A ala obscura da imprensa

Opinião

Ardêmio Heineck

Ardêmio Heineck

Empresário e consultor

Assuntos e temas do cotidiano

A ala obscura da imprensa

Já me vali muito de uma imprensa linearmente verossímil, na década de 1990, residente em Porto Alegre, como executivo estadual de empresa de expressão nacional.

Chegava ao gabinete pelas 8h com três jornais (de expressão estadual e nacional) lidos e meu primeiro despacho era com a assessora de comunicação, para saber a sinopse da mídia restante.

Os conteúdos subsidiavam nossas decisões e atitudes, porque confiáveis e não pautados por interesses comerciais de patrocinadores e anunciantes, muito menos pela militância política de articulistas, apresentadores e editores.

Hoje já não sinto o mesmo. Pelo contrário. Jornais, noticiários de rádio e de televisão, de repercussão estadual e nacional, há alguns anos me causam asco e revolta.

Deixaram de ser e de proporcionar momentos de deleite e de informação, transformando-se em algozes do equilíbrio emocional das pessoas. Perderam, rapidamente, credibilidade e, por conseguinte, massivamente, leitores, telespectadores e ouvintes.

Esta postura de segmentos da imprensa iniciou, em escala expressiva, no segundo mandato de Brizola como governador do Rio de Janeiro (década de 1990). Eu ia muito para aquele estado profissionalmente, à época e via certo grupo de mídia criticar, de forma contumaz, o governador, levando Brizola a publicar extensos e repetidos “a pedidos” no jornal daquela rede, na tentativa de se defender e de relatar os fatos reais.
A mesma rede repetiu o feito com Lula, no seu primeiro mandato como presidente da República.

Compulsoriamente, dava realce, quase que unicamente, a notícias contra seu governo, a ponto de Lula, em diversas ocasiões, ocupar rede nacional a fim de pronunciar-se e transmitir ações do seu governo como, de fato, haviam acontecido.

Coincidentemente, o jogo mudou após a renovação da sua concessão jornalística pelo governo federal e o substancial aumento de anúncios publicitários e patrocínios da União, e de estatais por ela controladas.

Contemporaneamente, a gota d’água foi a forma tendenciosa e desprovida do verdadeiro espírito jornalístico, como redes nacionais e estaduais trataram da covid-19. Apavoraram e condicionaram a população, ao invés de bem orientá-la, movidas, sabe-se lá, por quais interesses escusos – ideológicos e comerciais.

Apesar de delicada, tive a convicção de fazer esta abordagem quinta passada, ao ler esta manchete, de articulista de um jornal estadual: “No Brasil de Bolsonaro, perturbar garimpo ilegal pode ter pena de morte”.

Tentava “colar” no presidente da República o desaparecimento trágico, no Vale do Javari, Amazônia, do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Importante lembrar a esta articulista, contumaz opositora do presidente da República que, em 2005 – Governo Lula – a missionária norte-americana Dorothy Stang também foi assassinada naquela região, em Anapu (PA), numa emboscada. Por coincidência, ela encabeçava um projeto contra o desmatamento e a grilagem de terras.

Esses exemplos validam a contrariedade – minha e de milhões de brasileiros – com esta ala obscura da imprensa que, ignorando seu dever de bem informar, vem desinformando o povo brasileiro e a opinião pública mundial, a respeito do nosso querido Brasil.

Um acinte à liberdade de imprensa, porque o fazem por ideologia ou porque o governo federal, corretamente, não atende aos seus interesses pecuniários. Mesmo que, com isto, podem levar à instabilidade política, econômica e social.

Se corretamente informada, a população formaria um entendimento político crítico e real para decidir seu voto, eixo fundamental da democracia. Seria a hora de um marco regulatório para a imprensa, resgatando a sua histórica função de bem informar?


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