimento fosse ainda maior. Queria que todos pudessem ouvi-la. Porque ela, com certeza, vai ouvir quem precisar.
Aquela simpática mulher tem uma história que é preciso, também, ter coragem para ouvir. E muito mais coragem pra escrever. Afinal, contar histórias nunca é fácil. Mas, por aqui, tentamos sempre ser sensíveis. Para que, talvez, as palavras possam abraçar alguém.
Esse papel de ouvinte é o que a Júlia Amaral e eu tentamos fazer por aqui. E, agora, esse espacinho do caderno carrega, também, as palavras e o jeito sensível dela, que vai dividir comigo esse espaço. Na semana que vem, o “bastidores” da reportagem traz uma nova história contada pela Júlia.
Boa leitura!