As cotas de gênero ajudam ou atrapalham no processo democrático? Quatro mulheres, todas com importante envolvimento político na região, procuraram responder a esta pergunta em debate promovido pela Rádio A Hora na tarde de ontem, 23. Entre todas, a opinião era a mesma: houve avanços nos últimos anos, mas a representativade feminina pode e precisa aumentar.
O debate faz parte do projeto “Pensar Eleições 2022 – Desperta Vale do Taquari”, promovido pelo Grupo A Hora em parceria com a Univates. A iniciativa visa conscientizar o eleitor sobre a importância da região voltar a ter representantes genuinamente locais, tanto na Assembleia Legislativa quanto no parlamento federal.
Participaram do debate a ex-vereadora e ex-prefeita de Lajeado, Carmen Regina Pereira Cardoso, a ex-vereadora e ex-secretária de Educação de Lajeado, Eloede Conzatti, a ex-vereadora e ex-secretária de Saúde de Teutônia, Mareli Vogel e a vereadora em exercício e presidente do PSDB em Lajeado, Paula Thomas. Além de abordarem a temática das cotas de gênero em eleições, as quatro convidadas também recordaram momentos das trajetórias pessoais e políticas.
Lembraram de desafios e dificuldades na inserção no mundo político, do machismo enfrentado em determinadas situações e também aconselharam e encorajaram mulheres a participar do processo político e buscar o protagonismo.
Candidaturas reais
Hoje, a legislação eleitoral prevê que cada partido ou federação partidária preencha o mínimo de 30% e o máximo de 70% de candidaturas de cada sexo. Nas eleições passadas, situações de fraude foram verificadas, com supostas candidaturas fictícias em Lajeado apenas para preencher a legenda.
Carmen acredita que é dever dos partidos não aceitarem candidaturas “impostas” e devem trabalhar pelo protagonismo destas. “As siglas tem a obrigação de esclarecer e estimular as mulheres a participarem e a concorrerem, e não apenas colocá-las para tapar furo. Tem que agregar elas, trabalhar com antecedência sobre quais os compromissos, o que faz uma vereadora, deputada”, cita.
Diálogo com a sociedade
Eloede entende que a participação da mulher na política seja necessária inclusive pela sua natureza e também avalia a facilidade de diálogo com diferentes segmentos e camadas da sociedade. “Ela conversa mais sobre assuntos que dizem respeito com toda a sociedade e o meio familiar, seja na educação, na saúde, na parte da alimentação. Tem mais diálogo para isso e até demora mais para ter resposta porque pensa mais e estuda mais até chegar nas decisões”, pontua.
Carmen salienta que a mulher tem características importantes para contribuir no debate político, sobretudo em um cenário conturbado como o atual, de polarização. “Ela é mais ética, humana e não visa tanto o cifrão. Elas precisam ser estimuladas a participar. Os maridos muitas vezes não fazem questão que elas se envolvam”.
Estimulo das lideranças
Paula hoje é uma das duas vereadoras mulheres em Lajeado, num universo de 15 parlamentares. Se diz feliz por atuar em um Legislativo onde os homens a respeitam e dão espaço. Mas também já enfrentou situações consideradas constrangedoras. Atribui o fato à ignorância, pela pessoa em questão não ter conhecimento do que falava.
Primeira mulher a presidir o PSDB na cidade, acredita que ocupar cargos de liderança estimula outras mulheres a seguirem o mesmo caminho. “Nós começamos a ganhar e ocupar esses espaços. Posso dizer que houve uma procura maior de interessadas em se filiar ao partido justamente porque elas se sentem mais confortáveis em ver que existe uma liderança feminina”, ressalta.
Desafios ao futuro
Como ponto de partida para ingressar na vida política, Mareli incentiva mulheres a participarem mais de reuniões e se impor nos debates. “Ela precisa fazer parte dos comandos de partido, dos diretórios e das executivas”, afirma.
A descrença à política, por outro lado, também é um desafio a ser superado, conforme Eloede. “Temos que desmistificar que é uma coisa ruim, que só tem falcatrua.”
Já Paula destaca a importância de mulheres votarem em candidaturas femininas, o que aumenta as chances de ocuparem os espaços. “Começamos a ver um movimento assim nas entidades, universidades. A Acil elegeu a segunda presidente. A Univates tem a primeira reitora. Precisamos ocupar esses espaços também”.