A cena violenta de um procurador agredindo sua colega em São Paulo, nesta semana, me trouxe a esta reflexão. No mês passado, encontrei um homem que tinha me ofendido nas redes sociais nas eleições de 2018. Olhei bem em seus olhos, cumprimentei e mandei a minha mensagem silenciosa: que vergonha, hein? Ele deu um sorrisinho amarelo e não falou nada.
Saindo de sua bolha virtual, não teve coragem de me enfrentar cara a cara. Porém, se esse encontro fosse naquele ano da disputa eleitoral, talvez tivesse tentado me bater, tamanha era a raiva em suas palavras escritas.
Esse valentão era dos que escreviam abertamente, mas também tive que lidar com os que enviavam mensagens privadas para me intimidar e que em público fingem decência. Cabe esclarecer que, como vivemos numa democracia, decidi publicizar a minha opinião naquela época e dizer em qual candidato eu não votaria de jeito nenhum. Expus, educadamente, as minhas razões.
Entretanto, não respeitando as regras democráticas, espumaram ódio contra mim. Não conseguiam argumentar de forma racional e queriam me obrigar a gostar do candidato deles. Fui muito xingada… Afinal, o patriarcado odeia uma mulher que não abaixa a cabeça e eu já tinha sido ousada em assumir uma profissão que muitos pensam ser masculina. Como ousava quebrar as regras machistas novamente?
Daí, após 2018, quando me manifesto para defender o meio ambiente, os direitos das mulheres, denunciar a tortura, o preconceito e tantas atrocidades, continua aquela avalanche de comentários de ódio. Afinal, sou uma inimiga na cabeça deles.
Nos perfis dessas pessoas violentas, há variados autoelogios. Os mais comuns é que são honestas e de bem. Também dizem que possuem a família correta, sua religião é a que vale e só elas valorizam a Pátria. Quem não compartilha de sua visão de mundo é escória.
Imagino como educam seus filhos: “crianças, se alguém discordar de vocês, ofendam e batam.” Também penso muito sobre como é o Deus dessa gente que defende tortura e não o amor. E que Pátria querem? Se não conseguem nem respeitar uma opinião política, deduzo que é uma “Pátria” onde não há respeito à dignidade humana, às individualidades e nem às instituições, que despreza a democracia.
Essa experiência relatada não é minha exclusividade. Muitos passaram por situações idênticas e outros, inclusive em nossa região, sofrem mais ataques incivilizados do que eu. 2022 chegou para mais uma eleição e muito tenho ouvido falar que o Brasil está polarizado.
No entanto, concluo que a única polarização que existe é a da civilidade contra a barbárie. Que vença a civilidade! O restante faz parte do jogo democrático e se decide nas urnas eletrônicas!
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